Não desprezeis as profecias (1Ts 5.20). Esta sentença é apropriadamente
acrescentada a "não apagueis o Espirito", pois, como o Espírito de Deus nos ilumina
principalmente através da doutrina, aqueles que não dão ao ensino o seu devido
lugar, até onde está neles, apagam o Espírito; pois devemos sempre
considerar de que maneira ou por que meios Deus se propõe comunicar-se a nós.
Portanto, que todo aquele que deseja fazer progresso sob a direção do Espírito
Santo permita-se ser ensinado pelo ministério dos profetas.
Pelo termo profecia,
contudo, não entendo o dom de predizer o futuro, mas, assim como em 1 Coríntios
14.3, a ciência de interpretar a Escritura, de modo que profeta é um
intérprete da vontade de Deus. Pois Paulo, na passagem que mencionei, atribui
aos profetas o ensino para edificação, exortação e consolação, e
enumera, por assim dizer, essas áreas. Portanto, que a profecia nesta passagem
seja entendida no sentido de interpretação apropriada para o uso presente. Paulo
nos proíbe de desprezá-la, se não quisermos de vontade própria vagar na
escuridão.
Contudo, a
declaração é notável para a recomendação da pregação exterior. O devaneio dos
fanáticos é de que são crianças aqueles que continuam a se empregar na leitura
da Escritura, ou na escuta da palavra, como se ninguém fosse espiritual, a menos
que desprezasse a doutrina. Portanto, eles orgulhosamente desprezam o
ministério humano, sim, até a própria Escritura, a fim de poder alcançar o
Espírito. Ademais, qualquer coisa que as ilusões de Satanás lhes sugere, eles
presunçosamente apresentam como revelações secretas do Espírito. Tais são os
libertinos, e outros raivosos desse tipo. E, quanto mais ignorante alguém for,
tanto mais se incha de arrogância. Porém, aprendamos, pelo exemplo de Paulo, a
associar o Espírito à voz dos homens, a qual não é nada mais do que seu
instrumento.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).