“MAS FOSTES SANTIFICADOS”
“Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas
fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e
no Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11).
Os membros,
estes que antes eram instrumentos do pecado, agora se tornaram instrumentos
santos no templo vivo de Cristo. Aquele que antes desonrava o seu corpo, agora
possui o seu vaso em santificação e honra, em temperança, em castidade, em
sobriedade, e o dedica ao Senhor.
O olho, que antes era irrequieto,
dissoluto, arrogante, cobiçoso, é agora empregado, como o de Maria, em chorar
pelos seus pecados, em contemplar a Deus através das Suas obras, em ler a Sua
Palavra ou procurar motivos de misericórdia e oportunidades para o Seu serviço.
O ouvido, que antes estava aberto
à voz de Satanás, e que só se deleitava com coisas imundas ou conversas vãs e
com a risada dos tolos, encontra-se agora conquistado por Cristo e
aberto aos Seus mensageiros. Ele diz: “Fala, Senhor, porque o teu servo ouve”.
Ele espera por Suas palavras como pela chuva e tem mais prazer nelas do que no
alimento (Jó 23.12), mais do que no mel e do que no licor dos favos (Sl 19.10).
A cabeça, que estava cheia de
desígnios mundanos, está agora cheia de outros assuntos e aplica-se ao estudo
da vontade de Deus; e o homem usa sua cabeça não tanto para obter lucro, mas
para cumprir o seu dever. Os pensamentos e preocupações que enchem sua cabeça
são, principalmente, como poderá agradar a Deus e fugir do pecado.
Seu coração, que era um poço de
imundícia, tornou-se agora um altar de incenso onde o fogo do amor divino é
mantido sempre aceso, do qual o sacrifício diário de oração e louvor, do doce
aroma de desejos santos, exaltações e intercessões se elevam continuamente.
A boca tornou-se uma fonte de vida;
sua língua é como prata escolhida e seus lábios alimentam a muitos. O sal
temperou seu discurso e tirou a corrupção (Cl 4.6) e limpou o homem das
conversas imundas, frívolas, jactanciosas, injuriosas, mentirosas, blasfemadoras,
caluniadoras que outrora saiam como relâmpagos do inferno que havia em seu
coração (Tg 3.6). A garganta, que era sepulcro aberto, agora exala o doce
hálito da oração e do discurso santo e o homem fala uma outra língua, na
linguagem da Canaã celestial, e jamais se sente tão bem como quando fala de
Deus, de Cristo e dos assuntos referentes ao outro mundo. Sua boca produz
sabedoria; sua língua se tornou a trombeta prateada de louvor ao seu Criador.
Nessas coisas,
contudo, você encontrará o hipócrita tristemente deficiente. Ele fala, talvez,
como um anjo, mas tem um olhar cobiçoso ou o lucro da injustiça em sua mão. Sua
mão é branca, mas seu coração está cheio de imundícia (Mt 23.27), cheio de
cobiças não dominadas, um forno cheio de concupiscência, uma fábrica de orgulho
– a sede da malícia. Talvez, como a estátua de Nabucodonosor, ele tenha uma
cabeça de ouro – uma grande quantidade de conhecimento – mas ela tem pés de
barro; suas afeições são mundanas, ocupa-se de coisas terrenas, seu caminho e
andar são sensuais e carnais.
Deus nos
abençoe!
Joseph Alleine
(1634-1668).
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