"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



segunda-feira, 22 de abril de 2024

“SE POSSÍVEL, QUANTO DEPENDER DE VÓS”


“SE POSSÍVEL, QUANTO DEPENDER DE VÓS”

“Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm  12.18).

A paz de espírito e uma vida bem ordenada, que nos granjeiem a admiração de todos, não são dotes comuns numa pessoa cristã. Se porventura nos devotarmos a esta aquisição, seremos dotados não só da mais excelente integridade, mas também do mais excelente espírito de cortesia e da mais doce natureza. E assim conquistaremos não só o que é justo e bom, mas também provocaremos a transformação dos corações dos incrédulos.

Entretanto, duas palavras devem ser aqui pronunciadas como advertência. Que não nos esforcemos por conquistar o favor humano de maneira tal que nos esquivemos de incorrer no ódio de alguém por amor a Cristo, como às vezes se faz necessário. Naturalmente existem alguns que, ainda que mereçam a admiração universal em razão de suas maneiras excelentes e paz de espírito, não obstante são odiados até mesmo por seus familiares mais íntimos por causa do evangelho. A segunda precaução consiste em que essas excelentes qualidades não devem degenerar-se em excessiva condescendência, e assim, em nome da preservação da paz, transigimos excessivamente os pecados dos homens. Visto, pois, que nem sempre nos é possível manter a paz com todos os homens, ele adicionou duas frases exceptivas: se possível e quanto depender de vós. Teremos que determinar qual exceção é a base do dever requerido pela piedade e pelo amor, para que não venhamos a violar a paz, a não ser que sejamos compelidos por uma ou outras dessas duas causas. É conveniente que toleremos muito, perdoemos as ofensas e voluntariamente suportemos o extremo rigor da lei por amor à paz, contanto que estejamos preparados para a luta corajosamente, como as vezes nos é requerido. Os soldados de Cristo não podem gozar de perene paz com o mundo, porquanto este é governado por Satanás.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

“AMAI-VOS CORDIALMENTE”


“AMAI-VOS CORDIALMENTE”

“Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12.10).

Não há palavras suficientemente eloquentes com as quais o apóstolo Paulo pudesse expressar o ardor daquela afeição que deve impulsionar-nos ao amor recíproco. Ele se refere a esse ensinamento como sendo amor fraternal, e diz que o mesmo produz uma afeição muitíssimo cândida, significando aquele amoroso respeito que existe no seio da família. Este, sem dúvida, deve ser o tipo de amor que conferimos aos filhos de Deus. Com este propósito em vista, Paulo adiciona um preceito que é de extrema necessidade caso o bem deva triunfar, ou seja: que cada um deve preferir a seus irmãos em honra. Não há veneno mais letal para arrefecer as afeições do que alguém imaginar-se desprezado. Não questiono muito se vocês preferem entender esta honra no sentido de toda sorte de bondade, mas prefiro a primeira interpretação. Como não há nada mais contrário à harmonia fraternal do que o desdém que nasce do orgulho, quando alguém tem os demais em menos estima do que ele próprio, assim a modéstia, pela qual cada um traz honra aos demais, nutre muito mais o amor.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“O AMOR SEJA SEM HIPOCRISIA”


O AMOR SEJA SEM HIPOCRISIA”

“O amor seja sem hipocrisia. Detestai o que é mau, apegando-vos ao que é bom” Rm 12.9).

Propondo agora dirigir nossa atenção para os deveres particulares, o apóstolo Paulo começa apropriadamente com o amor, o qual é o vínculo da perfeição (Cl 3.14). Nesse respeito, ele prescreve o princípio muitíssimo necessário de que toda e qualquer dissimulação deve ser de todo desfeita, e que o amor deve proceder de uma sinceridade pura do espírito. É algo difícil de se expressar quão engenhosos quase todos os homens são em dissimular um amor que na verdade não existe neles. Ao tentarem persuadir-nos de que possuem um verdadeiro amor por aqueles a quem não só negligenciam, mas na verdade também rejeitam, estão enganando não só aos demais, mas também a si próprios. Portanto, ele declara, aqui, que o único amor que merece o nome é aquele que se acha isento de toda e qualquer dissimulação. Qualquer pessoa pode facilmente julgar se porventura possui algo nos recessos de seu coração que seja contrário ao amor. As palavras mau e bom, que vêm imediatamente no texto, não têm um sentido geral. Mau significa aquilo que é injusto e malicioso, que causa ofensa aos homens; e bom é a bondade que os assiste. É uma antítese muito comum nas Escrituras proibir primeiro os pecados, e recomendar em seguida as virtudes contrárias. E quando Paulo diz “detestai o que é mau”, na minha opinião ele deseja expressar algo mais, e a força do termo, “desviai-vos ou fugi corresponde melhor à clausula oposta, onde ele nos convida não só a diligenciarmo-nos na prática do que é bom, mas também prosseguirmos nesta conduta.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 19 de abril de 2024

"FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM, CONFORME A NOSSA SEMELHANÇA"

"FAÇAMOS O HOMEM À NOSSA IMAGEM, CONFORME A NOSSA SEMELHANÇA"

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:26,27).

