“A LOUCURA DA PREGAÇÃO”
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua
própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação”
(1Co 1.21).
O apóstolo Paulo
faz outra concessão ao chamar o evangelho de “loucura da pregação”, pois esta é
precisamente a luz da qual o evangelho é considerado por aqueles “sábios
insensatos” que, intoxicados por falsa confiança, não temem sujeitar a
inviolável verdade de Deus à sua própria censura. E, além do mais, não há
dúvida de que a razão humana não acha nada mais absurdo do que a notícia de que
Deus se tornou um homem mortal; que a vida está sujeita à morte; que a justiça
foi escondida sob a semelhança do pecado; que a fonte de bênção ficou sujeita à
maldição; que por estes meios os homens podem ser redimidos da morte e ser
feitos partícipes da bendita imortalidade; que podem voltar a ter posse da
vida; que, sendo o pecado abolido, a justiça volta a reinar; que a morte e a
maldição podem ser sorvidas. Não obstante, sabemos que o evangelho é, por enquanto,
a sabedoria oculta que ultrapassa os céus e suas altitudes, e diante do qual
até mesmo os anjos ficam pasmos. Esta é uma porção bíblica excelente, e dela podemos
nitidamente ver quão profunda é a obtusidade da mente humana que, cercada de
luz, nada percebe. Entretanto, quando a verdade de Deus se descortina diante
dos nossos olhos nos achamos completamente cegos, não porque a revelação seja
obscura, mas porque somos “alienados no entendimento” (Cl 1.21), significando
que não só a vontade, mas também o poder para essas atividades, nos são falhos.
Porque, apesar de Deus se nos revelar abertamente, todavia é só pelos olhos da
fé que chegamos a contemplá-lo, tendo em mente que recebemos só uma leve noção
de sua natureza divina, mas o bastante para pôr-nos na posição de seres
indesculpáveis (Rm 1.20).
Deus nos
abençoe!
João Calvino
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