“AO NOME DE JESUS SE DOBRE TODO JOELHO”
“Para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra” (Fp 2.10).
Para que se dobre todo joelho. Ainda que se deva mostrar respeito
também pelos homens, por meio deste rito, não pode haver dúvida que o que aqui
está implícito é aquela adoração que pertence exclusivamente a Deus, da qual o
curvar-se é um emblema. Quanto a isto, é oportuno observar que Deus deve ser
adorado não meramente com o afeto íntimo do coração, mas também pela profissão
externa, se quisermos render-lhe o que lhe é devido. Daí, em contrapartida, ao
descrever seus genuínos adoradores, ele diz: “todos os joelhos que não se
dobraram a Baal” [1Rs 19.18].
Aqui, porém, surge uma pergunta: isto
se relaciona com a divindade de Cristo, ou com sua humanidade, porquanto
qualquer das duas contém alguma inconsistência, visto que não se poderia
outorgar nada novo à sua divindade; e à sua humanidade, em si mesma, vista separadamente,
de modo algum possui alguma exaltação que pudesse ser adorada como Deus?
Respondo que isto, como muitas outras coisas, é afirmado em referência à pessoa
inteira de Cristo, vista como “Deus manifestado na carne” [1Tm 3.16]. Pois ele
não se aviltou, seja quanto à humanidade sozinha, ou quanto à divindade
sozinha, senão que, uma vez que ele se vestiu de nossa carne, ele se ocultou
sob sua fragilidade. De modo que Deus exaltou seu próprio Filho na mesma carne
na qual vivera no mundo abjeto e desprezível, a mais elevada posição de honra,
para que se assentasse à sua destra.
Contudo, o apóstolo Paulo parece ser
inconsistente consigo mesmo; pois, em Romanos 14.11, ele cita esta mesma
passagem, quando ele tem em vista provar que Cristo um dia será o Juiz de vivos
e de mortos. Ora, não seria aplicável àquele tema se já houvesse concretizado o
que ele declara aqui. Respondo que o reino de Cristo possui uma base tal que a
todo dia vai crescendo e avançando em perfeição, enquanto que, ao mesmo tempo,
ainda não atingiu a perfeição, nem será reconhecido assim até o dia final.
Assim, ambas as coisas se mantêm verdadeiras - que todas as coisas ora estão
sujeitas a Cristo, e que esta sujeição, não obstante, não se completará até o
dia da ressurreição, porque aquilo que agora apenas começou então se completará.
Daí não ser sem razão que esta profecia se aplica de diferentes maneiras e em
diferentes tempos, como também todas as demais profecias que falam do reinado
de Cristo não se restringem a um só tempo particular, mas o descreve em todo
seu curso. Não obstante, disto inferimos que Cristo é aquele Deus eterno que
falou pelos lábios de Isaías.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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