“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8.29).

Jesus Cristo é a exata expressão do ser de Deus (Hb 1.3), e o amor é a primeira de suas características mais apreciáveis. Sermos criados à sua imagem, conforme a sua semelhança, amar como ele nos amou é o que melhor nos caracteriza como filhos de Deus. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos; devemos amar até mesmo os nossos inimigos, pois Deus nos amou quando ainda éramos seus inimigos (Rm 5.8-11). Se Deus nos tratasse no estrito exercício da sua justiça, nós seríamos todos condenados à morte eterna. Mas Deus nos amou, ele executou a sua justiça em seu próprio Filho, "para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus" (Rm 3.26).

Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).

*Notem alguns versículos demonstrando a importância do amor como característica dos filhos de Deus.

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Co 13.4-8).

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor” (1Co 13.13).

“Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14).

“Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mt 22.38-40).

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; Mas eu digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem” (Mt 5.43,44).

Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1Jo 3.11,12).

“Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si. Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.14-16).

Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor. Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1João 4.7-12).

“E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor. Nós amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disser: Amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ora, temos, da parte dele, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão” (1Jo 4.16.21).

O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm 12.9,10).

“Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1Pe 4.8).

“Como o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço” (João 15.9,10).

E também faço esta oração: que o vosso amor aumente mais e mais em pleno conhecimento e toda a percepção, para aprovardes as coisas excelentes e serdes sinceros e inculpáveis para o Dia de Cristo, cheios do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fp 1.9-11).

Deus nos abençoe!

Pr. José Rodrigues Filho

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terça-feira, 16 de abril de 2024

“GIDEÃO, BARAQUE, SANSÃO E JEFTÉ”


GIDEÃO, BARAQUE, SANSÃO E JEFTÉ”

“E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté” (Hb 11.32).

Como era de se temer que ao referir só a uns poucos exemplos, o escritor de Hebreus parecesse estar limitando as maravilhas da fé a umas poucas pessoas, ele se antecipa e diz que não concluiria se quisesse deter-se em cada exemplo, visto que, as descrever uns poucos, ele está a referir-se a toda a Igreja de Deus. Antes, ele fala do período que transcorreu entre Josué e Davi, quando o Senhor levantou os juízes para governarem o povo, tais como os quatro que menciona: Gideão, Baraque Sansão e Jefté. Certamente era algo estapafúrdio que Gideão, com trezentos homens, atacasse o imenso exército de seus inimigos; e ao esmagar os cântaros com suas mãos, parecia mais brincadeira de crianças. Baraque estava longe de equiparar-se a seus inimigos, e foi governado pelo conselho de uma mulher singular. Sansão era um camponês que não recebera nenhum treinamento para o uso de quaisquer armas, a não ser os implementos agrícolas; o que poderia ele fazer contra conquistadores tão experimentados, por cujo poder todo o povo havia subjugado? Quem, a princípio, não haveria condenado os feitos de Jefté como sendo temerários, quando declarou que seria o vingador de seu povo, cuja esperança já se esboroara? Visto que todos esses tomaram a Deus como seu Guia, e sendo encorajados por sua promessa empreenderam uma tarefa que lhes fora ordenada, foram honrados com a evidência do Espírito Santo. Tudo quanto fizeram, e que era digno de louvor, o apóstolo atribuiu à fé, ainda que não houve entre eles nenhum cuja fé não haja fraquejado. Gideão foi mais lento em empunhar as armas do que deveria ter sido, e só com muita dificuldade aventurou-se a confiar-se a Deus. Baraque hesitou no início, de modo que quase precisou ser compelido pelas censuras de Débora. Sansão caiu vítima dos fascínios de sua amante e inconsideradamente atraiçoou sua própria segurança e a de todo o seu povo. Jefté, precipitando-se em fazer um voto tolo, e foi hiperobstinado em pô-lo em vias de fato, e desse modo consorciou uma admirável vitória com a morte de sua própria filha. Em todos os santos sempre haverá de encontrar-se algo repreensível. Não obstante, ainda que a fé seja imperfeita e incompleta, ela não cessa de ser aprovada por Deus. Não há razão, pois, para que os erros sob os quais laboramos nos derrotem, ou nos desencorajem, contanto que pela fé sigamos adiante no curso de nosso chamamento.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 11 de abril de 2024

