"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



segunda-feira, 28 de agosto de 2023

“OS PECADOS DE ALGUNS HOMENS SÃO NOTÓRIOS”


“OS PECADOS DE ALGUNS HOMENS SÃO NOTÓRIOS”

“Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros só mais tarde se manifestam” (1Tm 5.24).

Nada é mais desgastante para os fiéis ministros da Igreja do que não encontrar um meio de corrigir os males, a serem obrigados a suportar os hipócritas, cuja perversidade se faz notória, a se sentirem incapazes de excluir da Igreja os muitos que se constituem em peste nociva, ou mesmo impedi-los de espalhar sua peçonha através de suas artes secretas. E assim Paulo consola a Timóteo com esse lenitivo, ou seja, que algum dia, quando aprouver a Deus, serão citados publicamente. Dessa forma o apóstolo o confirma na paciência, pois ele deveria tranquilamente aguardar o tempo certo, o qual Deus, em sua sabedoria, preordenou.

Há outro tipo de conduta vil que aflige dolorosamente os bons e santos pastores, a saber, depois de terem conscientemente desempenhado seus deveres, ainda são provocados por críticas inúmeras e injustas; são objetos da má vontade e descobrem que as ações que deveriam merecer louvor são na verdade vituperadas. Paulo trata disso também, ao dizer a Timóteo que há algumas boas obras que só virão à luz muito depois. Por conseguinte, se o louvor a elas devido é, por assim dizer, sepultado nas profundezas da terra, em virtude da ingratidão humana, também isso deve ser suportado pacientemente até que chegue o tempo de sua manifestação.

Mas Paulo provê mais de um antídoto para esses males. Às vezes fracassamos na escolha de ministros, pois os homens indignos penetram pela astúcia, enquanto que os homens certos nos são desconhecidos; ou, ainda que o nosso juízo seja correto, não podemos obrigar outros a aceitarem o nosso juízo, de modo que os melhores homens são rejeitados, a despeito de todos os nossos esforços, e os maus se introduzem com astúcia ou vencem pela força. Em tais circunstâncias, o estado da Igreja, e a nossa própria situação, inevitavelmente geram em nós uma profunda ansiedade. O apóstolo faz um vigoroso esforço por remover, ou pelo menos atenuar, essa causa de ofensa. Sua intenção pode ser sumariada assim: “As coisas que não podem ser imediatamente corrigidas, pelo menos devem ser suportadas; devemos sofrer e gemer até que chegue o tempo de aplicar o antídoto; e não devemos usar a força para extirpar as doenças, mas esperar que estejam maduras ou se exponham à vista. Por outro lado, quando a virtude não conquista a devida recompensa, devemos aguardar o tempo pleno da revelação, tolerar a estupidez do mundo e quedar-nos tranquilamente em meio às trevas, até que raie a autora”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

“O PLENO CONHECIMENTO DA VERDADE SEGUNDO A PIEDADE”


“O PLENO CONHECIMENTO DA VERDADE SEGUNDO A PIEDADE”

“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade” (Tt 1.1).

A fim de apoiar sua alegação de que seu apostolado está livre de toda e qualquer impostura e equívoco, o apóstolo Paulo declara que sua mensagem nada contém senão aquela notória e averiguada verdade, a qual pode instruir os homens no perfeito culto divino. Visto, porém, que cada palavra tem sua própria importância, nos será de muito proveito examiná-las.

Em primeiro lugar, ao chamar a fé de “conhecimento”, Paulo não está meramente distinguindo-a de opinião, mas daquela fé forjada e implícita inventada por hereges. Pois por fé implícita eles querem dizer algo destituído de toda luz da razão. Ao dizer que conhecer a verdade pertence à essência da fé, ele claramente demonstra que sem o conhecimento não há certeza de fé.

