“... E INCORRA NA CONDENAÇÃO DO DIABO”
“Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja. É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo” (1Tm 3.1-6).
Naquele tempo, muitos homens de extraordinária habilidade e cultura
estavam sendo conduzidos à fé. O apóstolo Paulo, porém, proíbe que se façam
bispos aos que recentemente tenham professado a Cristo. E ele mostra quão
danoso seria tal expediente. Pois é evidente que os neófitos na fé geralmente
são fúteis e dominados pela ostentação, de modo que a arrogância e a ambição
facilmente os levam a se desertarem. O que Paulo diz aqui podemos confirmar
evocando nossa própria experiência; pois os neófitos não são simplesmente
ousados e impetuosos, mas também inchados de néscia confiança em si próprio,
como se fossem capazes de fazer o que nunca experimentaram. Portanto, não é sem
razão que sejam eles excluídos da honra do episcopado, até que, com o passar do
tempo, suas noções extravagantes tenham sido subjugadas.
“...e Incorra na condenação do diabo”. Enquanto que alguns pensam que [diabolos] significa Satanás, outros creem que significa caluniadores. Sinto-me inclinado para o primeiro ponto de vista, pois o termo latino, indiciun, raramente indica calúnia. Uma vez mais, porém, é possível entender essa referência: "e incorra na condenação de Satanás", no sentido ativo ou passivo. Há uma antítese elegante que realça a enormidade do caso: “Para não suceder que aquele que é posto sobre a Igreja de Deus, movido de orgulho, caia na mesma condenação em que caiu o diabo”. Não obstante, não descarto o significado ativo, a saber, que tal homem dará ao diabo ocasião para condená-lo.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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