“CHEIO DO ESPÍRITO”: Diferença entre Atos 2.4 e Efésios 5.18


“CHEIO DO ESPÍRITO”: Diferença entre Atos 2.4 e Efésios 5.18

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (At 2.4). “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

Em Atos capítulo 1 versículo 5, lemos que o nosso Senhor disse aos discípulos que eles seriam “batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”. Então, em Atos 2, obtemos o cumprimento desta promessa. O interessante é que Atos 2, onde nos é dado um relato de como os primeiros discípulos e apóstolos foram batizados com o Espírito Santo, o termo “batismo” não é usado; somos informados que “todos foram cheios do Espírito Santo”, e esse é o termo que geralmente é usado depois.

Isso tende a levar à confusão – as pessoas chegam à conclusão de que, toda vez que você se deparar com a frase “cheio do Espírito”, necessariamente terá que significar exatamente a mesma coisa. E é assim que muitas pessoas ficam totalmente confusas com o que lemos em Efésios 5.18: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito”. Agora veja isto, os discípulos ficaram cheios do Espírito no Dia de Pentecostes. Assim, essas pessoas tendem a cair no erro e na confusão de imaginar que essas coisas são idênticas.

O problema aqui é uma falha de entender o ensino do Novo Testamento sobre a obra e o modo de operação do Espírito Santo. Ele cumpre várias funções; elas incluem convicção e, particularmente, a regeneração. Mas ele também faz o trabalho de nos santificar: é o Espírito quem nos santifica através da verdade. Além disso, ele tem um grande papel nos assuntos da segurança, da certeza e, com isso do testemunho, do testificar, do mistério e da obra. Ora, as funções do Espírito Santo devem ser diferenciadas, caso contrário, haverá confusão interminável.

Assim, parece-me (e sempre foi reconhecido pelos grandes tratamentos clássicos deste assunto na doutrina da pessoa e da obra do Espírito Santo) que seu trabalho pode ser dividido da seguinte forma: sua obra regular e sua obra excepcional – ou se você preferir em uma linguagem diferente, sua obra indireta e sua obra direta.

Agora esta divisão na obra e operação do Espírito Santo é de grande importância. Talvez eu possa ilustrar isso de novo para você falando sobre avivamentos religiosos. O Espírito Santo está na igreja hoje e ele faz uma obra regular nela, embora estes sejam os dias das pequenas coisas. Mas não devemos desprezar esses dias porque, afinal de contas, o que está acontecendo é a obra do Espírito Santo. É isso que quero dizer com sua obra regular. Mas no momento em que você começa a ver os avivamentos religiosos, notamos que estes se sobressaem na história da igreja. Eles ainda são a obra do Espírito Santo, ele é ainda o operador, mas agindo de uma maneira excepcional e incomum.

Ou, considerando minha outra classificação, que é, talvez, para nosso propósito imediato, a mais importante das duas – o Espírito Santo normalmente trabalha através de meios. É isso que tenho em mente quando digo que sua obra é “indireta”. É o Espírito Santo quem nos deu a Palavra, e seu ministério regular, seu trabalho ordinário (se alguém pode usar tal termo em relação ao Espírito Santo) é lidar conosco através das Escrituras. Ele ilumina a mente, nos dá compreensão, abre as Escrituras para nós, usa o mestre ou o pregador, e assim por diante. Agora, mesmo que essa obra seja mais ou menos indireta, é simples e claro – esse é o centro de toda essa doutrina do batismo com o Espírito Santo – que o Espírito também trabalha e opera de maneira direta.

Eu quero tentar mostrar-lhes, portanto, que a maneira de evitar esta confusão de assumir que cada vez que você encontrar a expressão “cheio do Espírito” significa exatamente a mesma coisa, é observar o contexto e ver o que o escritor está falando. Em Efésios 5.18, como eu quero mostrar a você, ele está lidando com a santificação, e isso é mais ou menos sua obra regular, e, portanto, não tem nada a ver diretamente com toda essa questão de ser capaz de definir o que se entende por batismo com o Espírito Santo. Eu quero sugerir que um homem pode ser cheio do Espírito de maneira regular, nos termos de Efésios 5.18, e ainda não ser batizado com o Espírito de forma excepcional, direta e incomum, como vemos em Atos 2.

Deus nos abençoe!

Pr. Martyn Lloyd-Jones

*Extraído do livro “O batismo e os dons do Espírito: Poder e renovação segundo as Escrituras” –  Carisma Editora.

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sexta-feira, 5 de abril de 2024

“PAZ SEJA CONVOSCO!”

“PAZ SEJA CONVOSCO!”

