“SE POSSÍVEL, QUANTO DEPENDER DE VÓS”
“Se possível, quanto
depender de vós, tende paz com todos os homens” (Rm 12.18).
A paz de espírito e uma
vida bem ordenada, que nos granjeiem a admiração de todos, não são dotes comuns
numa pessoa cristã. Se porventura nos devotarmos a esta aquisição, seremos
dotados não só da mais excelente integridade, mas também do mais excelente
espírito de cortesia e da mais doce natureza. E assim conquistaremos não só o
que é justo e bom, mas também provocaremos a transformação dos corações dos
incrédulos.
Entretanto, duas
palavras devem ser aqui pronunciadas como advertência. Que não nos esforcemos
por conquistar o favor humano de maneira tal que nos esquivemos de incorrer no
ódio de alguém por amor a Cristo, como às vezes se faz necessário. Naturalmente
existem alguns que, ainda que mereçam a admiração universal em razão de suas
maneiras excelentes e paz de espírito, não obstante são odiados até mesmo por
seus familiares mais íntimos por causa do evangelho. A segunda precaução consiste
em que essas excelentes qualidades não devem degenerar-se em excessiva
condescendência, e assim, em nome da preservação da paz, transigimos
excessivamente os pecados dos homens. Visto, pois, que nem sempre nos é
possível manter a paz com todos os homens, ele adicionou duas frases
exceptivas: se possível e quanto depender de vós. Teremos que
determinar qual exceção é a base do dever requerido pela piedade e pelo amor,
para que não venhamos a violar a paz, a não ser que sejamos compelidos por uma
ou outras dessas duas causas. É conveniente que toleremos muito, perdoemos as
ofensas e voluntariamente suportemos o extremo rigor da lei por amor à paz,
contanto que estejamos preparados para a luta corajosamente, como as vezes nos
é requerido. Os soldados de Cristo não podem gozar de perene paz com o mundo,
porquanto este é governado por Satanás.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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