“TRÊS CAUSAS DE NOSSA SALVAÇÃO”
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões
celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do
mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos
predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo,
segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que
ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu
sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef 1.3-7).
Nesta cláusula são mencionadas três causas de
nossa salvação. A causa eficiente é o beneplácito da vontade de Deus; a causa material é Cristo; e a causa final é o louvor da glória de sua graça.
À primeira pertence todo este contexto: Deus nos predestinou nele mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, para adoção, e nos fez aceitos por meio de sua graça. No verbo predestinar devemos novamente atentar para a ordem. Nem mesmo existíamos, portanto não existia nenhum mérito propriamente nosso. Consequentemente, a causa da salvação não procedeu de nós mesmos, e, sim, tão-somente de Deus.
O que se segue, porém, é ainda mais claro:
segundo o beneplácito de sua vontade. A palavra “vontade” seria suficiente,
pois o apóstolo estava acostumado a contrastá-la com todas as causas externas
pelas quais o homem imagina que a mente de Deus é passível de receber
influência. Todavia, para que não permaneça qualquer ambiguidade, ele usa o
contraste “beneplácito”, o que expressamente exclui todo e qualquer mérito.
Portanto, ao adotar-nos, o Senhor não levou em conta o que somos, e não nos
reconciliou consigo mesmo com base em alguma dignidade que porventura
tivéssemos. Seu único motivo é o eterno beneplácito por meio do qual ele nos
predestinou.
Finalmente, a fim de que nada mais ficasse
faltando, Paulo acrescenta e nos afiança que Deus nos envolve graciosamente em
seu amor e favor, não com base em retribuição meritória, senão que ele nos
elegeu quando nem ainda tínhamos nascido, quando nada o motivara senão ele
próprio.
A causa material, tanto da eleição eterna
quanto do amor que nos é agora revelado, é Cristo, a quem ele chama o Amado,
querendo dizer-nos que por meio dele o amor de Deus é sobre nós derramado.
Portanto, ele é o bem-amado para reconciliar-nos. O propósito mais elevado e
último é acrescentado imediatamente, a saber: o glorioso louvor de uma graça
infinitamente rica. Todo homem, pois, que oculta esta glória está contribuindo
para o ofuscamento do propósito eterno de Deus.
Soli Deo Glória!
João Calvino (1509-1564).
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