"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 5 de novembro de 2020

“Até quando, SENHOR?”


“Até quando, SENHOR?

SALMO 13.1

Introdução

Davi, sentindo-se aflito, não só com a mais profunda angústia, mas também sentindo-se, por assim dizer, submerso em um turbilhão de calamidades e uma multiplicidade de aflições, implora o auxílio e o socorro de Deus. Na conclusão do Salmo, tomando alento, acalenta a iniludível esperança de vida, à luz da promessa de Deus, mesmo em meio aos terrores da morte.

“Até quando, SENHOR? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto?” (v.1).

É plenamente indiscutível que Davi era grandemente odiado pela maioria do povo, em razão das calamidades e más notícias que circulavam contra ele, ao ponto de quase todos os homens julgarem que Deus não nutria menos hostilidade por ele do que Saul e seus outros inimigos. Mas aqui ele fala não tanto segundo a opinião de outros, mas de acordo com a angústia de sua própria mente, queixando-se de ser negligenciado por Deus. Não que a convicção da veracidade das promessas de Deus estivesse extinta de seu coração, ou que ele não descansasse em sua graça; mas quando nos vemos por muito tempo sobrecarregados com calamidades, e quando não mais avistamos qualquer sinal do auxílio divino, este pensamento inevitavelmente se nos impõe, ou seja: Deus se esqueceu de mim!

Reconhecer em meio às nossas aflições que Deus realmente se preocupa conosco não é muito próprio dos homens nem é o que a própria natureza nos induz a fazer; mas é pela fé que tomamos posse de sua providência invisível. Portanto, Davi, aparentemente, até onde possa ser julgado à luz do real estado de suas atividades, estava de fato esquecido por Deus. Ao mesmo tempo, contudo, os olhos de sua mente, guiados pela luz da fé, penetraram até mesmo a graça de Deus, ainda que estivesse ela envolta em trevas.

Quando Davi disse que nem sequer um único raio de esperança havia em qualquer direção para a qual se voltasse, até onde a razão humana pudesse julgar, constrangido pela tristeza, ele clama, dizendo que Deus não o levara em conta; e no entanto por sua própria queixa ele fornece evidência de que a fé o capacitara a pôr-se em lugar mais alto, e chega à conclusão de que, ao contrário do juízo da carne, seu bem-estar estava seguro nas mãos de Deus. Do contrário, como era possível que tivesse dirigido a Deus seus gemidos e orações? Seguindo este exemplo, devemos então lutar contra as aflições, protegidos pela certeza de fé, mesmo submersos no mais emaranhado dos conflitos [cotidianos], confessando que as calamidades que nos induzem ao desespero têm de ser vencidas; justamente como vemos que a fraqueza da carne não podia impedir Davi de recorrer a Deus e de encontrar nele seus recursos. E assim ele associa em seus exercícios, com muita beleza, os sentimentos que aparentemente são contraditórios.

Nas palavras, Até quando, SENHOR? Temos uma forma defectiva de expressão; mas ela é muito mais enfática do que se ele houvera posto a questão segundo o modo usual de falar: Porque demoras tanto? Ao falar assim, ele nos dá a entender que, com o propósito de nutrir sua esperança e encorajar-se no exercício da paciência, ele estendeu sua vista para um horizonte longínquo, e portanto não se queixa de uma calamidade que durava apenas uns poucos dias, como os medrosos costumam fazer, os quais só veem o que está diante de seus olhos, e imediatamente sucumbem ao primeiro problema. Davi nos ensina, pois, mediante seu exemplo, a estender nossa vista, o máximo possível, para o futuro, a fim de que nossa presente tristeza não consiga privar-nos inteiramente da visão da esperança.

João Calvino (1509-1564).

*Resumo dos comentários, Salmo 13 - Edições Paracletos.

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba/PR.
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.
(41)3242-1115

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