"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



sábado, 28 de dezembro de 2024

“TENDO O DESEJO DE PARTIR E ESTAR COM CRISTO”


“TENDO O DESEJO DE PARTIR E ESTAR COM CRISTO”

“Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp 1.23).

Ora, de um e outro lado, estou constrangido. O apóstolo Paulo não deseja viver com nenhum outro objetivo em vista senão a promoção da glória de Cristo, e fazer o bem aos irmãos. Daí ele enxergar nenhuma outra vantagem em viver senão o bem-estar dos irmãos. Mas, no que diz respeito a si mesmo, ele reconhece que lhe seria preferível morrer logo, visto que [nesse caso] passaria a estar com Cristo. Apesar disso, por sua escolha ele revela que ardente amor havia em seu coração. Aqui nada se diz sobre vantagens terrenas, mas sobre benefício espiritual, o qual é um motivo supremamente desejável aos olhos dos santos. Entretanto, como se esquecesse de si mesmo, ele não só se mantém indeciso, para que não levasse em conta seu próprio benefício, e sim o dos filipenses, mas, por fim, conclui que em sua mente devia vencer o interesse deles. E, com toda certeza, isto é na verdade viver ou morrer para Cristo, quando, sendo indiferente em relação a nós mesmos, nos deixemos ser levados aonde quer que Cristo nos chame e, ali, usados.

Tendo o desejo de partir e [de] estar com Cristo. Estas duas coisas têm de ser lidas em conexão. Pois a morte, por si só, nunca será desejável, uma vez que tal desejo se opõe ao sentimento natural, porém, é desejável por alguma razão particular, ou com vistas a algum outro fim. Pessoas em desespero têm recorrido a ela por se sentirem cansadas da vida; os crentes, por sua vez, espontaneamente se apressam para ela, pois [isso] representa um livramento da servidão do pecado e [também] o ingresso no reino celestial. Ora, o que Paulo diz é o seguinte: “Desejo morrer, porque quero, por esse meio, entrar imediatamente na comunhão com Cristo.” Entrementes, os crentes não deixam de encarar a morte com horror, mas quando volvem seus olhos para aquela vida que segue a morte, vencem com facilidade todo medo em virtude dessa consolação. Inquestionavelmente, todo aquele que crê em Cristo deve ser de tal modo corajoso que erga sua cabeça ante a menção da morte, com o coração cheio de alegria só de tomar consciência de sua redenção [Lc 21.28]. A partir deste fato notamos quantos são os cristãos nominais, visto que a maioria, ao ouvir fazer-se menção da morte, fica não só alarmada, mas se sente quase que desfalecida de medo, como se nunca tivesse ouvido sequer uma palavra sobre Cristo. Quão preciosa e valiosa é uma boa consciência! Ora, a fé é o fundamento de uma boa consciência; não só isso, ela é a própria bondade da consciência.

Partir. É preciso notar bem esta forma de expressão. As pessoas profanas falam da morte como sendo a destruição do homem, como se este perecesse completamente. Aqui, Paulo nos lembra que a morte é a separação entre a alma e o corpo. E ele expressa isso mais plenamente logo a seguir, explicando que condição aguarda os crentes após a morte - habitação com Cristo. Estamos com Cristo mesmo nesta vida, visto que o reino de Deus está dentro de nós [Lc 17.21], e Cristo habita em nós pela fé [Ef 3.17], e prometeu que estará conosco até o fim do mundo [Mt 28.20], mas desfrutamos dessa presença só em esperança. Daí, quanto ao nosso sentimento, é-nos informado que, no tocante à presença, estamos longe dele [cf. 2C0 5.6]. Esta passagem é muito útil para afastar a fantasia tola daqueles que sonham que as almas dormem assim que se separam do corpo, pois o apóstolo declara francamente que desfrutamos da presença de Cristo assim que nos livramos do corpo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

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