“RAABE, A MERETRIZ, JUSTIFICADA MEDIANTE A FÉ”
“Pela fé, Raabe, a meretriz, não foi destruída com os
desobedientes, porque acolheu com paz aos espias” (Hb 11.31).
Pela fé, Raabe não pereceu. Ainda que
à primeira vista esse exemplo pareça inadequado em razão do vil caráter da
pessoa, e quase até indigno de ser incluso neste catálogo [de heróis da fé],
não obstante foi citado pelo apóstolo como mui adequado e relevante. Até aqui,
ele demonstrou que os patriarcas a quem os judeus atribuíam a maior honra e
respeito nada fizeram digno de enaltecimento que não fosse pela fé, e que todos
os benefícios divinos para conosco, os quais são dignos de memória, são os frutos
da mesma fé. Agora nos diz que uma mulher estrangeira, a qual era não só dentre
a classe mais humilde de seu povo, mas também uma meretriz, foi, pela fé
introduzida no corpo da Igreja. Segue-se desse fato que aqueles a quem pertence
a mais elevada excelência são de nenhum valor aos olhos de Deus, a não ser
quando avaliados pelo prisma da fé; e que, em contrapartida, aqueles que
dificilmente teriam um lugar entre os incrédulos e os pagãos são adotados na
companhia dos anjos.
Tiago também testifica da fé de Raabe
(Tg 2.25), e é fácil de se perceber à luz da sacra história, que essa mulher
fora dotada com uma fé genuína. Ela professou que se sentira plenamente
persuadida pelo que Deus prometera aos israelitas; e daqueles a quem o medo
impedira de entrar na terra, e que agora eram os conquistadores, ela pediu
perdão para si mesma e para seu povo. E ao proceder assim, ela não olhava para
o homem, mas para Deus mesmo. A evidência dessa fé consiste em que ela recebeu
os espias com aquela hospitalidade que punha em risco sua própria vida.
Portanto, foi graças à fé que Raabe escapou incólume da ruína geral de sua
cidade. O designativo meretriz é
adicionado visando a engrandecer a graça de Deus. Naturalmente que isso também
se refere à sua vida pregressa, porquanto sua fé é a evidência de seu
arrependimento.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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