"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 25 de abril de 2023

“NÃO DESPREZEIS AS PROFECIAS”


“NÃO DESPREZEIS AS PROFECIAS”

Não desprezeis as profecias (1Ts 5.20). Esta sentença é apropriadamente acrescentada a "não apagueis o Espirito", pois, como o Espírito de Deus nos ilumina principalmente através da doutrina, aqueles que não dão ao ensino o seu devido lugar, até onde está neles, apagam o Espírito; pois devemos sempre considerar de que maneira ou por que meios Deus se propõe comunicar-se a nós. Portanto, que todo aquele que deseja fazer progresso sob a direção do Espírito Santo permita-se ser ensinado pelo ministério dos profetas.

Pelo termo profecia, contudo, não entendo o dom de predizer o futuro, mas, assim como em 1 Coríntios 14.3, a ciência de interpretar a Escritura, de modo que profeta é um intérprete da vontade de Deus. Pois Paulo, na passagem que mencionei, atribui aos profetas o ensino para edificação, exortação e consolação, e enumera, por assim dizer, essas áreas. Portanto, que a profecia nesta passagem seja entendida no sentido de interpretação apropriada para o uso presente. Paulo nos proíbe de desprezá-la, se não quisermos de vontade própria vagar na escuridão.

Contudo, a declaração é notável para a recomendação da pregação exterior. O devaneio dos fanáticos é de que são crianças aqueles que continuam a se empregar na leitura da Escritura, ou na escuta da palavra, como se ninguém fosse espiritual, a menos que desprezasse a doutrina. Portanto, eles orgulhosamente desprezam o ministério humano, sim, até a própria Escritura, a fim de poder alcançar o Espírito. Ademais, qualquer coisa que as ilusões de Satanás lhes sugere, eles presunçosamente apresentam como revelações secretas do Espírito. Tais são os libertinos, e outros raivosos desse tipo. E, quanto mais ignorante alguém for, tanto mais se incha de arrogância. Porém, aprendamos, pelo exemplo de Paulo, a associar o Espírito à voz dos homens, a qual não é nada mais do que seu instrumento.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba/PR.
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

“NÃO APAGUEIS O ESPÍRITO”


“NÃO APAGUEIS O ESPÍRITO”

Não apagueis o Espírito (1Ts 5.19). 

Esta metáfora deriva-se do poder e natureza do Espírito; pois, como é o ofício próprio do Espírito iluminar o entendimento dos homens, e como ele é chamado por esta razão de nossa luz, é com propriedade que se diz que o apagamos, quando tornamos vã a sua graça. Há alguns que pensam que é dito nesta cláusula o mesmo que na seguinte. Por isso, de acordo com eles, apagar o Espírito é precisamente o mesmo que desprezar as profecias. Como, porém, o Espírito é apagado de diversas maneiras, faço uma distinção entre estas duas coisas – a de uma declaração geral, e outra particular. Pois, embora o desprezo pelas profecias seja um apagar do Espírito, também apagam o Espírito aqueles que, ao invés de aumentarem, tal como deveriam, cada vez mais, pelo progresso diário, as fagulhas que Deus acendeu neles, pela sua negligência tornam vãos os dons de Deus. Portanto, esta admoestação, quanto a não apagar o Espírito, possui um sentido mais extenso do que o da seguinte, quanto a não desprezar as profecias. O sentido da primeira é: “Sede iluminados pelo Espírito de Deus. Vede que não percais aquela luz pela vossa ingratidão”. Esta é uma admoestação muitíssimo útil, pois sabemos que aqueles que foram uma vez iluminados (Hb 6.4), quando rejeitam um dom tão precioso de Deus, ou, fechando os olhos, permitem-se ser arrebatados pela vaidade do mundo, são atingidos de terrível cegueira, não servindo de exemplo para outros. Portanto, devemos estar alerta contra a indolência, pela qual a luz de Deus é abafada em nós.

Contudo, aqueles que inferem a partir disto que está na escolha do homem apagar ou alimentar a luz que lhe é apresentada, assim diminuindo a eficácia da graça, e exaltando os poderes do livre arbítrio, raciocinam sobre falsas premissas. Pois, embora Deus opere eficazmente em seus eleitos, e não apenas lhes apresente a luz, mas os faça ver, abra os olhos do seu coração, e os mantenha abertos; contudo, como a carne está sempre inclinada à indolência, ela precisa ser despertada por exortações. Mas o que Deus manda pela boca de Paulo, Ele mesmo realiza interiormente. Ao mesmo tempo, nosso papel é pedir ao Senhor, para que ele abasteça com óleo as lâmpadas que acendeu, para que mantenha o pavio limpo, e ainda possa aumentá-lo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“DEMONSTRAÇÃO DO ESPÍRITO E DE PODER”


“DEMONSTRAÇÃO DO ESPÍRITO E DE PODER”

“A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (1Co 2.4).