Com o termo, “verdade”, Paulo explica ainda mais claramente a certeza que a natureza da fé requer; pois a fé não se satisfaz com probabilidades, mas com a plena verdade. Além do mais, ele não esta falando, aqui, de qualquer gênero de verdade, mas daquela que é contrastada com a vaidade do entendimento humano. Pois como Deus se nos tem revelado através dessa verdade, ela é a única que merece o título de “a verdade” - título este a ela dado em muitos passos bíblicos. “O Espírito vos guiará a toda verdade” (Jo 16.13). “Tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). “Quem vos fascinou para não obedecerdes à verdade” (Gl 3.1). “Por causa da esperança que vos está reservada nos céus, da qual já antes ouvistes pela palavra da verdade do evangelho” (Cl 1.5). “A igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.15). Em suma, a verdade é aquele puro e perfeito conhecimento de Deus, o qual nos livra de todo e qualquer erro e falsidade. Devemos considerar que não há nada mais miserável do que vagar ao longo de toda a nossa vida como ovelhas perdidas.

A próxima frase, que é “segundo a piedade”, qualifica a verdade de uma forma específica, da qual Paulo esteve falando, e ao mesmo tempo recomenda sua doutrina a partir de seu fruto e propósito, visto que seu alvo único é promover o culto divino correto, e manter a religião genuína entre os homens. E assim ele livra sua doutrina de toda e qualquer suspeita de vã curiosidade, como ele fez diante de Félix (At 24.10) e igualmente diante de Agripa (At 26.1). Visto que todos os questionamentos supérfluos que não se inclinam para a edificação devem ser com toda razão suspeitos e mesmo detestados pelos cristãos piedosos, a única recomendação legítima da doutrina é que ela nos instrui na reverência e temor de Deus. E assim aprendemos que o homem que mais progride na piedade é também o melhor discípulo de Cristo, e o único homem que deve ser tido na conta de genuíno teólogo é aquele que pode edificar a consciência humana no temor de Deus.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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domingo, 27 de agosto de 2023

“A FÉ QUE É DOS ELEITOS DE DEUS”


 “A FÉ QUE É DOS ELEITOS DE DEUS”

“Paulo, servo de Deus e apóstolo de Jesus Cristo, para promover a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade” (Tt 1.1).

No caso de alguém ainda nutrir dúvida acerca do apostolado de Paulo, ele apresenta fortes razões para se crer nele, conectando-o à salvação dos eleitos de Deus, como se quisesse dizer: “há uma relação mútua entre meu apostolado e a fé dos eleitos de Deus, de modo que ninguém poderá rejeitá-lo sem que se torne um réprobo e estranho à fé genuína”. Com o termo, “eleitos”, Paulo indica não só aqueles que ainda estavam vivos naquele tempo, mas a todos quantos foram eleitos desde o princípio do mundo. Sua intenção é que ele não ensina nenhuma doutrina que não esteja em harmonia com a fé de Abraão e de todos os pais. E assim, se alguém hoje desejar ser considerado sucessor de Paulo, o mesmo terá que provar que é ministro da mesma doutrina. Essas palavras, porém, contêm um contraste implícito, para tornar evidente que a incredulidade e a obstinação de muitos de forma alguma trazem prejuízo ao evangelho. Pois naquele tempo, assim como hoje, os fracos na fé eram terrivelmente escandalizados porque grande parte daqueles que alegavam pertencer à Igreja rejeitavam a doutrina integral de Cristo. Por essa razão Paulo mostra que, mesmo que todos, indiscriminadamente, se gloriassem no nome de Deus, há um grande número no seio dessa multidão que, não obstante, são réprobos. Como ele diz em outro lugar: “Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos, mas: Em Isaque será chamada a tua descendência” (Rm 9.7).

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

“ANTES, PROMOVEM DISCUSSÕES”


“ANTES, PROMOVEM DISCUSSÕES”

“Quando eu estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé” (1Tm 1.3,4).

Tudo o que não edifica deve ser rejeitado, ainda que não tenha nenhum outro defeito; e tudo o que só serve para suscitar controvérsias deve ser duplamente condenado. Tais são todas as questões sutis nas quais os homens ambiciosos praticam suas habilidades. É mister que nos lembremos de que todas as doutrinas devem ser comprovadas mediante esta regra: aquelas que contribuem para a edificação devem ser aprovadas, mas aquelas que ocasionam motivos para controvérsias infrutíferas devem ser rejeitadas como indignas da Igreja de Deus. Se este teste houvera sido aplicado há muitos séculos, então, ainda que a religião viesse a se corromper por muitos erros, ao menos a arte diabólica das controvérsias ferinas, a qual recebeu a aprovação da teologia escolástica, não haveria prevalecido em grau tão elevado. Pois tal teologia outra coisa não é senão contendas e vãs especulações sem qualquer conteúdo de real valor. Por mais versado um homem seja nela, mais miserável o devemos considerar. Estou cônscio dos argumentos plausíveis com que ela é defendida, mas jamais descobrirão que o apóstolo Paulo haja falado em vão ao condenar aqui tudo quanto é da mesma natureza.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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domingo, 20 de agosto de 2023

“... E INCORRA NA CONDENAÇÃO DO DIABO”


“... E INCORRA NA CONDENAÇÃO DO DIABO”

“Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo” (1Tm 3.1-6).

