"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



quinta-feira, 13 de novembro de 2025

“SIM, DEVERAS CONSIDERO TUDO COMO PERDA”


“SIM, DEVERAS CONSIDERO TUDO COMO PERDA”

“Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo e ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede de lei, senão a que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Fp 3.8,9).

O apóstolo Paulo enaltece o evangelho em oposição a todas as noções que tendem a nos distrair. Pois há muitas coisas que possuem aparência de excelência, mas o conhecimento de Cristo ultrapassa tudo mais, a um grau tal, por sua sublimidade, que, quando se faz uma comparação, nada existe que não seja desprezível. Portanto, aprendamos disto que [grande] valor devemos depositar no conhecimento de Cristo somente. Quanto ao fato de o chamar, meu Senhor, ele faz isso para expressar a intensidade de seu sentimento.

Por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo. Paulo diz mais do que fizera previamente; pelo menos, ele se expressa com mais precisão. É uma analogia tomada dos marinheiros que, quando se veem em perigo iminente de naufrágio, lançam tudo para fora, para que, sendo o navio aliviado, cheguem no porto em segurança. Paulo, pois, estava preparado a perder tudo que possuía, antes que ser privado de Cristo.

Pergunta-se, porém, se nos é necessário renunciar às riquezas, às honras, à nobreza de origem, e até mesmo à justiça externa, para que nos tornemos participantes de Cristo [Hb 3.14], pois todas essas coisas são dons de Deus, as quais, por si sós, não devem ser desprezadas. Respondo que o apóstolo aqui não fala tanto das coisas em si mesmas, quanto da qualidade delas. Claro, é verdade que o reino do céu se assemelha a uma pérola preciosa, por cuja aquisição ninguém hesitaria em vender tudo o que possui [Mt 13.46]. Não obstante, há certa diferença entre a substância das coisas e a qualidade. Paulo não achou necessário renegar a conexão com sua própria tribo e com a raça de Abraão, e tomar-se um alienado, a fim de se fazer cristão; mas sim renunciar à dependência dessa sua ascendência. Não era conveniente que, de casto ele viesse a ser incontinente; de sóbrio ele viesse a ser intemperante; e de respeitável e honrado viesse a ser dissoluto; senão que se despisse de uma falsa estima de sua justiça pessoal e a tratasse com desprezo. Nós também, quando tratamos da justiça da fé, não contendemos contra a substância das obras, e sim contra aquela qualidade com que os sofistas as investem, visto que contendem que os homens são justificados por elas. Paulo, pois, se despiu, não das obras, mas daquela equivocada confiança depositada nas obras, com que se ensoberbecia.

Quanto a riquezas e honras, assim que nos despimos de nosso apego a elas, então nos preparamos também para renunciar às próprias coisas, sempre que o Senhor demandar isto de nós, e assim suceder. Não é expressamente necessário que sejamos pobres a fim de podermos ser cristãos; mas, se ao Senhor aprouver que o sejamos, então devemos estar preparados a suportar a pobreza. Enfim, não é lícito aos cristãos possuir algo à parte de Cristo. Considero como à parte de Cristo tudo quanto se constitui em obstáculo à glória exclusiva e ao senhorio completo de Cristo sobre nós.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR). 

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