“Volta-te, Senhor,
e livra a minha alma; salva-me por tua graça. Pois, na morte, não há recordação
de ti; no sepulcro, quem te dará louvor?”
Nas palavras: “Mas tu, SENHOR, até quando?” (v.3), vemos
Davi deplorando a ausência e a demora de Deus; agora ele ansiosamente solicita
as indicações de sua presença e de seu favor: “Volta-te, SENHOR, e livra a minha alma; salva-me
por tua graça”. Nossa felicidade consiste nisto: quando somos alvos da graciosa
consideração de Deus, porém cremos que ele se encontra distante de nós caso não
nos apresente alguma evidência substancial de sua presença e seus cuidados por
nós. Que Davi, naquele tempo, enfrentava risco máximo, deduzimos dessas
palavras, nas quais ele ora tanto pelo livramento de sua alma, por assim dizer,
das garras da morte, quanto por sua restauração a um estado de segurança.
Concluímos também daqui que Davi, uma vez mais, confirma o que só tocara no
segundo versículo concernente à compaixão de Deus, isto é, que este é o
único refúgio de onde espera vir seu livramento, a saber: “Salva-me por tua
graça”. Os homens jamais encontrarão perdão de pecados, justificação, paz,
alívio e libertação de suas misérias, enquanto, esquecendo-se de seus próprios
méritos, diante do fato de que são os únicos a enganar a si próprios, não
aprenderem a recorrer à graça de Deus.
Quando Deus nos concede
graça, ele nada requer de nós senão uma vida que o glorifique. Referência essa
se faz quando Davi diz: “Pois, na morte, não há recordação de ti, nem no
sepulcro qualquer celebração de seu louvor”. Eis sua intenção com
essas palavras: se, pela graça de Deus, ele fosse libertado da morte, lhe seria
agradecido e guardaria isso no coração. Ele lamenta que, se fosse retirado do
mundo, ficaria privado da bênção e da oportunidade de manifestar gratidão,
visto que nesse caso, ele não mais estaria presente entre os homens para
enaltecer, celebrar, glorificar o Nome de Deus.
Por este versículo, alguns
concluem que os mortos não têm emoção alguma e que esta é completamente extinta
neles. Essa, porém, é uma inferência injustificada, pois Davi está tratando
aqui da celebração mútua da graça de Deus, na qual os homens se engajam
enquanto caminham nesta vida. Sabemos que somos postos sobre a terra para
glorificar a Deus, e que esse é o propósito supremo de nossas vidas. A morte, é
verdade, põe um fim a esses louvores daqui; mas não se deduz desse fato que as
almas dos fiéis, quando despida de seus corpos, são privadas de entendimento ou
não são sensibilizadas por qualquer afeição, sentimento, estima e louvor para
com Deus. Devemos considerar também que, na presente ocasião, Davi temia o
juízo de Deus se a morte lhe sobreviesse, e esse sentimento o fez por um tempo
emudecido, sem palavras, sem ânimo, sem alegria, impedido espiritualmente de
entoar louvores de Deus.
À luz desta passagem
queremos solucionar outra questão: Por que Davi ficou tão amedrontado ante a
morte, como se nada houvesse que esperar para além deste mundo? Estudiosos
reconhecem três causas por que nossos pais sob o regime da lei foram mantidos
tão escravizados pelo temor da morte. A primeira: porque o pleno conhecimento
da graça de Deus, não havendo ainda se manifestado mediante a vinda de Cristo,
as promessas que até então eram obscuras, lhes propiciavam apenas leve noção da
vida futura. O conhecimento que temos hoje sobre o assunto é, sem duvida, mais
claro que o deles. A segunda: porque a presente vida, dádiva de Deus, é por
natureza desejável. A terceira: porque receavam que, depois de seu
falecimento, ocorresse alguma mudança para pior na espiritualidade do povo.
Essas razões parecem suficientes.
Convém lembrar que o
espírito de Davi nem sempre estava dominado pelo temor que ora sentia; quando a
morte chegou, sendo idoso e cansado desta vida, serenamente rendeu sua alma ao
repouso divino.
Deus nos abençoe!
Pr. José Rodrigues Filho
*Resumo dos comentários do Salmo 6, João Calvino, Edições Paracletos.
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