“QUE FILHO HÁ QUE O PAI NÃO CORRIGE?”
“É para
disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que
o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes,
logo, sois bastardos e não filhos” (Hb 12.7,8).
O escritor da carta aos Hebreus arrazoa partindo da prática comum dos homens, dizendo que não é
saudável para os filhos de Deus viverem livres da disciplina da cruz. Se não há
entre os homens, pelo menos entre os prudentes e ajuizados, algum que não
corrija a seus filhos, já que eles não podem ser guiados à real virtude sem
disciplina, muito menos Deus, que é o melhor e o mais sábio dos pais,
negligenciaria um antídoto tão eficaz. Se alguém replicar que esse gênero de
correção deixa de existir entre os homens, assim que os filhos saem da
adolescência, repondo que ao longo de nossa vida terrena não somos mais que
meras crianças em relação a Deus, e que essa é a razão por que a vara terá
sempre de ser aplicada às nossas costas. O apóstolo corretamente chega à
conclusão de que qualquer um que busque isentar-se da cruz, ao mesmo tempo se
exclui do número dos filhos de Deus. Segue-se desse fato que não damos o real
valor à bênção da adoção como deveríamos, e rejeitamos toda a graça de Deus
quando procuramos evitar sua disciplina. E isso é o que devem fazer todos
aqueles que não suportam as aflições com equanimidade. Por que, pois, ele
denomina os que evitam a correão de bastardos, em vez de simplesmente estranhos?
Precisamente porque o apóstolo está a dirigir-se aos que se encontram arrolados
como membros da Igreja e, portanto, filhos de Deus. Ele está a indicar que se
eles se desvencilham da disciplina do Pai, então sua confissão de Cristo é
falsa e improcedente, de modo que são bastardos e não filhos.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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