“Falavam ainda estas coisas quando Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “Paz seja convosco!” (Lc 24.36).

Repentinamente, Jesus apareceu entre os discípulos e disse: “Paz seja convosco!” Esta foi uma palavra maravilhosa, quando pensamos quem foram os homens que as ouviram. Foram dirigidas aos discípulos que três dias antes haviam abandonado seu Senhor. Eles quebraram promessas e esquecido sua confissão de estarem prontos para morrer por causa de sua fé. Todos eles se mostraram medrosos e covardes. Mas, assim mesmo, vejam a maneira como o Senhor os reencontrou. Ele não veio com palavra de reprovação ou qualquer censura. Com calma e tranquilidade, o Senhor Jesus apareceu entre eles e começou a falar-lhes sobre paz: “Paz seja convosco!”

Estamos diante de mais uma prova do amor que “excede todo o entendimento”. Cristo Jesus está mais disposto a perdoar do que os homens a serem perdoados e mais disposto a conceder perdão do que os homens em recebê-lo. No coração do “Bom Pastor” existe infinita misericórdia. Onde está o desgarrado que, embora esteja muito distante de Deus, precise ter receio de retornar? O Senhor Jesus está pronto a restaurar e levantar o pior dos pecadores. Onde encontramos o crente professo que não deva ser perdoador para com seus irmãos? Os discípulos do “Príncipe da Paz”, cujas palavras foram tão cheias de paz, devem ser pacificadores e dispostos a perdoar uns aos outros.

“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos” (Cl 3.12-15).

Deus nos abençoe!

J.C.Ryle

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segunda-feira, 1 de abril de 2024

sexta-feira, 22 de março de 2024

“QUEM MORREU ESTÁ JUSTIFICADO DO PECADO”


QUEM MORREU ESTÁ JUSTIFICADO DO PECADO”

“Porquanto quem morreu está justificado do pecado” (Rm 6.7).

Este é um argumento derivado da natureza inerente ou efeito da morte. Se a morte destrói todas as ações da vida, então nós, que já morremos para o pecado, devemos cessar com aquelas ações que o pecado exerce durante a trajetória de sua existência [terrena]. O termo justificados, aqui, significa libertados ou recuperados da escravidão. Assim como o prisioneiro que é absolvido da sentença do juiz, se vê livre do vínculo de sua acusação, também a morte, livrando-nos desta presente vida, nos faz livres de todas as nossas responsabilidades.

Além do mais, embora este seja um exemplo que não pode ser encontrado em parte alguma entre os homens, contudo não há razão para considerar esta afirmação como uma especulação fútil, nem razão para desespero por não nos acharmos no número daqueles que crucificaram completamente sua carne. Essa obra divina não se completou no momento em que teve início em nós, mas se desenvolve gradualmente, e diariamente avança um pouco mais até chegar à sua plena consolidação. Podemos sumariar este ensino do apóstolo Paulo da seguinte forma: “Se porventura és cristão, então deves revelar em ti mesmo pelo menos um sinal de tua comunhão na morte de Cristo; e o fruto disto consiste em que tua carne será crucificada juntamente com todos os desejos dela. Não deves presumir, contudo, que esta comunhão não é real só porque ainda encontras em ti traços de carnalidade em plena atividade. Mas é forçoso que continuamente encontres também traços de crescimento em tua comunhão na morte de Cristo e alcances o alvo final”. Já é suficiente que o crente sinta que sua carne está sendo continuamente mortificada, e ela não avança mais enquanto o Espírito Santo tem sob seu controle o miserável reinado exercido por ela [carne]. Há ainda outra comunhão na morte de Cristo, da qual o apóstolo fala com frequência, como em 2 Coríntios 4.10-18, a saber: o suportar a cruz, ação seguida de nossa participação na vida eterna.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 20 de março de 2024

“FOI CRUCIFICADO COM ELE O NOSSO VELHO HOMEM”


FOI CRUCIFICADO COM ELE O NOSSO VELHO HOMEM”

“Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm 6.6).

