“Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos Humildes”
“Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos humildes; tu lhes
fortalecerás o coração e lhes acudirás” (Sl 10.17).
Quando os infiéis prevalecem na Igreja, ou excedem os fiéis em número, devemos, incessantemente, rogar a Deus que os erradique; porquanto um estado tão confuso e vexatório deve seguramente ser motivo de profunda tristeza para todos os servos de Deus.
Tens ouvido, SENHOR, o desejo dos humildes. Com essas palavras, o Espírito Santo também nos assegura que o que Deus desde outrora concedeu aos pais, em resposta de suas orações, nós, nos dias atuais, também receberemos, desde que cultivemos essa profunda solicitude em relação ao livramento da Igreja. A sequência do versículo: Tu lhes fortalecerás o coração, é de forma variada interpretada pelos expositores. Há quem entenda que significa o mesmo que: Tu farás que seus desejos se concretizem. Segundo outros, o significado é este: Tu moldarás e santificarás seus corações, pela graça, para que nada peçam em oração senão o que é certo e esteja em harmonia com a vontade de Deus. É provável que essas explicações sejam um tanto forçadas. Entendemos que Davi, com essas palavras, magnifica a graça divina em fortalecer e confortar a seus servos em meio às suas tribulações e angústias, a fim de que não submergissem em desespero, munindo-os com vigor e paciência, inspirando-os com sólida esperança e incitando-os também à oração. É uma bênção singular a que Deus nos confere quando, em meio às tentações, ele nutre nossos corações, não os deixando retroceder dele, nem buscando em outra fonte algum outro apoio e livramento. O significado do que imediatamente se segue — e lhes acudirás — consiste em que não é em vão que Deus dirija os corações de seu povo e o guie em obediência aos seus mandamentos, para que seu povo olhe para ele e o invoque cheio de esperança e paciência — não é em vão porque seus ouvidos jamais se fecharão ante os gemidos de seu povo. Portanto, ordena-se aqui a harmonia mútua entre os dois exercícios religiosos. Deus não tolera que a fé de seus servos feneça ou fracasse, nem permite que eles desistam de orar; mas os mantém perto de si, pela fé e pela oração, até que realmente se evidencie que sua esperança não foi nem vã nem ineficaz.
Amém!
João Calvino (1509-1564).
*Resumo dos comentários, Salmo 10 -
Edições Paracletos.
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