Dave Harvey
A conclusão do sermão é um momento perigoso para o pregador. Ele
acabou de passar entre 30 e 45 minutos em um dilúvio expositivo, descarregando
seu estudo e seu zelo sobre a congregação. As 10-20 horas de preparação para o
sermão já são história antiga e ele já entrou em seu carro para voltar para
casa. É provável que ele esteja exausto - emocionalmente, espiritualmente e
fisicamente. Se você é vocacionado para pregar,
você entrega tudo no púlpito. Já passei por isso. E no decorrer dos
últimos 30 anos, eu aprendi algumas valiosas lições sobre o que eu devo e não
devo fazer depois de um sermão. Aqui estão três lições essenciais:
Espere ser atacado
Aquiete a sua alma
Não pesque
Conclusão
Tradução: Francisco Brito
Revisão: Vinicius Musselman
Espere ser atacado
Pregar é arrumar briga com o Inimigo a cada semana. Paulo disse
aos Coríntios: “... aprouve a Deus salvar pela loucura da pregação os que
creem” (1 Coríntios 1.21). Isso significa que eles são arrebatados do “príncipe
das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência”
(Efésios 2.2). O ponto que quero enfatizar é que Deus usa a pregação como um
meio de mudar as pessoas - arrancá-las do domínio do Inimigo. O lado negro tem uma opinião sobre essa atividade: ela
precisa ser parada. Não seja ingênuo em pensar que após entregar a mensagem,
você não sairá da mira dele. A preparação da mensagem – com o estudo da
Escritura, meditação e oração – tem benefícios de proteção. Depois do sermão,
você está tipicamente esgotado e vazio. Em outras palavras, você está
vulnerável a um ataque aéreo. A carne também está trabalhando duro. A
pregação suscita a tentação. De um lado está o orgulho de como Deus está o
usando e do outro, a condenação porque Deus não o está. Além disso, há o
problema da própria mensagem, na qual você falou muitas palavras sabendo que
“na multidão de palavras não falta pecado” (Provérbios 10.19). Quando os
homens pregam, há abundância de falhas. Se você já pregou por qualquer
período de tempo, você sabe que toda mensagem tem alguns defeitos. Bem, essas
fraquezas se tornam realmente intimas depois da pregação, batendo na sua porta
para fazer uma visita. Não abra a porta! Elas irão invadir sua casa, perturbar
sua paz e tingir toda a mensagem diante de seus olhos. Você se sentirá burro,
condenado, como se o sermão inteiro não prestasse. Há tempo e lugar para
tudo debaixo do sol. Avaliar o seu sermão imediatamente depois da entrega fará
com que você o odeie. Depois de pregar, você precisa se preparar para os
ataques do Inimigo e da carne. Assim como os soldados se preparam para a
ofensiva do inimigo, você precisa se preparar para ser atacado. Antes,
durante e depois dos ataques, corra para as boas novas do Evangelho. Compreenda
que a pregação é sobre o poder da Palavra de Deus, não de suas próprias
palavras. Lembre-se que jamais houve um sermão pregado na história do mundo que
fosse tão ruim que pudesse drenar o poder da Palavra de Deus. Deus é grande o
suficiente para fazer com que as pessoas se lembrem das palavras eternas dele e
se esqueçam de suas palavras tolas. Você realmente crê que os propósitos de
Deus dependem da qualidade da sua pregação? Não é isso o que você prega. Após a
mensagem é sua hora de aplicar a mensagem à sua vida. Depois de pregar,
prepare-se para o ataque, lembrando que Deus é maior que os seus erros.
Aquiete a sua alma
Quando você estiver sendo atacado, sua alma estará barulhenta.
Pensamentos de acusação darão pancadas na porta da sua mente, exigindo atenção.
Ou talvez sejam ideias que inflam o ego, que elevam a sua vaidade às alturas e
você acaba pensando sobre si mesmo “além do que convém” (Romanos 12.3). Em
momentos assim, você precisa aquietar a sua alma. Aquiete a sua alma confiando a Deus os resultados de seu
sermão. Aquiete a sua alma fixando os seus pensamentos em Deus, não em seu
desempenho. Se você se sente orgulhoso, lembre-se de que sua mensagem é
insignificante, a menos que Deus a faça poderosa. Se você se sente condenado,
lembre-se de que a Palavra do Senhor não volta vazia (Isaías 55.11). Seu sermão
realizará exatamente o que Deus deseja. Felizmente, você não pode frustrar os
bons planos do Senhor! Você precisa ignorar os ataques que está
experimentando e fixar sua mente nas coisas do alto (Filipenses 4.8). O melhor
conselho para um pregador enquanto ele dirige depois de sair do culto da igreja
é: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmo 46.10). Fazer isso mantém
tanto as críticas quanto os elogios no lugar certo. Uma vez que você
entregou o seu sermão a Deus, descanse a sua mente. Faça algo para se distrair.
Eu preciso de pelo menos 2 ou 3 horas para me recompor depois de um sermão. Eu
passo esse tempo lendo, assistindo um programa ou até mesmo dormindo. Quando os
meus filhos eram mais novos, eu fazia, às vezes, algo com eles que me
distraísse e revigorasse. Alguém certa vez disse que pregar um sermão é
equivalente a 8 horas de trabalho manual. Não tenho certeza se isso é verdade,
mas é, sem dúvidas, assim que eu me sinto! O objetivo é levar seu corpo e sua
alma a se recuperarem para que estejam prontos para a próxima mensagem.
Não pesque
Como a pregação incita tanto a acusação quanto a admiração, você
será tentado a pescar elogios. Você fará perguntas indutivas projetadas para
extrair respostas positivas - uma forma de energético identitário. Eu já fiz
isso vezes demais. Há poucas coisas tão superficiais quanto um elogio
solicitado, exceto, talvez, quando você está pescando elogios e acaba pegando
uma crítica que entorta a sua vara. É útil lembrar que quando vai pescar, você
frequentemente não sabe o que pode pegar. O problema mais profundo por trás dessa expedição de pesca é que
nós somos muito focados na entrega. Queremos saber que impressão causamos, qual
foi a “sensação”, como se houvesse um barômetro para medir o que Deus estava
realmente fazendo ou o que fará. Sentimos a necessidade de nos apoiarmos na
aprovação e no elogio dos outros em vez de nos confiarmos a Deus. É bom
lembrar-se que a maioria dos pregadores recebe mais encorajamento em um mês do
que outros profissionais recebem em uma década. Não pesque. E quando o
encorajamento vier, transfira a glória para Deus. E, por favor, não ouça o
seu próprio podcast, seu próprio sermão. A razão é a seguinte: você é
irremediavelmente subjetivo quando se trata de avaliar o próprio sermão. Você
dedicou entre 15 e 20 horas à preparação, o que significa que a objetividade
saiu da sala há dias. Se você realmente quer ajuda, escolha alguns pregadores
experientes e membros confiáveis que não anseiam por sua aprovação e recrute
sua ajuda para darem opiniões construtivas. Depois os agradeça por isso,
independentemente do que disserem.
Conclusão
Charles Spurgeon, possivelmente o maior pregador dos últimos 300
anos, fez a famosa declaração: “Faz muito tempo que eu não prego um sermão com
que fico satisfeito. Eu mal consigo lembrar-me se isso já aconteceu”. E
ele era conhecido como “O Príncipe dos Pregadores”! Se Spurgeon se encontrava insatisfeito com seus sermões,
é seguro dizer que meros mortais como você e eu nos encontraremos numa posição
semelhante. Que estejamos preparados para esses momentos.
Tradução: Francisco Brito
Revisão: Vinicius Musselman