“Para fazeres Justiça ao Órfão e
ao Oprimido”
“Para fazeres justiça ao órfão e
ao oprimido, a fim de que o homem, que é da terra, já não infunda terror” (Sl
10.18).
“Para fazeres justiça ao órfão e
ao oprimido”. Aqui o salmista aplica a última frase do versículo anterior com um
propósito especial, ou seja, prevenir os fiéis, quando forem injustamente
oprimidos, a que não duvidem de que Deus por fim tomará vingança de seus
inimigos e lhes concederá livramento. Com essas palavras ele nos ensina que
devemos suportar com paciência e determinação as aflições que nos são impostas,
visto que Deus às vezes nega assistência a seus servos até que sejam reduzidos
a extremos. Esse é na verdade um dever de difícil execução, porquanto todos nós
desejamos muito ser isentos de problemas; e, portanto, se Deus não vem
imediatamente em nosso socorro, concluímos que ele é remisso e inativo. Mas se
estamos ansiosamente desejosos de obter sua assistência, então devemos subjugar
nosso sentimento, restringir nossa impaciência e manter nossas preocupações
dentro dos devidos limites, esperando até que nossas aflições alcancem o
exercício de sua compaixão e o incite a manifestar sua graça, nos socorrendo.
“A fim de que o homem, que é da terra, já não
infunda terror”. Davi uma vez mais enaltece o poder divino em destruir os ímpios; e o
faz com o seguinte propósito: que em meio aos seus tumultuosos assaltos
possamos ter este princípio profundamente arraigado em nossas mentes: Deus,
sempre que lhe apraz, transforma seus intentos em nada. E embora os perversos
prosperem em sua perversa trajetória, e ergam suas cabeças acima das nuvens, é
muito apropriado descrevê-los como mortais ou homens
passíveis de muitas calamidades. O propósito do salmista é
indiretamente condenar sua enfatuada presunção, em que, ignorando sua condição,
esbravejam ameaças terríveis e cruéis, como se estivesse além do poder do
próprio Deus reprimir a violência de sua raiva. Ao dizer que são homens
da terra, contém um tácito contraste entre as baixezas deste mundo e
as alturas do céu. Porque, donde procede a agressão aos filhos de Deus?
Indubitavelmente, da terra, precisamente como se muitos vermes emergissem das
cavidades do solo; mas, ao agir assim, atacam o próprio Deus, que promete
socorrer seus servos lá do seu alto e sublime trono.
Amém!
João
Calvino (1509-1564).
*Resumo dos comentários, Salmo 10 -
Edições Paracletos.
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