SALMO 13.1
Introdução
Davi, sentindo-se aflito,
não só com a mais profunda angústia, mas também sentindo-se, por assim dizer,
submerso em um turbilhão de calamidades e uma multiplicidade de aflições,
implora o auxílio e o socorro de Deus. Na conclusão do Salmo, tomando alento, acalenta a
iniludível esperança de vida, à luz da promessa de Deus, mesmo em meio aos
terrores da morte.
“Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de
mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” (v.1).
É plenamente
indiscutível que Davi era grandemente odiado pela maioria do povo, em razão das
calamidades e más notícias que circulavam contra ele, ao ponto de quase todos
os homens julgarem que Deus não nutria menos hostilidade por ele do que Saul e
seus outros inimigos. Mas aqui ele fala não tanto segundo a opinião de outros,
mas de acordo com a angústia de sua própria mente, queixando-se de ser
negligenciado por Deus. Não que a convicção da veracidade das promessas de Deus
estivesse extinta de seu coração, ou que ele não descansasse em sua graça; mas
quando nos vemos por muito tempo sobrecarregados com calamidades, e quando não
mais avistamos qualquer sinal do auxílio divino, este pensamento
inevitavelmente se nos impõe, ou seja: Deus
se esqueceu de mim!
Reconhecer em meio às
nossas aflições que Deus realmente se preocupa conosco não é muito próprio dos
homens nem é o que a própria natureza nos induz a fazer; mas é pela fé que
tomamos posse de sua providência invisível. Portanto, Davi, aparentemente, até
onde possa ser julgado à luz do real estado de suas atividades, estava de fato
esquecido por Deus. Ao mesmo tempo, contudo, os olhos de sua mente, guiados
pela luz da fé, penetraram até mesmo a graça de Deus, ainda que estivesse ela
envolta em trevas.
Quando Davi disse que nem
sequer um único raio de esperança havia em qualquer direção para a qual se
voltasse, até onde a razão humana pudesse julgar, constrangido pela tristeza,
ele clama, dizendo que Deus não o levara em conta; e no entanto por sua própria
queixa ele fornece evidência de que a fé o capacitara a pôr-se em lugar mais
alto, e chega à conclusão de que, ao contrário do juízo da carne, seu bem-estar
estava seguro nas mãos de Deus. Do contrário, como era possível que tivesse
dirigido a Deus seus gemidos e orações? Seguindo este exemplo, devemos então
lutar contra as aflições, protegidos pela certeza de fé, mesmo submersos no
mais emaranhado dos conflitos [cotidianos], confessando que as calamidades que
nos induzem ao desespero têm de ser vencidas; justamente como vemos que a
fraqueza da carne não podia impedir Davi de recorrer a Deus e de encontrar nele
seus recursos. E assim ele associa em seus exercícios, com muita beleza, os
sentimentos que aparentemente são contraditórios.
Nas palavras, Até
quando, SENHOR? Temos uma forma defectiva de expressão; mas ela é muito mais
enfática do que se ele houvera posto a questão segundo o modo usual de falar: Porque demoras tanto? Ao
falar assim, ele nos dá a entender que, com o propósito de nutrir sua esperança
e encorajar-se no exercício da paciência, ele estendeu sua vista para um
horizonte longínquo, e portanto não se queixa de uma calamidade que durava
apenas uns poucos dias, como os medrosos costumam fazer, os quais só veem o que
está diante de seus olhos, e imediatamente sucumbem ao primeiro problema. Davi
nos ensina, pois, mediante seu exemplo, a estender nossa vista, o máximo
possível, para o futuro, a fim de que nossa presente tristeza não consiga
privar-nos inteiramente da visão da esperança.
*Resumo dos comentários, Salmo 13 - Edições Paracletos.
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