A doutrina da justificação pela fé em Cristo pode ser
encontrada em alguns dos escritos do primeiro período da história da
Igreja. Entendemos que esses registros deixados pelos chamados "Pais eclesiásticos" não foram inspirados. Contudo, eles nos oferecem o correto ensino transmitido à Igreja pelos santos Apóstolos.
Clemente de Roma (talvez
o mesmo mencionado em Filipenses 4.3), em sua carta aos Coríntios, diz: “Nós também, sendo chamados mediante a Sua vontade em Cristo, não somos justificados
por nós mesmos, nem por nossa própria sabedoria, ou entendimento, ou piedade,
ou obras que temos feito com pureza de coração, porém pela fé...”
Policarpo (falecido em 155
dC), um discípulo de João, escreveu: “Eu sei que mediante a graça você é
salvo, não por obras, mas sim, pela vontade de Deus em Jesus Cristo.” (Epístola
aos Filipenses).
Justino Mártir
(falecido em 165 dC), escreveu: “Não mais pelo sangue de bodes e de carneiros,
nem pelas cinzas de uma novilha... são os pecados purificados, e sim, pela fé,
mediante o sangue de Cristo e de Sua morte, que por essa razão morreu.”
(Diálogo com Trifa). (Hb 9.13).
Quando o imperador romano Constantino (falecido em 337 dC) tornou o cristianismo uma religião oficialmente reconhecida,
e não mais uma fé perseguida, algumas heresias surgiram e feriram outras doutrinas
básicas da fé cristã. Ao combater
essas heresias e reafirmar a impotência pecaminosa da natureza humana, a
necessidade de salvação pela graça e a expiação eficaz oferecida por Cristo, os
fiéis remanescentes defendiam os fundamentos apostólicos da doutrina da
justificação somente pela fé em Cristo.
Irineu (falecido no
princípio do 3º século), discípulo de Policarpo, escreveu: “...através da
obediência de um homem, que primeiro nasceu da Virgem, para que muitos pudessem
ser justificados e receber a salvação”.
Orígenes, o grande professor, pensador e escritor do cristianismo (falecido em 253 dC), disse o seguinte: “Pela fé, sem as obras da lei, o ladrão na cruz foi justificado; porque... o Senhor não indagou a respeito de suas obras anteriores, nem aguardava a realização de qualquer obra depois de crer; antes... Ele o tomou para Si mesmo como companheiro, justificado somente na base de sua confissão.”
Cipriano (falecido 258 dC), bispo na Igreja da África do Norte, escreveu: “Quando Abraão creu em Deus, isso lhe foi imputado para justiça, portanto, cada um que crê em Deus e vive pela fé, será considerado como uma pessoa justa”.
Basílio, bispo de Capadócia (falecido em 370 dC), deixou essas palavras: “O verdadeiro e perfeito gloriar-se em Deus é isto: quando o homem não se exalta por causa da sua própria justiça; é quando ele sabe por si mesmo que carece da verdadeira justiça e que a justificação é somente pela fé em Cristo”.
Atanásio, bispo de Alexandria
(falecido em 373 dC), escreveu: “Nem por esses (isto é, esforços humanos), mas,
à semelhança de Abraão, o homem é justificado pela fé”.
Ambrósio, bispo de Milão
(falecido em 397 dC), famoso como grande pregador, nos deixou essas
palavras: “Para o homem ímpio, para o homem que crê em Cristo, a sua fé lhe é imputada para
justiça, sem as obras da lei, como também aconteceu com Abraão”.
Jerônimo, o grande tradutor
da Bíblia para o latim (falecido em 420 dC), escreveu: “Quando um homem ímpio é
convertido, Deus o justifica somente por meio da fé, não por causa de obras que
na realidade, ele não possuía”.
Crisóstomo, talvez o maior
pregador de todos os Pais eclesiásticos (falecido 407 dC), e que viveu por
muitos anos em Constantinopla. Dele nós temos: “Então, o que é que Deus fez? Ele
fez com que um homem Justo (Cristo) se fizesse pecado (como Paulo afirma), para
que Ele pudesse justificar pecadores... quando nós somos justificados, é pela
justiça de Deus, não por obras... mas pela graça, pela qual todo o pecado
desaparece”. (2Co 5.21).
Agostinho, bispo de Hipona
(falecido em 420 dC), disse: “A graça é algo doado; o salário é algo pago... é
chamada graça porque ela é concedida gratuitamente. Você não comprou por nenhum
mérito pessoal o que tem recebido. Portanto, em primeiro lugar, o pecador recebe
a graça para que sejam perdoados os seus pecados... na pessoa justificada, as
boas obras vêm depois; elas não precedem a graça, a fim de que a pessoa seja justificada...
as boas obras que seguem a justificação manifestam o que o homem tem recebido”.
Anselmo, de Cantuária
(falecido 1109 dC), um grande teólogo, e talvez mais conhecido por causa de seu
estudo sobre a expiação do pecado por Cristo, escreveu: “Você acredita que não
pode ser salvo, senão pela morte de Cristo?” Então, vá e,... ponha toda a sua
confiança unicamente em Sua morte. Se Deus lhe disser: “Você é um pecador”,
então responda: “Coloco a morte de nosso Senhor Jesus Cristo entre mim e o meu
pecado”.
Bernardo de Claraval,
considerado como o último dos Pais eclesiásticos (falecido em 1153 dC), deixou essas palavras: “Acaso a nossa justiça não seria apenas uma injustiça e imperfeição?
Então, o que será dos nossos pecados, quando a nossa justiça não é suficiente
para defender-se a si mesma? Vamos, portanto, com toda humildade, refugiar-nos
na misericórdia, porque ela somente pode salvar as nossas almas... qualquer um
que tenha fome e sede de justiça, que creia nAquele que “justifica o ímpio”, e
assim sendo justificados somente pela fé, terá paz com Deus.
Esses testemunhos evidenciam que a doutrina da justificação somente pela fé em Cristo não foi uma invenção de Martinho Lutero. Os reformadores apenas redescobriram o que o próprio Deus nos ensina em
Sua Palavra. “Eis o soberbo! Sua alma não é reta nele; mas o
justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4). “Visto que a justiça de Deus se revela
no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).
“A doutrina da justificação somente pela fé em Cristo é o teste pelo qual descobrimos se
uma igreja é fiel ou infiel, sadia ou enferma”. Martinho Lutero (1483-1546).
Rev.
José Oliveira Filho
*Declarado
Inocente, James Buchanan, Editora PES
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