“CRIOU DEUS, POIS, O HOMEM À SUA IMAGEM”
“Criou Deus,
pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”
(Gn 1.27).
Não sei se há algo
sólido na opinião de alguns que sustentam que isso é dito porque a imagem de
Deus apenas se insinuou no homem, até que atingisse sua perfeição. De fato isso
procede, porém não creio que algo do gênero passou pela mente de Moisés. É
verdade também que Cristo é a única imagem do Pai; no entanto, as palavras de
Moisés não comportam a interpretação que “à imagem” significa “em Cristo”. Pode-se
acrescentar também que mesmo o homem, ainda que num aspecto diferente, é
chamado a imagem de Deus. Nisto alguns Pais da igreja se enganaram, ao
insinuarem que poderiam vencer os arianos com essa arma, a saber, que Cristo é
a única imagem de Deus. É preciso levar em conta uma dificuldade ainda maior, a
saber, por que Paulo negaria à mulher
a imagem de Deus, quando Moises honra a ambos, indiscriminadamente, com esse
título? A solução é simples: a referência de Paulo, ali, é somente à relação doméstica.
E, portanto, restringe a imagem de Deus ao governo
do lar, no qual o homem, como cabeça, é superior à mulher, e certamente Moisés tem
em vista nada mais que o fato de que o homem é superior no grau de honra. Aqui,
porém, a questão é acerca daquela glória de Deus que resplandece
particularmente na natureza humana, onde a mente, a vontade, e todos os sentidos
representam a ordem divina.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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