“ABEL, JUSTIFICADO MEDIANTE A FÉ”
“Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício
do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de
Deus quanto às suas ofertas” (Hb 11.4).
O escritor da epístola aos Hebreus irá mostrar agora
que, por mais excelentes fossem as obras dos santos, elas derivam da fé seu
valor, sua dignidade e tudo quanto de excelência porventura possuíssem. Desse
fato segue-se, como ele mesmo já disse, que os pais só agradaram a Deus porque
tinham fé. Ele, aqui, está falando de fé num duplo sentido. Primeiramente, por causa de sua obediência, visto que ela não intenta nem empreende nada exceto pela expressa Palavra de Deus; e então, porque ela descansa nas promessas de Deus, e assim granjeia mérito e dignidade para suas obras pela absoluta graça de Deus.
O apóstolo diz, antes de tudo, que o sacrifício de Abel foi mais aceitável do que o de seu
irmão tão-somente porque foi santificado pela fé. A Escritura mostra
nitidamente por que Deus se agradara de seu sacrifício. Eis as palavras de
Moisés: “Agradou-se o SENHOR de Abel e de sua oferta” (Gn 4.4), à luz das quais
podemos prontamente concluir que seu sacrifício agradou a Deus em virtude de
ele mesmo ser agradável a Deus. De que outra fonte veio seu agradável caráter
senão do fato de que possuía um coração purificado pela fé?
“Testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas”, confirma o que já foi dito,
ou seja, que de nós não procede nenhuma obra agradável a Deus, enquanto nós
mesmos não formos recebidos em seu favor, ou (falando mais sucintamente)
nenhuma obra é considerada justa diante de Deus, a não ser aquelas que procedem
de um homem justo. Deus deu testemunho acerca das ofertas de Abel, porque ele
recebeu a honra de ser considerado justo diante de Deus.
Esta doutrina deve ser cuidadosamente observada em
virtude de não sermos facilmente persuadidos dela. Sempre que se nota alguma
coisa gloriosa numa obra, imediatamente somos arrebatados pela admiração, e
então concluímos que ela não pode ser desaprovada por Deus sem que ele cometa
injustiça. Deus, porém, que olha só para a pureza interior do coração, não leva
em conta os disfarces externos das obras. Devemos apreender, portanto: nenhuma
obra boa pode proceder de nós, sem que antes sejamos justificados diante de
Deus.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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