"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



domingo, 22 de dezembro de 2024

“ANTES, A SI MESMO SE ESVAZIOU”


“ANTES, A SI MESMO SE ESVAZIOU”    

“Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, achado na forma de homem, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.7,8).

A si mesmo se esvaziou.  Este esvaziamento é o mesmo que aviltamento, sobre o qual veremos mais adiante. Não obstante, esta expressão é usada (mais enfaticamente) para significar: sendo reduzido a nada. De fato Cristo não podia despir-se da Deidade; mas ele a manteve escondida por algum tempo, para que não fosse vista, sob a fragilidade da carne. Daí ele abrir mão da sua glória, pelo prisma humano, não a fim de diminuí-la, e sim para a ocultar.

Indaga-se se ele fez isso como homem. Erasmo responde na afirmativa. Todavia, onde estava a forma de Deus antes de se tornar homem? Daí, devemos responder que Paulo fala de Cristo em sua totalidade, como Deus manifestado na carne [1Tm 3.16]; mas, não obstante, este esvaziamento é aplicável exclusivamente à sua humanidade, como se eu dissesse do homem: “O homem, sendo mortal, seria excessivamente sem sentido se ele em nada mais pensasse senão no mundo”; de fato me refiro ao homem em sua totalidade; mas, ao mesmo tempo, atribuo mortalidade só a uma parte dele, a saber, ao corpo. Como, pois, Cristo tem uma só pessoa, consistindo de duas naturezas, é com propriedade que Paulo diga que ele, que era o Filho de Deus - na realidade igual a Deus -, não obstante abriu mão da sua glória, quando na carne se manifestou na aparência de um servo.

Indaga-se ainda, em segundo lugar, como é possível dizer que ele se esvaziou, enquanto que, não obstante, demonstrava, mediante milagres e excelências, ser o Filho de Deus, e em quem, como João testifica, sempre se contemplou uma glória digna do Filho de Deus [Jo 1.14]? Respondo que o aviltamento da carne era, apesar de tudo, como que um véu a esconder sua majestade divina. Foi por isso mesmo que ele não queria que sua transfiguração viesse a público, mesmo depois da sua ressurreição; e, quando ele percebe que a hora de sua morte se avizinhava, então diz: “Pai, glorifica a teu Filho” [Jo 17.1]. Daí também Paulo ensinar em outro lugar que ele “foi declarado Filho de Deus segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos” [Rm 1.4]. E, em outro lugar, também declara que “ele sofreu pela fraqueza da carne” [2C0 13.4].  Enfim, a imagem de Deus resplandeceu em Cristo de tal maneira que ele foi,  ao mesmo tempo,  aviltado  em sua aparência externa, nada valendo na estima dos homens; pois ele portava a forma de servo e assumiu nossa natureza, com vistas expressamente a ser servo do Pai;  pior ainda,  inclusive dos homens.  Paulo o chama ainda de “Ministro da Circuncisão” [Rm  15.8]; e ele mesmo testifica de si que veio ministrar [Mt 20.28]; e que a mesma coisa fora há muito tempo predita por Isaías: “Eis que meu servo” [Is 52.13].

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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