“E, embora
tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram nele, para se cumprir a
palavra do profeta Isaías, que diz: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a
quem foi revelado o braço do Senhor? Por isso, não podiam crer, porque Isaías
disse ainda: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam
com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim
curados” (Jo 12.37-40).
Esta passagem é tomada de Isaías 6.9, onde o Senhor adverte o profeta, dizendo que o labor que ele gasta na instrução não levará a nenhum outro resultado senão em fazer o povo pior. Antes de tudo ele diz: “Vai, e dize a este povo: Ouvindo, ouvis, e não ouvis; como se quisesse dizer: “Eu te envio a falar a surdos”. Em seguida ele agrega: “Endurece o coração deste povo”. Com estas palavras ele tem em vista que sua intenção é fazer de sua palavra uma punição aos réprobos, a fim de fazê-los totalmente cegos, e para que sua cegueira os mergulhe em trevas ainda mais profundas. Este é um terrível juízo de Deus, quando esmaga os homens pela luz da doutrina, de tal maneira que os priva de todo entendimento; e quando, mesmo por meio daquilo que é sua única luz, ele derrama trevas sobre eles.
Mas, é preciso
observar-se ser acidental à Palavra de Deus o fato de ela cegar os homens; pois nada pode ser mais inconsistente do que não
haver diferença entre verdade e falsidade, que o pão da vida se converta em peçonha
mortífera, e que a medicina agrave a doença. Mas isto deve ser atribuído à
perversidade humana, a qual converte a vida em morte. É preciso observar-se
ainda que alguma vezes o Senhor, de sua própria iniciativa, cega as mentes dos
homens, privando-as de juízo e entendimento; algumas vezes isso provém de
Satanás e dos falsos profetas, quando as embrutecem por meio de suas
imposturas; algumas vezes quando também se faz isso por meio de seus ministros,
quando a doutrina da salvação lhes é injuriosa e mortífera. Mas, conquanto os
profetas labutem fielmente na obra de instrução, e confiem no Senhor o
resultado de seu labor, ainda que não sejam bem sucedidos como gostariam, não
devem desistir ou dar vazão ao seu desânimo. Ao contrário, que fiquem
satisfeitos em saber que Deus aprova seu labor, ainda que este seja inútil aos
homens, e que mesmo o aroma da
doutrina, que os perversos convertem para si próprios em algo mortífero, “é bom
e agradável a Deus”, como testifica Paulo (2Co 2.15).
Na Escritura,
algumas vezes o coração é expresso
pela sede dos afetos, aqui, porém, como em muitas outras passagens, ele denota
o que se denomina a parte intelectual da alma. Moisés fala com o mesmo propósito:
“Deus não vos tem dado um coração para entender” (Dt 29.4).
Deus nos
abençoe!
João
Calvino (1509-1564).
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