O “velho” homem é assim chamado à semelhança do “Velho” Testamento que é também assim chamado em relação ao “Novo” Testamento. Ele começa a ser “velho” quando sua regeneração tem início, e sua velha natureza é gradualmente destruída. O apóstolo Paulo está referindo-se a toda a nossa natureza, a qual trazemos do ventre materno, e a qual é tão incapaz de receber o reino de Deus, que precisa morrer na mesma proporção que somos renovados para a verdadeira vida. Este “velho homem”, diz ele, é pregado na cruz com Cristo, porque, pelo seu poder, ele jaz morto. Paulo faz referência à cruz a fim de mostrar mais distintamente que a única fonte de nossa mortificação é nossa participação na morte de Cristo. Não concordo com aqueles intérpretes que explicam que Paulo usou o termo crucificado, em vez de morto, porque nosso velho homem está ainda vivo, e em certa medida ainda cheio de vigor. A interpretação está plenamente certa, mas dificilmente se faz relevante para o nosso presente texto. O corpo do pecado, ao qual faz menção um pouco depois, não significa carne e ossos, e, sim, toda a massa de pecado, pois o homem, quando abandonado à sua própria natureza, não passa de uma massa de pecado. A expressão, e não sirvamos o pecado como escravos, realça o propósito de sua destruição. Segue-se que até onde somos filhos de Adão, e nada mais além de homens, somos tão completamente escravos do pecado que nada mais podemos fazer senão pecar. Mas quando somos enxertados em Cristo, somos libertados desta miserável compulsão, não porque cessamos definitivamente de pecar, mas para que finalmente sejamos vitoriosos no conflito.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SEMELHANTES NA MORTE E NA RESSURREIÇÃO”


“SEMELHANTES NA MORTE E NA RESSURREIÇÃO”

“Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6.5).

O apóstolo Paulo confirma o argumento que previamente apresentara, fazendo uso de expressões mais claras. A comparação que introduz remove toda e qualquer ambiguidade, visto que o nosso enxerto significa não só nossa conformidade com o exemplo de Cristo, mas também com a união secreta, por meio da qual crescemos unidos a ele, de tal forma que nos revitaliza pela instrumentalidade de seu Espírito e transfere para nós o seu poder. Portanto, assim como o elemento exertante tem a mesma vida ou morte do ramo no qual é enxertado, também é razoável que sejamos plenamente participantes tanto da vida quanto da morte de Cristo. Se formos enxertados na semelhança da morte de Cristo, visto que sua morte é inseparável de sua ressurreição, então à nossa morte seguirá a nossa ressurreição.

Crisóstomo (407d.C) sustenta que, pela expressão “em semelhança de homem” [Fp 2.7) ele quer dizer “sendo feito homem. Parece-me, contudo, que existe na expressão mais importância do que simplesmente isto. Além de referir-se à ressurreição, parece achar-se implícita a ideia de que não passaremos pela morte natural à semelhança de Cristo, mas que existe esta similitude entre a nossa morte e a dele - assim como Cristo morreu na carne que recebera de nós, também morremos em nós mesmos, a fim de que possamos viver nele. Nossa morte, pois, não é a mesma [morte] de Cristo, senão que é semelhante à dele, pois devemos notar a analogia entre a morte nesta presente vida e a nossa renovação espiritual.

“Fomos unidos”. Esta palavra [unidos ou exertados] leva grande ênfase, e revela que Paulo não nos está exortando, e, sim, ensinando acerca do benefício que derivamos de Cristo. Ele desejava simplesmente realçar a eficácia da morte de Cristo, a qual minifestou-se na destruição de nossa carne, e também a eficácia de sua ressureição que nos renova interiormente segundo a natureza superior do Espírito.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SEPULTADOS COM CRISTO NA MORTE PELO BATISMO”


“SEPULTADOS COM CRISTO NA MORTE PELO BATISMO”

“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4).

O apóstolo Paulo então começa mostrar o que está compreendido em nosso batismo na morte de Cristo, embora não nos apresente ainda uma explicação satisfatória. O batismo significa que, ao sermos mortos para nós mesmos, nos tornamos novas criaturas. Paulo corretamente passa da comunhão na morte de Cristo para a participação de sua vida. Visto que estas duas se acham inseparavelmente entrelaçadas, o nosso velho homem é destruído pela morte de Cristo, a fim de que sua ressurreição venha a restaurar nossa justiça e nos transforme em novas criaturas. E visto que Cristo nos foi dado para a vida, por que devemos morrer com ele, senão que ressuscitemos para uma vida melhor? Cristo, pois, expõe à morte o que é mortal em nós, a fim de verdadeiramente restaurar-nos à vida.

