“ENVIOU DEUS AO NOSSO CORAÇÃO O ESPÍRITO DE SEU FILHO”
“E, porque vós
sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama:
Aba, Pai! De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também
herdeiro por Deus” (Gl 4.6,7).
O apóstolo Paulo
mostra que a adoção de que fala pertence aos gálatas, usando o seguinte
argumento: A adoção divina precede o testemunho sobre ela apresentado pelo
Espírito Santo.
O efeito, porém,
é o sinal da causa. E ousais chamar a Deus vosso Pai só pela instigação e
incitamento do Espírito de Cristo.
Portanto, é
incontestável que sois filhos de Deus.
Significa, como
costuma ensinar em outras partes, que o Espírito é o penhor e garantia de nossa
adoção, de sorte que somos seguramente convencidos da atitude paternal de Deus
para conosco.
Objetar-se-á, porém,
os homens perversos também não realizam suas imprudências enquanto reivindicam
que Deus é seu Pai? Às vezes não se gloriam ainda com maior ousadia que Deus é
também deles? Respondo que Paulo não está, aqui, falando da fútil vanglória, ou
do que alguém possa reivindicar para seu próprio espírito, mas do testemunho de
sua consciência piedosa que procede de uma nova regeneração. Tal argumento só
pode ser válido para os crentes, pois os réprobos não desfrutam da experiência de
tal certeza. Como o Senhor mesmo declara: “O Espírito da verdade, que o mundo
não pode conhecer, porque não o vê nem o conhece” [Jo 14.17]. Isso está
implícito nas palavras de Paulo.
Enviou Deus. O que o apóstolo quer nos ensinar não é o que eles mesmos, no
juízo carnal, loucamente aventuram, mas o que Deus confirma em seus corações
pelo Espírito Santo. O Espírito de seu Filho é mais apropriado ao presente
contexto do que algum outro título que porventura pudesse usar. Somos filhos de
Deus, porque somos revestidos do mesmo Espírito que o foi seu Filho unigênito.
Deve-se observar
que Paulo atribui isso a todos os cristãos em geral; pois onde o penhor do amor
divino para conosco está ausente, seguramente não há fé genuína. Daí, é
evidente que sorte de cristianismo há naqueles que não foram regenerados, o
qual acusam de presunção a qualquer um que confesse que tem o Espírito de Deus.
Pois imaginam a fé como algo sem o Espírito de Deus e sem certeza. Esse único
dogma que confessam é evidente prova de que em seus corações reina o diabo, o
pai da incredulidade. Reconheço, aliás, que os escolásticos, quando ordenam que
as consciências humanas flutuem em perpétua dúvida, ensinam somente o que dita
o senso natural. É da mais profunda necessidade fixar em nossa mente este dogma
de Paulo, a saber: que ninguém é cristão salvo, senão aquele que se deixa
instruir pelo Espírito Santo, como sinal de certeza e de confiança inabalável, a
chamar Deus: meu Pai!
Aba, Pai! O significado dessas palavras, não tenho dúvida, consiste em
que invocar a Deus é um costume comum a todas as línguas. Pois é próprio do
presente tema que Deus tem o nome de Pai entre os hebreus e os gregos. E isso
foi predito por Isaías: “Toda língua confessará o seu nome” [Is 45.23]. Uma vez,
portanto, que os gentios são contados entre os filhos de Deus, é evidente que a
adoção procede, não do mérito da lei, mas da graça da fé.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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