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quinta-feira, 27 de outubro de 2022

“LUGARES ESCORREGADIOS”


“LUGARES ESCORREGADIOS”

“Certamente tu os puseste em lugares escorregadios; tu os precipitarás na destruição” (Sl 73.18).

O salmista, passando em revista seus conflitos, começa, se pudermos usar tal expressão, sentindo-se um novo homem; e fala com mente tranquila  e  compassada,  sendo,  por assim  dizer, elevado  a uma  torre  de vigia, donde obtém uma clara e distinta visão das coisas que antes lhe eram ocultas. A resolução do profeta Habacuque era de assumir tal posição, e, por seu exemplo, ele nos prescreve isso como um antídoto em meio às tribulações - “Pôr-me-ei em minha guarda”, diz ele, “e pôr-me-ei sobre  a torre”  (Hc 2.1). 

O salmista, pois, mostra quanta vantagem se pode derivar do acesso a Deus. Agora vejo, diz ele, como procedes em tua providência; pois, embora os ímpios continuem estáveis por um breve tempo, contudo estão, por assim dizer, empoleirados em lugares escorregadios, a fim de caírem antes que sejam precipitados na destruição. Ambos os verbos deste versículo estão no pretérito; mas o primeiro, os puseste em lugares escorregadios, deve ser entendido no tempo presente, como se houvesse dito: Deus, por um breve período, os põe em lugares altos, e, quando caem, sua queda pode ser extremamente pesada. É verdade que essa parece ser a porção tanto dos justos quanto dos ímpios; pois tudo neste mundo é escorregadio, incerto e mutável.  Visto, porém, que os crentes dependem do céu, ou, melhor, visto que o poder de Deus é o fundamento sobre o qual descansam, não se afirma deles que são postos em lugares escorregadios, não obstante a fragilidade e incerteza que caracterizam sua condição neste mundo. Que embora tremam ou mesmo caiam, o Senhor tem sua mão sob eles para sustê-los e fortalecê-los quando tremerem, e erguê-los quando estiverem prostrados.

A incerteza da condição dos ímpios, ou, como ele aqui o expressa, sua condição escorregadia, procede disto: que eles sentem prazer em contemplar seu próprio poder e grandeza, e se admiram por essa conta, tal como uma pessoa que teria de caminhar ociosamente sobre o gelo; e assim, por sua enfatuada presunção, se preparam para cair de ponta cabeça. Não devemos delinear em nossa imaginação a roda da fortuna, a qual, quando gira, enreda todas as coisas em total confusão; devemos, porém, admitir a verdade em relação à qual o profeta aqui chama a atenção, e a qual ele nos diz se faz conhecida de todos os santos no santuário, ou, seja, que há uma secreta e divina providência que administra todas as atividades do mundo.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil no bairro Fazendinha/Curitiba.
Rua Elias Karan, 150..

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