“DEMONSTRAÇÃO DO ESPÍRITO E DE PODER”
“A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do
Espírito e de poder” (1Co 2.4).
Ao dizer “a minha pregação não consistiram em em linguagem persuasiva de
sabedoria”, o apóstolo Paulo quer significar oratória seleta que mais se
empenha e se impregna de artifícios do que preocupar-se com a verdade; e ao
mesmo tempo ele aponta para a aparência de acuidade, o que encanta as mentes
dos homens. Ele está certo ao atribuir a persuasão à sabedoria humana. Pois,
por sua própria majestade, a Palavra do Senhor nos concita, de forma mui
veemente, a prestar-lhe obediência. Em contrapartida, a sabedoria humana tem o
seu encanto com o qual se insinua; e exibe seus ornamentos pomposos, por assim
dizer, por meio dos quais atrai as mentes de seus ouvintes para si mesma.
Contra isto Paulo estabelece a “demonstração do Espírito e de poder”, o que a
maioria dos intérpretes limita a milagres. Quanto a mim, o entendo num sentido
mais amplo, ou seja, como a mão de Deus se estendendo para agir poderosamente
através dos apóstolos, de todas as maneiras. Tudo indica que Paulo pôs
“Espírito e poder”, significando poder espiritual; ou seguramente, a fim de
realçar por meio de sinais e efeitos, como a presença do Espírito de Deus era
evidente em seu ministério. E seu uso do termo demonstração, é
apropriado. Pois o nosso embotamento, quando olhamos mais de perto as obras de
Deus, é tal que, ao fazer uso de instrumentos inferiores, o seu poder se oculta
como por meio de muitos véus, de tal maneira que o seu poder não mais nos é
claramente perceptível.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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