“PROVIDÊNCIA ORDINÁRIA DE DEUS” – CAUSAS SECUNDÁRIAS E MILAGRES
“Ajuntaram-se os sátrapas, os prefeitos, os governadores e conselheiros do rei e viram que o fogo não teve poder algum sobre os corpos destes homens; nem foram chamuscados os cabelos da sua cabeça, nem os seus mantos se mudaram, nem cheiro de fogo passara sobre eles” (Dn 3.27).
“Deus, em sua providência ordinária, faz uso de meios, todavia ele é livre
para operar sem eles, sobre eles e contra eles, como lhe apraz” (CFW. cap V,
seção III).
Ref. At 27.31,44; Is 55.10,11; Os 2.21,22; Os 1.7; Mt 4.4; Jó 34.10; Rm
4.19-21; 2Rs 6.6; Dn 3.27.
Na providência ordinária e na administração de uma economia supernatural
da graça, na esfera da natureza material e no governo moral dos agentes
inteligentes e responsáveis, no governo do mundo concluído como encontramos e
em toda a história da formação da terra e dos mundos no passado, Deus
universalmente consumou seus propósitos através da agência de causas
secundárias, ajustadas, combinadas, sustentadas e tornadas eficientes, por meio
de seu onipresente Espírito para esse próprio fim.
Visto que Deus criou todas as causas secundárias e as dotou com suas propriedades, e continua a conservá-las em sua existência, para que sejam os instrumentos de sua vontade, toda a sua eficiência é derivada dele, e ele pode fazer diretamente sem elas o que faz com elas, e as limita, as modifica e as substitui como lhe apraz. Deus possui o poder de efetuar seus fins imediatamente, sem a intervenção de causas secundárias. Ele, às vezes, em seu soberano beneplácito, exerce esse poder.
O exercício direto e ocasional do poder de Deus, em conexão com um
sistema geral de meios e leis se comprova necessário, não só no “princípio”
para criar as causas secundárias e inaugurar sua agência, mas também
subsequentemente a fim de fazer aos objetos de seu governo moral a revelação de
sua soberana personalidade e de seu imediato interesse nas atividades deles. De
qualquer forma, tal ação e revelação diretas e ocasionais são certamente
necessárias para a educação de tais seres, como o homem é em seu presente
estado. Tem-se objetado que os milagres, ou atos diretos do poder divino,
interferindo na ação natural das causas secundárias, são inconsistentes com as
perfeições infinitas de Deus, porquanto, alega-se, eles indicam ou uma violação
de propósitos de sua parte, ou alguma insuficiência em sua criação para efetuar
completamente os fins que ele originalmente tencionou realizar. Deve-se
lembrar, contudo, que o eterno e imutável plano de Deus compreendia o milagre
desde o início, bem como o curso ordinário da natureza. Um milagre, embora
efetuado pelo poder divino, sem meios, é por si só um meio para um fim e parte
de um plano. Toda lei natural tem sua origem na razão divina e é uma expressão
da vontade de efetuar um propósito. Nesse sentido mais elevado e
todo-abrangente da palavra, milagres são também segundo a lei – são fixos em
sua ocorrência pelo eterno plano de Deus, e servem a fins definidos como seu
meio de se comunicar com e educar espíritos finitos. Não são de forma alguma
uma violação da ordem da natureza, mas apenas a ocasional e eternamente pré-calculada
interpolação de um novo poder, a energia imediata da vontade divina, bem como o
instrumento usado subservientemente para aquele governo moral mais elevado no
interesse do qual os milagres são operados. E assim, a ordem da natureza e os
milagres, em vez de se porem em conflitos, sãos os elementos intimamente
correlacionados de um sistema compreensível.
Deus nos abençoe!
A.A.Hodge (1823-1886).
*Confissão de Fé de Westminster Comentada, Editora Os Puritanos.