Ao dizer “a minha pregação não consistiram em em linguagem persuasiva de sabedoria”, o apóstolo Paulo quer significar oratória seleta que mais se empenha e se impregna de artifícios do que preocupar-se com a verdade; e ao mesmo tempo ele aponta para a aparência de acuidade, o que encanta as mentes dos homens. Ele está certo ao atribuir a persuasão à sabedoria humana. Pois, por sua própria majestade, a Palavra do Senhor nos concita, de forma mui veemente, a prestar-lhe obediência. Em contrapartida, a sabedoria humana tem o seu encanto com o qual se insinua; e exibe seus ornamentos pomposos, por assim dizer, por meio dos quais atrai as mentes de seus ouvintes para si mesma. Contra isto Paulo estabelece a “demonstração do Espírito e de poder”, o que a maioria dos intérpretes limita a milagres. Quanto a mim, o entendo num sentido mais amplo, ou seja, como a mão de Deus se estendendo para agir poderosamente através dos apóstolos, de todas as maneiras. Tudo indica que Paulo pôs “Espírito e poder”, significando poder espiritual; ou seguramente, a fim de realçar por meio de sinais e efeitos, como a presença do Espírito de Deus era evidente em seu ministério. E seu uso do termo demonstração, é apropriado. Pois o nosso embotamento, quando olhamos mais de perto as obras de Deus, é tal que, ao fazer uso de instrumentos inferiores, o seu poder se oculta como por meio de muitos véus, de tal maneira que o seu poder não mais nos é claramente perceptível.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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domingo, 16 de abril de 2023

“PORQUANTO VOS AJUNTAIS NÃO PARA MELHOR, E SIM PARA PIOR”


“PORQUANTO VOS AJUNTAIS NÃO PARA MELHOR, E SIM PARA PIOR”

“Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo, porquanto vos ajuntais não para melhor, e sim para pior” (1Co 11.17).

A censura que o apóstolo Paulo externa, contra os erros descritos na primeira parte do capítulo, não passa de simples reprovação, suave e amável, visto que os coríntios cometiam sua ofensa por uma questão de ignorância, e portanto era justo que fossem prontamente perdoados. No início do capítulo, ele os elogia pelo fato de terem fielmente guardado as instruções que lhes ministrara. Agora inicia uma censura mais incisiva, porquanto estavam cometendo certas ofensas de natureza muito mais grave; e desta vez não por ignorância.

Nisto, porém, que vos prescrevo, não vos louvo. Uma contradição paira entre esta frase e o que Paulo diz no início do capítulo. Ele poderia ter posto nestes termos: “Visto que vos tenho elogiado, não tireis conclusão apressada pensando que não haja restrição no meu elogio, pois tenho algo com que responsabilizar-vos, algo que merece, deveras, reprovação”. Em minha opinião, porém, isto não se relaciona unicamente com a Ceia do Senhor, mas também com outros pecados, os quais Paulo mencionará. Portanto, consideremos isto como uma afirmação geral, ao dizer que os coríntios são repreendidos em razão de se reunirem, não para melhor, e sim para pior.

A primeira queixa de Paulo contra eles consiste em que se reuniam, não para melhor; sua segunda queixa é que assim faziam para pior. Certamente que a segunda é de caráter mais grave. Porém, a primeira não deve, tampouco, ser minimizada, pois se prestarmos atenção no que sucede na Igreja, nem uma única reunião do povo deve ser considerada infrutífera. Pois ali ouvimos a instrução divina, oferecemos orações e celebramos os mistérios. A Palavra produz fruto quando confiamos em Deus e o seu temor age e cresce em nós; quando fazemos progresso na vida de santidade; quando gradativamente nos despimos do velho homem; quando avançamos em novidade de vida. Portanto, se não extrairmos quaisquer benefícios das reuniões de culto, e não nos tornarmos pessoas melhores como resultado delas, é a nossa ingratidão que merece vexame, e, portanto, merecemos ser reprovados.

Agora voltamos ao segundo erro, ou seja, os que se reúnem para pior. Este é um problema muito mais sério, todavia é quase sempre resultante do primeiro. Pois se não extraímos nenhum proveito das coisas que Deus nos providenciou, a forma que ele usa para punir nossa indolência é permitindo que nos tornemos piores. E esta é, geralmente, a razão por que a negligência provoca tanta corrupção; e, particularmente, isto é assim porque as pessoas não atentam para a necessidade de se usarem as coisas da maneira como devem ser usadas, com o quase inevitável resultado de que prontamente erram em associar as coisas que são perniciosas.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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domingo, 9 de abril de 2023

“NÃO VENHA EU MESMO A SER DESQUALIFICADO”


“NÃO VENHA EU MESMO A SER DESQUALIFICADO”

“Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co 9.27).

Tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado. Há quem explique estas palavras da seguinte maneira: “A fim de que, tendo ensinado a outrem fielmente e bem, não incorra eu na condenação de Deus por levar uma vida ruim”. Mas a leitura será melhor se se considerar esta frase como a referir-se à sua relação com outrem, da seguinte forma: “Minha vida deve gerar alguma sorte de exemplo para outrem. Portanto, esforço-me por viver de tal maneira que meu caráter e conduta não conflitem com o que eu ensino, e que, portanto, não venha eu a negligenciar as próprias coisas que ordeno a outrem, e assim me envolva em grande infortúnio e traga graves ofensas aos meus irmãos”. Esta frase pode também ser acrescida àquela que Paulo expressou numa afirmação precedente, com este resultado: “Para que não venha eu a ser privado do evangelho, do qual outros vieram a participar através do meu trabalho”.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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sexta-feira, 7 de abril de 2023

“A LOUCURA E A FRAQUEZA DE DEUS”


“A LOUCURA E A FRAQUEZA DE DEUS”

“Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” (1Co 1.25).

Quando Deus trata conosco, de certa forma parece agir estranhamente em razão de sua sabedoria não transparecer; não obstante, o que aparenta ser absurdo excede em sabedoria a toda a argúcia humana. Além do mais, quando Deus oculta seu poder e parece agir como se fosse frágil, o que se imagina ser fragilidade é, não obstante, mais forte do que todo o poder humano. Entretanto, devemos sempre observar, ao lermos estas palavras, que existe aqui uma concessão, segundo fiz notar um pouco antes. Pois alguém pode notar mui claramente quão impróprio é atribuir a Deus, seja loucura ou fraqueza; mas era indispensável que se usassem essas expressões irônicas ao rebater-se a insana arrogância da carne, a qual não hesita em espoliar a Deus de toda a sua glória.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564). 

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“A LOUCURA DA PREGAÇÃO”


“A LOUCURA DA PREGAÇÃO”

“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação” (1Co 1.21).

O apóstolo Paulo faz outra concessão ao chamar o evangelho de “loucura da pregação”, pois esta é precisamente a luz da qual o evangelho é considerado por aqueles “sábios insensatos” que, intoxicados por falsa confiança, não temem sujeitar a inviolável verdade de Deus à sua própria censura. E, além do mais, não há dúvida de que a razão humana não acha nada mais absurdo do que a notícia de que Deus se tornou um homem mortal; que a vida está sujeita à morte; que a justiça foi escondida sob a semelhança do pecado; que a fonte de bênção ficou sujeita à maldição; que por estes meios os homens podem ser redimidos da morte e ser feitos partícipes da bendita imortalidade; que podem voltar a ter posse da vida; que, sendo o pecado abolido, a justiça volta a reinar; que a morte e a maldição podem ser sorvidas. Não obstante, sabemos que o evangelho é, por enquanto, a sabedoria oculta que ultrapassa os céus e suas altitudes, e diante do qual até mesmo os anjos ficam pasmos. Esta é uma porção bíblica excelente, e dela podemos nitidamente ver quão profunda é a obtusidade da mente humana que, cercada de luz, nada percebe. Entretanto, quando a verdade de Deus se descortina diante dos nossos olhos nos achamos completamente cegos, não porque a revelação seja obscura, mas porque somos “alienados no entendimento” (Cl 1.21), significando que não só a vontade, mas também o poder para essas atividades, nos são falhos. Porque, apesar de Deus se nos revelar abertamente, todavia é só pelos olhos da fé que chegamos a contemplá-lo, tendo em mente que recebemos só uma leve noção de sua natureza divina, mas o bastante para pôr-nos na posição de seres indesculpáveis (Rm 1.20).

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564). 

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“LOUCURA PARA OS QUE SE PERDEM”


“LOUCURA PARA OS QUE SE PERDEM”

“Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus (1Co 1.18).

O apostolo Paulo faz aqui uma concessão. Porque, visto que é fácil objetar que o evangelho é considerado com desdém, em toda a parte, se ele se faz conhecido de uma forma desnuda e insignificante, Paulo espontaneamente o admite. Porém, quando ele acrescenta que esse é o ponto de vista daqueles que estão a perecer, significa que pouquíssimo valor deve ser posto em sua opinião. Pois quem iria querer condenar o evangelho para sua perdição? Portanto, esta expressão deve ser entendida como segue: “A pregação da Cruz é considerada loucura por aqueles que estão a perecer, justamente porque não possui ela qualquer atratividade de sabedoria humana que a recomende. Seja como for, em nossa opinião, contudo, a sabedoria de Deus está irradiando-se dela [a pregação da Cruz]”. Paulo, contudo, indiretamente está a censurar o mau juízo dos coríntios, que eram facilmente cativados por meio de palavras sedutoras de mestres megalomaníacos, e ainda olhavam desdenhosamente para o apóstolo de Deus, o qual era dotado com o poder de Deus para a salvação deles, e procediam assim simplesmente porque ele se devotara à pregação de Cristo, “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16)..

Deus nos abençoe! 

João Calvino (1509-1564). 

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