“A FIM DE QUE NÃO ENSINEM OUTRA DOUTRINA”
“Quando eu
estava de viagem, rumo da Macedônia, te roguei permanecesses ainda em Éfeso
para admoestares a certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina” (1Tm
1.3).
Foi com grande
relutância, e só sob compulsão da necessidade que o apóstolo Paulo se deixara
separar de um assistente tão amado e fiel como Timóteo, para que, como seu
correspondente, pudesse levar a cabo os deveres que demandavam a
responsabilidade que não havia em nenhum outro para que se cumprissem. Isso
deve ter exercido uma profunda influência em Timóteo, não só por tê-lo impedido
de desperdiçar seu tempo, mas o ajudou a comportar-se de maneira excelente,
além do comum. Ele aqui também encoraja Timóteo a opor-se aos falsos mestres
que estavam adulterando a doutrina e sua pureza. Neste apelo para Timóteo cumprir
seu dever em Éfeso, devemos notar a piedosa preocupação do apóstolo. Porque,
enquanto se esforçava por estabelecer novas igrejas, ele não deixava as
anteriores destituídas de pastor. Indubitavelmente, como diz o escritor, “Para
manter a salvo o que já conquistou necessita-se de tanta habilidade quanto para
conquistá-lo. A palavra admoestar ou ordenar compreende autoridade, pois era
o propósito de Paulo revestir Timóteo com autoridade para que pudesse ele
refrear outros.
A fim de que não ensinem outra doutrina. Em outras palavras, “não ensinar de modo diferente, fazendo uso de outro método” ou “ensinar uma nova doutrina”. A tradução de Erasmo, “seguir uma nova doutrina”, não me satisfaz, visto que a mesma poderia aplicar-se tanto aos ouvintes quanto aos mestres. Se lemos: “ensinar de uma forma diferente”, o significado será mais amplo, pois Paulo estaria proibindo a Timóteo de permitir a introdução de novos métodos de ensino que sejam incompatíveis com o método legítimo e genuíno que lhe havia comunicado. Assim, na segunda epístola, ele não aconselha Timóteo a simplesmente conservar a substância de seu ensino, mas usa o termo o qual significa uma semelhança viva de seu ensino. Como a verdade de Deus é única, assim não há senão um só método de ensiná-la, o qual se acha livre de falsa pretensão e que degusta mais saborosamente a majestade do Espírito do que as demonstrações externas de eloquência humana. Se alguém se aparta disso, ele deforma e vicia a própria doutrina; e assim, “ensinar de maneira diferente”, aponta para a forma.
Se lermos: “ensinar
algo diferente”, então a referência será à substância do próprio ensino. É
digno de nota que, por outra doutrina, significa não só o ensino que está em
franco conflito com a sã doutrina do evangelho, mas também tudo o que, ou
corrompe a pureza do evangelho por meio de invenções novas e adventícias, ou o
obscurece por meio de especulações irreverentes. Todas as maquinações humanas
são outras tantas corrupções do evangelho, e aqueles que fazem mau uso das Escrituras,
como costumam fazer as pessoas ímpias, fazendo do Cristianismo uma engenhosa
exibição, obscurecem o evangelho. Todo ensino desse gênero é oposto à Palavra
de Deus e àquela pureza da doutrina na qual Paulo ordena aos efésios a permanecerem
firmes.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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