Não apagueis o Espírito (1Ts 5.19).
Esta metáfora deriva-se do
poder e natureza do Espírito; pois, como é o ofício próprio do Espírito iluminar
o entendimento dos homens, e como ele é chamado por esta razão de nossa luz,
é com propriedade que se diz que o apagamos,
quando tornamos vã a sua graça. Há alguns que pensam que é dito nesta
cláusula o mesmo que na seguinte. Por isso, de acordo com eles, apagar o Espírito é precisamente o mesmo
que desprezar as profecias. Como,
porém, o Espírito é apagado de
diversas maneiras, faço uma distinção entre estas duas coisas – a de uma
declaração geral, e outra particular. Pois, embora o desprezo pelas profecias seja um apagar do Espírito, também apagam o Espírito aqueles que, ao invés
de aumentarem, tal como deveriam, cada vez mais, pelo progresso diário, as
fagulhas que Deus acendeu neles, pela sua negligência tornam vãos os dons de
Deus. Portanto, esta admoestação, quanto a não apagar o Espírito, possui
um sentido mais extenso do que o da seguinte, quanto a não desprezar as profecias. O sentido da primeira é: “Sede iluminados pelo Espírito de Deus. Vede que não
percais aquela luz pela vossa ingratidão”. Esta é uma admoestação muitíssimo
útil, pois sabemos que aqueles que foram uma
vez iluminados (Hb 6.4), quando rejeitam um dom tão precioso de Deus, ou,
fechando os olhos, permitem-se ser arrebatados pela vaidade do mundo, são
atingidos de terrível cegueira, não servindo de exemplo para outros. Portanto,
devemos estar alerta contra a indolência, pela qual a luz de Deus é abafada em
nós.
Contudo,
aqueles que inferem a partir disto que está na escolha do homem apagar ou alimentar a luz que lhe é apresentada, assim diminuindo a eficácia da
graça, e exaltando os poderes do livre arbítrio, raciocinam sobre falsas
premissas. Pois, embora Deus opere eficazmente em seus eleitos, e não apenas lhes
apresente a luz, mas os faça ver, abra os olhos do seu coração, e os mantenha abertos;
contudo, como a carne está sempre inclinada à indolência, ela precisa ser
despertada por exortações. Mas o que Deus manda pela boca de Paulo, Ele mesmo
realiza interiormente. Ao mesmo tempo, nosso papel é pedir ao Senhor, para que
ele abasteça com óleo as lâmpadas que acendeu, para que mantenha o pavio limpo,
e ainda possa aumentá-lo.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
Nenhum comentário:
Postar um comentário