"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



domingo, 22 de dezembro de 2024

“DEUS O EXALTOU SOBREMANEIRA”


“DEUS O EXALTOU SOBREMANEIRA”

“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9).

Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira. Não se achará ninguém, é verdade, que reconheça ser algo racional o que nos é requerido, quando somos exortados a imitar a Cristo. Esta consideração, contudo, nos estimula a imitá-lo com todo entusiasmo, quando aprendemos que nada nos é mais vantajoso do que nos conformarmos à sua imagem. Ora, é feliz todo aquele que, juntamente com Cristo, voluntariamente se humilha; e ele mesmo o demonstra com seu exemplo; porque, da condição mui desprezível ele foi exaltado a uma elevação suprema. Portanto, todo aquele que se humilha será de modo semelhante exaltado. Ora, quem se sentirá relutante em exercer humildade, por meio da qual se obtém a glória do reino celestial?

Esta passagem tem propiciado ocasião aos sofistas, ou, melhor, eles têm se assenhoreado dela, para alegarem que Cristo veio para granjear mérito, primeiramente para si mesmo, e depois para outros. Ora, em primeiro lugar, mesmo que nada houvesse de falso nesta alegação, não obstante seria oportuno evitar tais especulações profanas que obscurecem a graça de Cristo - imaginar que ele veio por qualquer outra razão e não com vistas à nossa salvação. Quem não percebe ser esta uma sugestão de Satanás - que Cristo sofreu no madeiro com o fim de adquirir para si, pelo mérito de sua obra, o que ainda não possuía? Pois o desígnio do Espírito Santo é que nós, na morte de Cristo, nada vemos, provamos, ponderamos, sentimos e reconhecemos senão a pura bondade de Deus, e o amor de Cristo para conosco, o qual era tão imenso e inestimável, que, desconsiderando a si próprio, devotou a si e a sua vida para nosso bem. Em todo transe em que as Escrituras falam da morte de Cristo, elas nos assinalam sua vantagem e preço: que, por meio dela, somos redimidos; reconciliados com Deus; restaurados à justiça; purificados de nossas poluições; a vida nos é conquistada e os portões da vida, abertos. Quem, pois, negaria ser por instigação de Satanás que as pessoas referidas mantêm, em contrapartida, que a parte principal da vantagem está em Cristo mesmo - que em consideração a si próprio ele manteve a precedência daquilo que tinha para nós; que ele mereceu para si glória antes de merecer-nos salvação?

Ademais, nego a veracidade do que alegam, e mantenho que as palavras de Paulo são impiamente pervertidas para alegar sua falsidade; porquanto a expressão, por esta causa, denota, aqui, uma consequência, antes que uma razão, e se manifesta disto: que de outro modo se seguiria que um homem poderia merecer honras divinas e adquirir o próprio trono de Deus - o que é não meramente absurdo, mas inclusive medonho até mesmo de mencionar. Pois, de que exaltação de Cristo o apóstolo fala aqui? É que tudo quanto fosse realizado nele, Deus, pelo profeta Isaías, reivindica exclusivamente para si. Daí a glória de Deus, e a majestade, que lhe é tão peculiar, que não podem ser transferidas a nenhum outro, serão recompensa de esforço humano!

Uma vez mais, se insistem no modo de expressão, sem qualquer consideração ao absurdo que seguirá, a resposta será fácil - que ele nos foi dado pelo Pai de maneira tal que toda sua vida é como um espelho que é posto diante de nós. Como, pois, um espelho, ainda que tenha esplendor, não o tem de si próprio, mas com vistas a ser vantajoso e proveitoso a outros; assim Cristo não buscou nem recebeu nada para si mesmo, mas tudo para nós. Pois que necessidade, pergunto, tinha ele, que era igual ao Pai, de uma nova exaltação? Então, que os leitores piedosos aprendam a detestar os sofistas de Sorbonne com suas especulações pervertidas.

E lhe deu um nome. Aqui, emprega-se nome no sentido de dignidade. Portanto, o significado é que foi dado a Cristo o poder supremo, e que ele foi posto na mais elevada posição de honra, de modo que não se acha dignidade, seja no céu, seja na terra, que seja igual à dele. Daí se segue que o mesmo é um nome divino. Ele explica isto também citando as palavras de Isaías, onde o profeta, ao tratar da propagação do culto divino por todo o orbe, apresenta Deus falando assim: “Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua” [Is 45.23].

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.

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