Notemos além do mais, que o apóstolo, aqui, não nos exorta simplesmente a imitar a Cristo, como se nos quisesse dizer que a morte de Cristo é um exemplo apropriado para que todos os cristãos o sigam. Indubitavelmente, ele tem em mente algo muito mais elevado. Na verdade, Paulo está propondo uma doutrina que mais tarde usará como base exortativa. Sua doutrina, como podemos claramente ver, consiste em que a morte de Cristo é eficaz para destruir e subjugar a depravação de nossa carne; e sua ressurreição, para renovar em nós uma natureza muito superior. Também afirma que, por meio do batismo, somos admitidos à participação da sua graça. Tendo lançado esta proposição básica, Paulo pode mui apropriadamente exortar os cristãos a envidarem todo esforço para que vivam de uma forma que corresponda ao seu chamamento. É irrelevante argumentar se este poder não se evidencia em todos os que são batizados, porquanto, Paulo, visto estar falando a crentes, conecta a realidade e o efeito com o sinal externo, segundo sua maneira usual de argumentar. Pois sabemos que pela fé é confirmado e ratificado neles tudo quanto o Senhor oferece por meio do símbolo visível. Em resumo, ele nos ensina em que consiste a verdade do batismo quando corretamente recebido. Assim testifica que todos os gálatas, os quais haviam sido batizados em Cristo, haviam se revestido dele (Gl 3.27). Devemos usar sempre estes termos, pois jamais possuímos símbolos nus e vazios, exceto quando nossa ingratidão e impiedade obstruem a operação da divina munificência.

“Pela glória do Pai”. Ou seja: pelo esplêndido poder por meio do qual ele declarou-se verdadeiramente glorioso e exibiu a magnificência de sua glória. Por isso, o poder de Deus, na Escritura, que se fez ativo na ressurreição de Cristo, é às vezes apresentado em termos de muita sublimidade, e com sobejas razões. É de grande importância que enalteçamos a Deus, fazendo menção explícita de seu incomparável poder, não apenas por nossa fé na ressurreição final, a qual excede a toda e qualquer percepção da carne, mas pelos demais benefícios que recebemos da ressurreição de Cristo

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“EM CRISTO JESUS FOMOS BATIZADOS NA SUA MORTE”


“EM CRISTO JESUS FOMOS BATIZADOS NA SUA MORTE”

“Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?” (Rm 6.3).

O apóstolo Paulo prova a sua tese anterior de que Cristo destrói o pecado em seu povo a partir do efeito do batismo, por meio do qual somos iniciados na fé nele [em Cristo]. É além de questão que nos vestimos de Cristo, no batismo, e que somos batizados com base neste princípio, a saber: verdadeiramente crescemos no corpo de Cristo somente quando sua morte produz em nós frutos. Ele, deveras, nos ensina que esta comunhão em sua morte é o ponto central do batismo. Ele não pressupõe uma simples lavagem, mas, sobretudo a mortificação e despimento do velho homem, os quais são ali estabelecidos. É evidente que a eficácia da morte de Cristo só se manifesta no momento em que somos recebidos em sua graça.

“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17)..

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

terça-feira, 19 de março de 2024

“COMO VIVEREMOS AINDA NO PECADO?”


“COMO VIVEREMOS AINDA NO PECADO?”

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm 6.1,2).

“De modo nenhum!” [Que Deus nos livre!]. Certos intérpretes defendem a tese de que o único desejo do apóstolo Paulo era reprovar com indignação uma atitude tão irracional e fútil. Contudo, outras passagens provam quão frequentemente ele mostra ao longo de seu argumento quão corriqueira era tal atitude. Aqui também contesta, com muito tato e de forma breve, a calúnia contra sua doutrina da graça. Em primeiro lugar, contudo, Paulo rejeita tal calúnia com uma negativa saturada de indignação, com o fim de advertir seus leitores que não há maior contradição do que nutrirmos nossos vícios a pretexto da graça de Cristo, visto que ela é o único meio de restaurar nossa justiça.

“Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” Agora, o seu argumento é extraído da posição contrária. Porquanto, quem peca, vive para o pecado. No entanto, pela graça de Cristo estamos mortos para o pecado. Portanto, é falso sustentar que aquilo que abole o pecado lhes injeta maior força. A verdade, ao contrário disto, reside no fato de que os crentes nunca são reconciliados com Deus sem que recebam antes o dom da regeneração. Deveras, somos justificados para este mesmo propósito, a saber: que em seguida adoremos a Deus em pureza de vida. Cristo nos lava com seu sangue e faz Deus propício para conosco através de sua expiação, fazendo-nos partícipes de seu Espírito, o qual nos renova para um viver santo. Portanto, seria a mais absurda inversão da obra divina caso o pecado recebesse força por meio da graça que nos é oferecida em Cristo. A medicina não tem por alvo tornar a doença ainda mais grave, quando sua meta é destruí-la. É bom que tenhamos bem firmado em nossa mente o que já referi anteriormente, ou seja: que Paulo não está aqui tratando do estado em que Deus nos encontra ao chamar-nos a comunhão de seu Filho, e, sim, o estado em que nos achávamos quando ele nos revelou sua misericórdia e graciosamente nos adotou. Ao fazer uso de um advérbio que denota futuro, Paulo mostra o gênero de transformação que deve seguir a justificação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“PERMANECEREMOS NO PECADO?”


