“O AMOR AO DINHEIRO”
“Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da
fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm 6.10).
Não é preciso
ser exageradamente cauteloso em comparar outros vícios com este. É verdade que
a ambição e o orgulho às vezes produzem frutos piores que os da cobiça; não
obstante, a ambição não provém da cobiça. O mesmo é verdade a respeito das
paixões sexuais. Mas não era a intenção do apóstolo Paulo incluir sob o tema da
cobiça todo gênero de vício que nos seja possível nomear. O que então ele quis
dizer? Simplesmente que inumeráveis males provêm dela, justamente como amiúde
usamos a mesma forma de expressão quando dizemos que a discórdia, ou a
glutonaria, ou a embriaguez, ou qualquer outro vício dessa espécie produz todo
tipo de males. E é especialmente verdade no tocante à vil avidez por lucros,
que não há males que este não produza farta e diariamente incontáveis fraudes,
falsidades, perjúrio, impostura, extorsão, crueldade, corrupção judicial,
contendas, ódio, envenenamentos, homicídios e toda sorte de crimes. Afirmações
desse gênero ocorrem com muita frequência nos escritores pagãos, e aqueles que aplaudem
suas hipérboles não têm direito algum de se queixar, dizendo que a linguagem de
Paulo é extremamente extravagante. Diariamente a experiência comprova que o
apóstolo simplesmente descreveu os fatos como realmente são. Lembremo-nos,
porém, de que os crimes que procedem da avareza podem também provir, e com
frequência provêm, da ambição, ou da inveja, ou de outras más disposições.
A avareza é a
fonte do maior de todos os males - a apostasia da fé. Os que sofrem dessa praga
gradualmente se degeneram até que renunciam completamente a fé. Daí as dores de
que Paulo fala, pois tomo a sua expressão como sendo os medonhos tormentos da
consciência que geralmente fustigam os homens que não mais acalentam qualquer
esperança; embora Deus conte também com outros métodos para atormentar os
cobiçosos e convertê-los em seus próprios atormentadores.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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