Naquele tempo, muitos homens de extraordinária habilidade e cultura estavam sendo conduzidos à fé. O apóstolo Paulo, porém, proíbe que se façam bispos aos que recentemente tenham professado a Cristo. E ele mostra quão danoso seria tal expediente. Pois é evidente que os neófitos na fé geralmente são fúteis e dominados pela ostentação, de modo que a arrogância e a ambição facilmente os levam a se desertarem. O que Paulo diz aqui podemos confirmar evocando nossa própria experiência; pois os neófitos não são simplesmente ousados e impetuosos, mas também inchados de néscia confiança em si próprio, como se fossem capazes de fazer o que nunca experimentaram. Portanto, não é sem razão que sejam eles excluídos da honra do episcopado, até que, com o passar do tempo, suas noções extravagantes tenham sido subjugadas.

“...e Incorra na condenação do diabo”. Enquanto que alguns pensam que [diabolos] significa Satanás, outros creem que significa caluniadores. Sinto-me inclinado para o primeiro ponto de vista, pois o termo latino, indiciun, raramente indica calúnia. Uma vez mais, porém, é possível entender essa referência: "e incorra na condenação de Satanás", no sentido ativo ou passivo. Há uma antítese elegante que realça a enormidade do caso: “Para não suceder que aquele que é posto sobre a Igreja de Deus, movido de orgulho, caia na mesma condenação em que caiu o diabo”. Não obstante, não descarto o significado ativo, a saber, que tal homem dará ao diabo ocasião para condená-lo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 18 de agosto de 2023

“CONTINUA NESTES DEVERES”


CONTINUA NESTES DEVERES”

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4.16).

Não deve causar estranheza que o apóstolo Paulo atribui a Timóteo a obra de salvar a Igreja, porquanto todos os que são conquistados para Deus são salvos, e é por meio da pregação do evangelho que somos unidos a Cristo. E assim, como a infidelidade ou negligência de um pastor é fatal à Igreja, também é justo que sua salvação seja atribuída à sua fidelidade e diligência. É deveras verdade que é unicamente Deus quem salva, e que nem mesmo uma ínfima porção de sua glória é transferida para os homens. Mas a glória de Deus não é de forma alguma ofuscada em usar ele o labor humano para outorgar a salvação. A salvação dos homens é dom de Deus, visto que ela emana exclusivamente dele e é efetuada unicamente por seu poder, de modo que ele é o seu único Autor. Mas esse fato não exclui o ministério humano, tampouco nega que tal ministério possa ser o meio de salvação, porquanto é desse ministério que depende o bem-estar da Igreja (Ef 4.11,12). Esse ministério é por natureza inteiramente obra de Deus, pois é Deus quem modela os homens para que sejam bons pastores e os guia por intermédio de seu Espírito e abençoa o trabalho para que o mesmo não venha a ser infrutífero. Se um bom pastor é nesse sentido a salvação daqueles que o ouvem, que os maus e indiferentes saibam que sua ruína será atribuída aos que têm responsabilidades sobre eles. Pois assim como a salvação de seu rebanho é a coroa do pastor, assim também todos os que perecem serão requeridos das mãos dos pastores displicentes (Ez 33.8).

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“TEM CUIDADO DE TI MESMO E DA DOUTRINA”


“TEM CUIDADO DE TI MESMO E DA DOUTRINA”

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4.16).