“PERMANECEREMOS NO PECADO?”

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”  (Rm 6.1,2).

Ao longo deste capítulo, o apóstolo Paulo defende a tese de que aqueles que imaginam que Cristo nos comunica a sua justificação gratuita, sem comunicar igualmente a novidade de vida, dilaceram ignominiosamente a Cristo. Contudo, ele avança um pouco mais e propõe a seguinte objeção: se os homens continuam em pecado, tal coisa aparentemente põe diante de nós uma grande oportunidade, para que a graça seja ostentada. Temos a experiência de como a carne é inclinada a apresentar alguma justificativa para sua indiferença. Satanás, também, vive sempre pronto a engendrar todo gênero de calúnia com o fim de lançar ao descrédito a doutrina da graça. Não devemos deixar-nos dominar pelo espanto quando, ao ouvir acerca da justificação pela fé, a carne com frequência se choca contra diferentes obstáculos, visto que toda verdade proclamada referente a Cristo é completamente paradoxal pelo prisma do juízo humano. Entretanto, é nosso dever prosseguir em nossa rota. Cristo não deve ser suprimido só porque para muitos ele não passa de pedra de ofensa e rocha de escândalo. Ao mesmo tempo que ele prova ser destruição para os ímpios, em contrapartida ele será sempre ressurreição para os fiéis. Teremos sempre que encontrar respostas às questões transcendentais, a fim de que a doutrina cristã não seja envolvida em aparentes absurdos.

O apóstolo sai no encalço da objeção que é mais comumente assacada contra a proclamação da graça divina, ou seja: se porventura for verdade que a graça nos assistirá muito mais liberal e abundantemente à medida que nos sentimos sobrecarregados com um fardo de pecados sempre mais pesado, então nada melhor que provocarmos a ira de Deus, submergindo-nos no abismo do pecado, e perpetrando-o cada vez mais com novas ofensas, pois só assim experimentaremos a graça mais abundantemente, visto que ela se constitui no maior benefício que porventura venhamos a desejar. Veremos mais adiante como podemos refutar um conceito tão estapafúrdio e virulento.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 14 de março de 2024

“NEM ME RETIRES O TEU SANTO ESPÍRITO”


“NEM ME RETIRES O TEU SANTO ESPÍRITO”

“Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito” (Sl 51.11).

Neste versículo, Davi apresenta a mesma petição, em linguagem que implica a conexão de perdão com o desfruto da orientação do Espírito Santo. Se Deus nos reconcilia consigo gratuitamente, segue-se que ele nos guiará pelo Espírito de adoção. Somente na forma como ele nos ama e nos considerou no número de seus próprios filhos é que pode nos abençoar com a participação de seu Espírito; e Davi mostra que estava consciente desse fato quando ora pela continuação da graça da adoção como indispensável à posse contínua do Espírito. As palavras deste versículo implicam que o Espírito não havia se retirado dele completamente, por mais que seus dons houvessem sido temporariamente obscurecido. Aliás, é evidente que ele não podia ser totalmente privado de suas excelências anteriores, pois parece que ele se desincumbira de seus deveres como um rei que desfrutava de crédito, que havia observado conscientemente as ordenanças da religião e que havia- regulado sua conduta conforme a divina lei. Até certo ponto, ele caíra em profunda e terrível letargia, mas não “se entregou a uma mentalidade réproba”; e é dificilmente concebível que a repreensão de Natã, o profeta, tivesse operado tão fácil e subitamente seu despertamento, não estivesse nos recessos de sua alma alguma fagulha latente de piedade. E verdade que ele ora para que seu espírito fosse renovado, mas isso não deve ser entendido com limitação. A verdade sobre a qual ora estamos insistindo é tão importante que muitos eruditos têm inconsistentemente defendido a opinião de que os eleitos, ao caírem em pecado mortal, perdem o Espírito completamente e ficam alienados de Deus. O oposto é claramente afirmado por Pedro, o qual nos diz que a palavra por meio da qual renascemos é uma semente incorruptível [1Pe 1.23]; e João é igualmente explícito em nos informar que os eleitos são preservados de apostasia consumada [1Jo 3.9]. Por mais que por algum tempo pareçam excluídos por Deus, mais tarde se vê que a graça esteve viva em seu peito, mesmo durante aquele intervalo durante o qual ela parecia extinta. Tampouco há algum valor na objeção de que Davi fala como se temesse ser privado do Espírito. É natural que os santos, ao caírem em pecado e, portanto, ao praticarem aquilo que poderia levá-los a serem excluído da graça de Deus, se sintam ansiosos quanto a esse estado [de alma]; mas é seu dever manter firme a verdade de que a graça é a incorruptível semente divina, a qual jamais perecerá em qualquer coração onde previamente foi depositada. Esse é o espírito exibido por Davi. Ponderando sobre sua ofensa, ele é agitado com temores, e contudo repousa na certeza de que, sendo um filho de Deus, não seria finalmente privado daquilo que, de fato e com justiça, perdera.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“CRIA EM MIM, Ó DEUS, UM CORAÇÃO PURO!”

