“O
RESPLENDOR DA GLÓRIA”
“Ele, que é o resplendor da glória e a
expressão exata do seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu
poder, depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da
Majestade, nas alturas” (Hb 1.3).
Essa expressão, “o resplendor da glória”, tem referência em parte à
natureza divina de Cristo, e em parte ao seu revestir-se de nossa carne. O que
é descrito como “o resplendor da glória e a expressão
exata do seu Ser” pertence propriamente dito à sua divindade; o restante
tem referência à sua natureza humana. Tudo, porém, se acha registrado com o fim
de proclamar a dignidade de Cristo. Justamente por isso, o Filho é denominado
“o resplendor da glória e a expressão exata
do seu Ser”. Ambos os termos pertencem à linguagem comum. Em questões
tão imensas e tão profundas nada se pode dizer senão por meio de analogia
extraída das coisas pertencentes à esfera do concreto. Também não há
necessidade de discutirmos com demasiada sutileza como o Filho que é de uma
mesma essência com o Pai, é a glória fulgurante de seu esplendor. Devemos
admitir que há certa medida de impropriedade no que é extraído das coisas
terrenas e aplicado à majestade oculta de Deus. Ao mesmo tempo, as coisas que
são perceptíveis pelos nossos sentidos são apropriadamente aplicadas a Deus,
para que possamos discernir o que deve ser encontrado em Cristo e quais os
benefícios que isso nos traz. Deve-se também observar que esse não é um ensino
de fúteis especulações, e, sim, a exposição de uma inabalável doutrina de fé.
Devemos, portanto, aplicar esses títulos de Cristo para o nosso próprio
benefício, visto que tem relação direta conosco. Quando você ouve que o Filho é
a glória da glória do Pai, tenha em mente que a glória do Pai lhe é invisível
até que ela resplandeça em Cristo. E essa é a razão por que ele é chamado a
própria imagem da substância divina, porque a majestade do Pai é oculta, até
que ela se revele como uma expressão da própria imagem divina. Perceba que a
intenção do apóstolo em seu argumento não era descrever a semelhança do Pai com
o Filho dentro da Deidade, mas sim, edificar de maneira frutífera nossa fé, a
fim de sabermos que Deus não nos é revelado de outra maneira senão em Cristo. O
fulgor da substância de Deus é tão forte que fere nossos olhos, até que ela se
projete na Pessoa de Cristo. Segue-se disso que somos cegos para a luz de Deus,
a menos que ela nos ilumine em Cristo. Eis aqui, deveras, algo muito sutil,
para que nos apercebamos da excelência de Cristo por meio de um genuíno senso
de fé e por meio de nossa experiência pessoal. Devemos ter similar entendimento
dessa imagem: Deus, em si e por si mesmo, nos será incompreensível, até que sua
forma nos seja revelada no Filho.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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