“Justificado em Espírito”
“Evidentemente, grande é o mistério da
piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito,
contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na
glória” (1Tm 3.16).
Justificado em espírito. Como
o Filho de Deus a si mesmo se esvaziou ao tomar para si nossa carne (Fp 2.7),
assim também manifestou-se nele um poder espiritual que testificou que ele era Deus. Esta passagem tem sido interpretada de diferentes
formas, mas fico satisfeito em explicar a intenção do apóstolo como a entendo
sem adicionar nada mais. Em primeiro lugar, a justificação, aqui, significa um
reconhecimento do poder divino, como no Salmo 51.3, onde se diz quer os juízos de
Deus são justificados, ou seja,
maravilhosa e completamente perfeitos. Note-se também o Salmo 51.4, onde se diz
que Deus é justificado, significando que o louvor de sua justiça se exibe claramente.
Assim também em Mateus 11.19 e Lucas 7.35, onde Cristo diz que a sabedoria é
justificada por seus filhos, significando que neles o valor da sabedoria se evidencia.
Além do mais, em Lucas 7.29 se diz que os publicanos justificavam a Deus, significando
que na devida reverência e gratidão reconheciam a graça de Deus que discerniam
em Cristo. Portanto, o que lemos aqui tem o mesmo sentido se Paulo dissesse que
aquele que se manifestou vestido de carne humana foi declarado ao mesmo tempo
ser o Filho de Deus, de modo que a fragilidade da carne de forma alguma
denegriu sua glória.
À palavra
“Espírito” ele inclui tudo o que em Cristo era divino e superior ao homem, e
isso ele o faz por duas razões. Primeira, visto que Cristo fora humilhado na
carne, Paulo agora contrasta o Espírito com a carne, ao exibir nitidamente sua
glória. Segunda, a glória, digna do unigênito Filho de Deus, que João afirma
ter visto em Cristo (Jo 1.14), não consistia de uma manifestação externa ou de esplendor
terreno, senão que era quase totalmente espiritual. A mesma forma de expressão
é usada no primeiro capítulo de Romanos 1.3,4: “com respeito a seu
Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber Jesus Cristo, nosso Senhor”;
mas com esta diferença, ou seja, que nesta passagem ele menciona uma manifestação
especial de sua glória, a saber, a ressurreição.
Aleluia!
João
Calvino (1509-1564).
*Comentários, Pastorais - Edições Paracletos.
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