“CRIA EM MIM, Ó DEUS, UM CORAÇÃO PURO!”

Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em meu íntimo um espírito reto” (Sl 51.10).

Na parte prévia do Salmo, Davi orou por perdão. Ele agora solicita que a graça do Espírito, a qual havia perdido, ou merecera haver perdido, fosse restaurada nele. As duas solicitações são completamente distintas, ainda que às vezes confundidas mesmo pelos homens de erudição. Ele passa do tema da remissão gratuita do pecado para o da santificação. E para isso ele naturalmente foi impulsionado por ardente ansiedade, ante a consciência de haver merecido a perda de todos os dons do Espírito, e de os haver ele realmente, em grande medida, perdido. Ao empregar o termo, cria, ele expressa sua persuasão de que nada menos que um milagre poderia efetuar sua restauração, e enfaticamente declara que o arrependimento é um dom de Deus. Os sofistas admitem a necessidade dos auxílios do Espírito, e concordam que a graça assistente deve tanto vir antes quanto vir depois; mas ao designar um lugar central para o livre-arbítrio humano, roubam a Deus grande parte de sua glória. Davi, pelo termo que aqui usa, descreve a obra de Deus em renovar o coração de uma maneira própria à sua extraordinária natureza, representando-o como a formação de uma nova criatura.

Como Davi já havia sido revestido com o Espírito, agora ora, na última parte do versículo, para que Deus renovasse dentro dele um espírito reto. Pelo termo cria, porém, o qual previamente empregou, ele reconhece que somos totalmente devedores à graça de Deus, tanto por nossa primeira regeneração quanto, no ato de nossa queda, pela subsequente restauração. Ele não assevera simplesmente que seu coração e espírito eram débeis, demandando a assistência divina, mas que permaneceriam destituídos de toda pureza e retidão até que estas fossem comunicadas do alto. Com isso se evidencia que nossa natureza é inteiramente corrupta; pois possuísse a mesma alguma retidão ou pureza, Davi não teria, como o fez neste versículo, chamado a um, um dom do Espírito, e ao outro, uma criação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 11 de março de 2024

"O SENHOR LHES SUSCITOU LIBERTADOR"

"O SENHOR LHES SUSCITOU LIBERTADOR"

“Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel, e ele os entregou nas mãos de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos. Clamaram ao SENHOR os filhos de Israel, e o SENHOR lhes suscitou libertador, que os libertou: Otniel, filho de Quenaz, que era irmão de Calebe e mais novo do que ele. Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual ele prevaleceu” (Jz 3.8-10).

Vemos que Otniel era sobrinho de Calebe. Calebe foi companheiro de Josué na conquista da terra prometida. Ele acreditou no poder de Deus. Deus o abençoou com grandes conquistas e vida longa.

Quando o povo de Israel chegou à fronteira da terra prometida, Moisés enviou 12 espiões para descobrir se a terra era boa ou ruim (Nm 13.1,2). Um deles foi Calebe, filho de Jefoné, da tribo de Judá.

Depois de 40 dias, os espiões voltaram com a notícia que a terra era boa e fértil, mas os povos que moravam lá eram muito fortes. Os outros espiões desanimaram o povo, mas Calebe acreditava que Deus lhes daria a vitória (Nm 13.30). Josué e Calebe tentaram animar o povo declarando que Deus tinha poder para lhes dar aquela terra, que mana leite e mel, mas o povo se rebelou contra Deus dizendo que apedrejassem Moisés, Arão Josué e Calebe (Nm 14.6-10).

Por causa dessa rebelião, Deus os castigou. Os israelitas adultos não entraram na terra prometida, foram todos penalizados com a morte, exceto Josué e Calebe (Nm 14.32-34). Deus abençoou Calebe com a promessa de herança aos seus descendentes (Nm 14.24).

Otniel, sobrinho de Calebe, foi personagem de uma nova geração em Israel. Deus o suscitou como libertador. Deus é quem levanta líderes, liderar é um dom de Deus. Otniel foi guerreiro de Deus, homem de fé. Ele foi cheio do Espírito do SENHOR para desempenhar poderosamente o ofício de juiz e libertador. “Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual ele prevaleceu” (Jz 3.10). 

Deus nos abençoe!

Pr. José Rodrigues Filho

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