Um bom pastor deve ser criterioso acerca de duas coisas: ser diligente em sua doutrinação e conservar sua integridade pessoal. Não basta que ele amolde sua vida de acordo com o que é recomendável e tome cuidado para não dar mau exemplo, se não acrescentar à vida santa uma diligência contínua na doutrinação. E a doutrinação será de pouco valor se não houver uma correspondente retidão e santidade de vida. Por conseguinte, o apostolo Paulo tem sobejas razões para intimar Timóteo a dar atenção tanto à sua pessoa em particular quanto à sua doutrinação para o proveito geral da igreja. Uma vez mais, ele recomenda-lhe constância, para que jamais se prostre exausto, porque muitas coisas sucedem que podem desviar-nos da trajetória retilínea, se não estivermos solidamente firmados para suportá-las.

O zelo dos pastores será profundamente solidificado quando forem informados de que tanto sua própria salvação quanto a de seu povo dependem de uma séria e solícita devoção ao seu ofício. Entretanto, visto que o ensino que contém sólida edificação geralmente não produz exibição bombástica, Paulo adverte a preocupar-se com o que é proveitoso; como se quisesse dizer: “Os homens que buscam glória, então que se alimentem de sua própria ambição e se congratulem com sua própria engenhosidade; tu, porém, contenta-te em devotar-te exclusivamente à salvação de ti mesmo e de teu povo”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

“O AMOR AO DINHEIRO”


“O AMOR AO DINHEIRO”

“Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm 6.10).

Não é preciso ser exageradamente cauteloso em comparar outros vícios com este. É verdade que a ambição e o orgulho às vezes produzem frutos piores que os da cobiça; não obstante, a ambição não provém da cobiça. O mesmo é verdade a respeito das paixões sexuais. Mas não era a intenção do apóstolo Paulo incluir sob o tema da cobiça todo gênero de vício que nos seja possível nomear. O que então ele quis dizer? Simplesmente que inumeráveis males provêm dela, justamente como amiúde usamos a mesma forma de expressão quando dizemos que a discórdia, ou a glutonaria, ou a embriaguez, ou qualquer outro vício dessa espécie produz todo tipo de males. E é especialmente verdade no tocante à vil avidez por lucros, que não há males que este não produza farta e diariamente incontáveis fraudes, falsidades, perjúrio, impostura, extorsão, crueldade, corrupção judicial, contendas, ódio, envenenamentos, homicídios e toda sorte de crimes. Afirmações desse gênero ocorrem com muita frequência nos escritores pagãos, e aqueles que aplaudem suas hipérboles não têm direito algum de se queixar, dizendo que a linguagem de Paulo é extremamente extravagante. Diariamente a experiência comprova que o apóstolo simplesmente descreveu os fatos como realmente são. Lembremo-nos, porém, de que os crimes que procedem da avareza podem também provir, e com frequência provêm, da ambição, ou da inveja, ou de outras más disposições.

A avareza é a fonte do maior de todos os males - a apostasia da fé. Os que sofrem dessa praga gradualmente se degeneram até que renunciam completamente a fé. Daí as dores de que Paulo fala, pois tomo a sua expressão como sendo os medonhos tormentos da consciência que geralmente fustigam os homens que não mais acalentam qualquer esperança; embora Deus conte também com outros métodos para atormentar os cobiçosos e convertê-los em seus próprios atormentadores.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“OS QUE QUEREM FICAR RICOS”


“OS QUE QUEREM FICAR RICOS”

“Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição” (1Tm 6.9).

Havendo exortado Timóteo a viver contente e a descartar a ansiedade pelas riquezas, o apóstolo Paulo agora adverte sobre quão perigoso pode tornar-se um incontrolável anelo por elas, especialmente nos ministros da Igreja, os quais constituem a principal preocupação do apóstolo aqui. Não são as riquezas em si a causa dos males que Paulo menciona aqui, mas o profundo apego a elas, mesmo quando a pessoa seja pobre. E aqui ele descreve não só o que geralmente sucede, mas o que quase sempre inevitavelmente sucede. Pois todos quantos têm como seu ambicioso alvo a aquisição de riquezas se entregam ao cativeiro do diabo. É mui veraz o que diz o poeta pagão: “Aquele que quer ser rico, também quer ser rapidamente rico”. E assim, segue-se que todos quantos violentamente desejam ficar ricos são arrebatados por sua própria impetuosidade. Essa é a fonte de sua loucura, ou, melhor, desses loucos impulsos que por fim os mergulharão na ruína. Esse é um mal universal, mas ele se revela muito mais conspicuamente nos pastores da Igreja, pois a avidez os irrita tanto que não se deterão diante de nada, por mais disparatado que seja, tão logo o brilho da prata ou do ouro ofusque seus olhos.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

“DISTANTE DE CONTENDAS”

 

“DISTANTE DE CONTENDAS”

“Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente” (2Tm 2.24).

