“DEUS ENVIOU SEU FILHO, NASCIDO DE MULHER”
“Vindo, porém, a
plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção
de filhos” (Gl 4.4,5).
O apóstolo Paulo
prossegue com sua comparação e aplica ao seu propósito “o tempo designado pelo
Pai”. Mas, concomitantemente, ele mostra que o tempo que fora ordenado pela
providência de Deus era oportuno e adequado. Essa é a estação certa e esse é o
melhor método de ação, o qual a providência de Deus dirige. Portanto, o tempo
certo para o Filho de Deus revelar-se ao mundo era de alçada exclusiva de Deus
julgar e determinar. Isso deve bastar para restringir a curiosidade, se alguém,
não satisfeito com o propósito secreto de Deus, ousaria questionar por que
Cristo não apareceu antes desse tempo.
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher. O Filho, que foi enviado, existia muito antes. Daqui se prova
sua eterna divindade. Cristo, portanto, é o Filho de Deus enviado do céu. O apóstolo
diz que isso foi feito através de uma mulher, portanto ele se vestiu de nossa
natureza. Com isso ele quer dizer que Jesus Cristo possui duas naturezas. Ele expressamente
tencionava distinguir Cristo do restante dos homens, como tendo sido gerado da
semente de sua mãe, e não pela ação sexual de homem e mulher. Em qualquer outro
sentido, isso teria sido fútil e estranho ao tema. A palavra, mulher, é aqui
expressa para o sexo feminino em geral.
Nascido sob a lei. Literalmente
é: “Feito sujeito à lei”. O meu desejo é expressar o sentido dessas palavras de
uma forma mais clara. Cristo, o Filho de Deus, que por direito era isento de
toda e qualquer sujeição, fez-se sujeito à lei. Um homem livre redimiu um
escravo, ao constituir-se fiador; ao pôr as cadeias em si próprio, ele as tirou
do outro. Da mesma forma, Cristo decidiu tornar-se obrigado a cumprir a lei
para poder obter isenção para nós. Do contrário, ele teria se submetido ao jugo
da lei inutilmente, pois certamente não foi por sua própria conta que ele fez
isso.
Além do mais,
não somos tão isentos da lei, pelos benefícios de Cristo que não mais devemos
obediência alguma à instrução da lei e podemos fazer o que bem quisermos. Pois
ela é a norma perpétua de uma vida saudável e santa. Mas Paulo está falando da
lei com seus apêndices. E somos redimidos da sujeição a essa lei, visto que ela
não mais é o que uma vez foi. Agora que o véu se partiu, a liberdade surgiu
plenamente, e isso é que ele prossegue afirmando.
A fim de que recebêssemos a adoção de filhos. Os pais sob o regime do antigo pacto tinham certeza de sua
adoção, mas ainda não tanto que desfrutassem plenamente de seu privilégio. A
adoção, à semelhança da redenção em Romanos 8.23, é conferida para que se tome
dela verdadeira posse. Pois como receberemos, no último dia, o fruto de nossa
redenção, assim agora recebemos o fruto de nossa adoção, do qual os santos pais
não participaram antes da vinda de Cristo. Portanto, aqueles que agora sobrecarregam
a Igreja com excesso de cerimônias, impiamente a defraudam do que é justamente
devido à adoção (literalmente, o justo débito para com a adoção).
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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