quarta-feira, 21 de setembro de 2016
Deus Ordena aos Homens que Creiam
segunda-feira, 19 de setembro de 2016
Fé, um ato da Inteligência e da Vontade
A alma possui duas faculdades principais - o entendimento e a vontade - a Escritura costuma mencionar em alguns casos estas duas coisas separadamente, quando propõe expressar o poder e a natureza da alma. O termo alma pode ser empregado no sentido da sede das afeições. E quando nos deparamos com a menção ao espírito, entendemos isto como denotando a razão ou inteligência. Assim sendo, levantamos a seguinte questão: Até onde a fé é um ato da inteligência, e até onde é um ato da vontade? Há em nós a capacidade de saber, conhecer e amar, desejar e decidir, e estes diversos atos da alma reúnem-se sobre o mesmo objeto. Nós não podemos amar, nem desejar, nem escolher aquilo que não conhecemos, nem podemos conhecer um objeto como bom ou verdadeiro sem que haja alguma afeição da vontade para com ele. O assentimento dado a uma verdade especulativa pode ser simplesmente um ato da inteligência; mas a crença numa verdade moral, num testemunho, em promessas, é necessariamente um ato complexo, abrangendo a vontade bem como a inteligência. “Qual a razão porque não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra” (Jo 8.43). A inteligência apreende a verdade a crer, e avalia a validade das provas; mas a disposição para crer no testemunho, ou nas provas morais, tem sua base na vontade. A real confiança numa promessa é um ato da vontade, e não somente um juízo da inteligência sobre a fé que a promessa merece. Há uma relação exata entre o juízo moral e os afetos, e a vontade, como a sede dos afetos morais, determina os juízos morais. Por isso, assim como o homem é responsável por sua vontade, também o é por sua fé. “Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” (Is 55.3). Até onde a fé inclui em si um ato de “cognição”, ela é evidentemente um ato da inteligência. Entretanto até onde inclui em si “assentimento” e “confiança”, envolve também as faculdades espontâneas e ativas da alma – “a vontade” – e nos seus exercícios superiores envolve muitas vezes a própria volição proposital. “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim. Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39,40). Medita nestas coisas!
Rev. José Oliveira Filho
*1Tessalonicenses – Comentários de João Calvino
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil no Champagnat
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
“SANTIFICADOS NO ESPÍRITO, ALMA E CORPO”
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em
tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tes 5.23).
Sem sombra de dúvida, a doutrina é disseminada em vão, a menos que
Deus a implante em nossas mentes. O apóstolo Paulo, concordemente, sabendo que
toda a doutrina é inútil enquanto Deus não a grava, por assim dizer, com o seu
próprio dedo em nossos corações, suplica a Deus que santifique os
tessalonicenses.
Sabemos,
porém, que, sob o termo santificação, está inclusa toda a renovação do
homem. É verdade que os tessalonicenses haviam sido em parte renovados, mas
Paulo deseja que Deus aperfeiçoe o que resta. A partir disto inferimos que
devemos, durante toda a nossa vida, fazer progresso na busca da santidade. Mas,
se é o papel de Deus renovar todo o homem, não resta nada para o livre
arbítrio. Pois, se fosse o nosso papel cooperar com Deus, Paulo teria falado assim:
“Que Deus ajude ou promova a vossa santificação”. Mas, quando diz: vos
santifique em tudo, ele o torna o Autor exclusivo de toda a obra.
E todo o vosso
espírito. Isto é acrescentado como explicação, para
que saibamos que a santificação de todo o homem é quando ele se conserva
íntegro, ou puro, e incontaminado, em espírito, alma e corpo, até o dia
de Cristo. Como, porém, tão completa integridade nunca será satisfeita nesta
vida, convém que certo progresso em pureza seja feito diariamente, e algo seja
removido de nossas contaminações enquanto vivemos no mundo.
Contudo,
devemos notar esta divisão das partes constituintes do homem; pois, em alguns
casos, é dito que o homem consiste simplesmente de corpo e alma; e,
neste caso, o termo alma denota o espírito imortal, que reside no corpo
como em uma habitação. Porém, como a alma possui duas faculdades
principais – o entendimento e a vontade – a Escritura costuma mencionar em
alguns casos estas duas coisas separadamente, quando propõe expressar o poder e
a natureza da alma; mas, neste caso, o termo alma é empregado no
sentido das sede das afeições, de modo que é a parte que se opõe ao espírito.
Por isso, quando nos deparamos aqui com a menção ao espírito, entendamos
isto como e notando a razão ou inteligência, assim como, por outro lado, o
termo alma significa a vontade e todas as afeições.
Sei que muitos
explicam as palavras de Paulo de outro modo, pois são da opinião de que, pelo
termo alma, faz-se referência ao movimento vital, e, pelo espírito, àquela
parte do homem que foi renovada; mas, neste caso, a oração de Paulo seria
absurda. Ademais, é em outro sentido, conforme disse, que o termo costuma ser
utilizado na Escritura. Quando Isaías diz: “Com minha alma te desejei de
noite, e com o meu espírito, madrugarei a buscar-te” (Is 26:9), ninguém duvida
de que ele fala do seu entendimento e afeição, e assim enumera dois aspectos da
alma. Estes dois termos estão associados nos Salmos no mesmo sentido.
Isto, também, corresponde melhor à declaração de Paulo. Pois como todo o homem
é íntegro, exceto quando seus pensamentos são puros e santos, quando
todas as suas afeições são retas e propriamente reguladas, quando, enfim, o
próprio corpo mostra seus esforços e serviços apenas em boas obras? Pois a
faculdade do entendimento é considerada pelos filósofos, por assim dizer, como
se fosse uma mestra: as afeições ocupam um lugar médio no controle; o corpo
presta obediência. Agora vemos bem como tudo corresponde. Pois nesse caso o
homem é puro e íntegro quando não pensa nada em sua mente, não deseja nada em
seu coração, não faz nada com o seu corpo, exceto o que é aprovado por Deus.
Porém, como deste modo Paulo confia a Deus a guarda de todo o homem, e de todas
as suas partes, devemos inferir a partir disto que estamos expostos a inúmeros
perigos, a menos que sejamos protegidos pela sua guarda.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).