Eis o fio de pensamento do apóstolo Paulo: “O servo de Deus deve manter-se à distância das contendas; e como as questões tolas são contendas, então qualquer um que aspire ser considerado servo de Deus deve fugir delas”. E se as questões supérfluas devem ser evitadas pelo simples fato de que inviabilizam a luta do servo de Deus, quão cinicamente agem as pessoas que têm a insolência de buscar aplausos por promoverem intermináveis controvérsias. Portanto, quanto mais proficiente é um homem nessas artes, menos capacitado é ele para servir a Cristo.

Ao incitar o servo de Deus a ser brando para com todos, Paulo requer aquela virtude que é o oposto do espírito doentio da contenção. O que vem imediatamente a seguir aponta para a mesma questão, ou seja: que ele deve ser apto para instruir. Ele não será apto para ensinar sem a devida moderação e certo equilíbrio de temperamento. Pois a que limites chegará um mestre que se permiti explodir no capo de batalha? Quanto mais qualificada é uma pessoa para o ensino, mais distante se manterá das disputas e controvérsias.

A pressa de alguns às vezes produz ou irritação ou fadiga, e por isso ele acrescenta: e paciente, explicando ao mesmo tempo por que a paciência é necessária - porque o propósito de um mestre piedoso é esforçar-se por trazer de volta à vereda da justiça o obstinado e rebelde, e isso só pode se dar através de uma boa dose de amabilidade.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 8 de agosto de 2023

“TODA A ESCRITURA É INSPIRADA POR DEUS”

 

“TODA A ESCRITURA É INSPIRADA POR DEUS”

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).

Toda a Escritura ou a totalidade da Escritura. O apóstolo Paulo agora explica mais plenamente sua breve recomendação. Primeiro, recomenda a Escritura por causa da sua autoridade; e, a seguir, por causa do benefício que dela advém. Para asseverar sua autoridade, ele ensina que ela é inspirada por Deus. Porque, se esse é o caso, então fica além de toda e qualquer dúvida que os homens devem recebê-la com reverência. Eis aqui o princípio que distingue nossa religião de todas as demais, ou seja: sabemos que Deus nos falou e estamos plenamente convencidos de que os profetas não falaram de si próprios, mas que, como órgãos do Espírito Santo, pronunciaram somente aquilo para o qual foram do céu comissionados a declarar. Todos quantos desejam beneficiar-se das Escrituras devem antes aceitar isto como um princípio estabelecido, a saber: que a lei e os profetas não são ensinos passados adiante ao bel-prazer dos homens ou produzidos pelas mentes humanas como sua fonte, senão que foram movidos pelo Espírito Santo.

Se alguém objetar e perguntar como é possível saber que foi assim, minha resposta é a seguinte: é pela revelação do mesmo Espírito que Deus se tem feito conhecer como seu Autor, tanto aos discípulos quanto aos mestres. Moisés e os profetas não pronunciaram precipitadamente e ao acaso o que deles temos recebido, senão que, falando pelo impulso de Deus, ousada e destemidamente testificaram a verdade de que era a boca do Senhor que falava através deles. O mesmo Espírito que deu a certeza a Moisés e aos profetas de sua vocação, também agora testifica aos nossos corações de que ele tem feito uso deles como ministros através de quem somos instruídos, E assim não é de estranhar que muitos ponham em dúvida a autoridade da Escritura. Pois ainda que a majestade divina esteja exibida nela, somente aqueles que têm sido iluminados pelo Espírito Santo possuem olhos para ver o que deveria ser óbvio a todos, mas que, na verdade, é visível somente aos eleitos. Eis o significado da primeira cláusula, a saber: que devemos à Escritura a mesma reverência devida a Deus, já que ela tem nele a única fonte, e não existe nenhuma origem humana misturada nela. “Nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2Pe 1.20,21).

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

“O ESCUDO DA FÉ”

 

“O ESCUDO DA FÉ”

“Embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno” (Ef 6.16).

