"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



sábado, 21 de dezembro de 2024

“TENDE EM VÓS O MESMO SENTIMENTO QUE HOUVE TAMBÉM EM CRISTO JESUS”

 


“TENDE EM VÓS O MESMO SENTIMENTO QUE HOUVE TAMBÉM EM CRISTO JESUS”

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus” (Fp 2.5,6).

O apóstolo Paulo agora recomenda, com base no exemplo de Cristo, o exercício da humildade, à qual ele os exortou em palavras. Entretanto, há duas etapas: na primeira, ele nos convida a imitarmos a Cristo, porque esta é a norma da vida; na segunda, ele nos atrai para essa norma, porque esta é a estrada pela qual tomamos posse da verdadeira glória. Daí ele exortar a cada pessoa a cultivar a mesma disposição que houve em Cristo. Em seguida, ele mostra qual é o padrão da humildade exibido em Cristo à nossa vista.

Ele, subsistindo em forma de Deus. Esta não é uma comparação entre coisas semelhantes, mas sim algo como “maior e menor”. A humildade de Cristo consistiu em ele descer, do pináculo mais elevado de glória à ignomínia mais baixa; nossa humildade consiste em refrear-nos de uma exaltação egoísta por uma falsa estima. Ele renunciou ao seu direito; tudo o que se requer de nós é que não assumamos para nós mesmos mais do que devemos. Daí ele especificar isto: que, “Ele, subsistindo na forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus como coisa a que se devia apegar; mas a si mesmo se esvaziou”. Visto, pois, que o Filho de  Deus  desceu  de  uma  altitude tão  imensa, quão irracional seria que nós, que nada somos, tentássemos nos exaltar tão orgulhosamente!

Aqui, a forma de Deus representa sua majestade.  Pois como um homem é conhecido pela aparência de sua forma, assim a majestade, que resplandece em Deus, é sua figura. Ou, se você preferir uma figura mais apropriada, a forma de um rei é sua equipagem e magnificência, o que o exibe como rei - seu cetro, sua coroa, sua vestimenta, seus assistentes, seu tribunal e outros emblemas de realeza; a forma de um cônsul era sua longa túnica, bordada de púrpura, seu trono de marfim, seus litores com bordões e machadinhas. Cristo, pois, antes da criação do mundo, subsistia na forma  de  Deus,  porque  desde  o princípio ele possuía sua glória junto com o Pai, como ele diz em João 17.5. Porque, na sabedoria de Deus, antes de assumir nossa carne, não havia nada que fosse humilde ou desprezível; mas, ao contrário, havia uma magnificência digna de Deus. Subsistindo tal como era, ele pôde, sem fazer injustiça a ninguém, exibir-se como igual a Deus; mas ele não se manifestou como sendo o que realmente era, nem assumiu publicamente à vista dos homens o que lhe pertencia por direito.

Não considerou como usurpação. Não teria havido erro algum caso tivesse exibido sua igualdade com Deus. Pois quando diz: ele não considerou, é como se dissesse: “De fato ele sabia que isso lhe era legítimo e um direito”, para que saibamos que seu aviltamento foi voluntário, não por necessidade. Até aqui a tradução foi feita no indicativo - ele considerou -, mas a conexão requer o subjuntivo. É também algo bem costumeiro Paulo empregar o pretérito do indicativo no lugar do subjuntivo - como, por exemplo, em Romanos 9.3, “pois eu teria desejado”; e em 1Coríntios 2.8, “se tivessem conhecido”. Não obstante, cada um deve perceber que Paulo até aqui tratou da glória de Cristo, a qual tende a reforçar seu aviltamento. Consequentemente, ele menciona não o que o Cristo fez, mas o que lhe era lícito fazer.

Mais do que isso: aquele que não perceber que a eterna divindade [de Cristo] se expressa com clareza nessas palavras está completamente cego! Tão pouco Erasmo age com a modéstia que deveria ao tentar, por meio de suas picuinhas, modificar esta passagem, bem como outras passagens semelhantes. De fato ele reconhece, por toda parte, que Cristo é Deus; mas de que me aproveita tal confissão ortodoxa se minha fé não for sustentada por alguma autoridade bíblica? Por certo que reconheço que Paulo não faz menção, aqui, da essência divina de Cristo; mas disto não se segue que a passagem não seja suficiente para repelir a impiedade dos arianos, que pretendiam que Cristo fosse um Deus criado e inferior ao Pai, e que negavam que ele era consubstancial. Ora, será que pode haver igualdade com Deus sem usurpação, se não houver necessariamente também a essência de Deus?  É Isaías quem afirma que Deus sempre permanece o mesmo: “Minha glória não a darei a outrem” [Is 48.11]. Forma significa figura ou aparência, como comumente se fala. Prontamente admito isso também; mas é possível encontrar, senão em Deus, tal forma, sem que seja ou falsa ou forjada? Assim, do mesmo jeito que Deus é conhecido por meio de suas excelências e que suas obras evidenciam sua eterna Deidade [Rm 1.20], a essência divina de Cristo é demonstrada claramente na majestade de Cristo, a qual ele possuía igualmente com o Pai, antes mesmo de se humilhar. No que me diz respeito, pelo menos, nem ainda todos os demônios adulterariam esta  passagem,    que    em  Deus um argumento bem sólido, a partir de sua glória para sua essência, as quais são duas coisas inseparáveis.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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