“E foi em
fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós” (1Co 2.3).
Por fraqueza, o apóstolo Paulo geralmente quer dizer,
aqui e diversas vezes, subsequentemente, tudo quanto venha prejudicar a posição e
dignidade de alguém na avaliação de outras pessoas. Temor e tremor são decorrências desta fraqueza. Contudo existem
duas maneiras pelas quais podemos explicar estas duas palavras. Uma delas é que,
tendo ponderado na magnitude da tarefa que ele continuava a desempenhar,
perturbava-se e enfrentava não pouca ansiedade ao ocupar-se do desempenho
dela. A outra explicação é a seguinte: visto que se achava cercado por muitos
perigos, ele se via dominado por perene temor e constante ansiedade. Uma e
outra se ajustam perfeitamente bem ao contexto, porém, em minha opinião, a
segunda é a mais simples. Naturalmente que modéstia como esta é própria para os
servos do Senhor, de modo que, cônscios de sua própria fraqueza e, em
contrapartida, encarando respeitosamente as dificuldades, bem como a excelência
de tal tarefa, podem aproximar-se dela com reverência e engajar-se nela com
temor. Pois aqueles que se apresentam imbuídos de confiança, e com ares de
superioridade, ou que exerçam o ministério da Palavra de forma displicente,
como se fossem talhados para tal tarefa, não conhecem nem a si mesmos nem à
própria tarefa.
Porém, visto
que Paulo, aqui, liga temor a fraqueza, e fraqueza significa tudo quanto
pudesse levá-lo à depreciação, segue-se que, aqui, temor se relaciona a perigos e dificuldades. Todavia, é plenamente
comprovado que este temor era de natureza tal que não impedia Paulo de executar
a obra do Senhor, como os fatos o comprovam. Nem são os servos do Senhor tão
estúpidos para não se verem ameaçados por perigos; na verdade, eles devem viver
seriamente apreensivos por duas razões: (1) que eles, combalidos a seus
próprios olhos, aprendam a depender e a descansar completamente só em Deus; e
(2) que sejam treinados na genuína renúncia. Paulo, pois, não vivia isento das
sensações de ansiedade, mas que as controlava de tal modo que ele, apesar de
tudo, continuava a ser destemido em meio às crises, e assim, com incansável
perseverança e resistência, ele se furtava de todos os insultos de Satanás e do mundo; e, resumindo, dessa forma ele
seguia seu caminho através de toda resistência.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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