Embora a fé e a Palavra de Deus sejam inseparáveis, o apóstolo Paulo lhes designa dois ofícios. Digo que ambas são inseparáveis, porque a Palavra é o objeto da fé e não pode ser aplicada para o nosso uso senão pela fé. E, igualmente, a fé nada é e nada pode fazer sem a Palavra. Paulo, porém, ignorando uma distinção por demais sutil, permitiu-se falar livremente da armadura militar. Em 1 Tessalonicenses 5.8, ele aplica o nome de armadura tanto a fé quanto ao amor. Daqui faz-se evidente que ele só queria dizer que aquele que toma posse das virtudes aqui descritas está verdadeiramente armado de todas as formas.

E no entanto não é sem razão que ele compare à fé e a Palavra de Deus aos principais instrumentos de guerra, ou seja: espada e escudo. No combate espiritual, esses dois mantêm a mais elevada posição. Por meio da fé, repelimos todos os ataques do diabo; e por meio da Palavra de Deus, o próprio inimigo é completamente esmagado. Em outras palavras, se a Palavra de Deus é eficaz em nós mediante a fé, então estaremos mais que suficientemente armados, tanto para repelir quanto para pôr em fuga o inimigo. Portanto, aqueles que tiram de um cristão a Palavra de Deus, porventura não o despojam de sua indispensável armadura, para que pereça sem ter como lutar? Quem pode lutar desarmado e indefeso? 

“Os dardos de Satanás são não só pontiagudos e penetrantes, mas, o que é mais terrível, eles são ardentes. A fé não só embota seu gume, mas também apaga sua chama mortal”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

“FORÇAS ESPIRITUAIS DO MAL”


“FORÇAS ESPIRITUAIS DO MAL”

“A nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12).

O apóstolo Paulo põe diante dos efésios o perigo, expressando-lhes a natureza do inimigo. Sua intenção é fazer-nos ver que nossas dificuldades são maiores do que se tivéssemos que lutar contra homens. Ali resistimos a força humana, o homem contende com o homem, a força é rebatida pela força, e habilidade contra habilidade; mas, aqui, o caso é muitíssimo diferente, porquanto nossos inimigos são em tal proporção, que não há poder humano capaz de resistir. A luta não é corporal.

Lembremo-nos desta afirmação quando as injúrias humanas nos levarem à represália. Pois nossa natureza nos leva à selvageria contra os próprios homens; mas esse estulto desejo será refreado, como por uma rédea curta, pela consideração de que os homens que nos importunam nada são além de dardos lançados pela mão de Satanás. Enquanto estamos ocupados em repeli-los, nos expomos a ser feridos de todos os lados. Lutar contra a carne e o sangue não só será inútil, mas também prejudicial. Devemos ir diretamente ao inimigo, que nos ataca e nos fere de seu esconderijo, que mata antes mesmo de ser visto.

O apóstolo põe diante de nós um inimigo perigoso, não para infundir-nos medo, mas para aguçar nossa diligência. Ao falar do poder do inimigo, Paulo se esforça por manter-nos mais atentos. Ele já o denominara de diabo, mas agora usa uma série de epítetos, para que os crentes pudessem entender que esse não é um inimigo a ser tratado com descaso.

Ele o chama de principados e potestades, de dominadores deste mundo tenebroso. Sua intenção é mostrar-nos que o diabo reina no mundo, porquanto o mundo outra coisa não é senão tenebrosidade. Daí segue-se que a corrupção do mundo cede espaço as forças espirituais do mal. Paulo não está aqui atribuindo aos demônios um principado, do qual se apoderam sem o devido consentimento e o exercem em oposição a Deus, e sim, o atribui àquele que, como a Escritura ensina, Deus, em justa vingança, permite que ajam contra os perversos. A questão aqui é a seguinte: não propriamente que espécie de poder os demônios exercem em oposição a Deus, e sim, quão assustadores eles se nos tornam, com o fim de manter-nos sempre em guarda. Nem tampouco essas palavras pretendem favorecer a crença de que o diabo criou e mantém para si mesmo a região intermédia nos ares. Paulo não lhes designa um território fixo, do qual se apoderam e o qual controlam, mas simplesmente indica que estão imbuídos de hostilidade e se encontram nas regiões mais elevadas.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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