“MOISÉS, JUSTIFICADO MEDIANTE A FÉ”
“Pela fé, Moisés abandonou o Egito, não ficando amedrontado
com a cólera do rei; antes, permaneceu firme como quem vê aquele que é
invisível” (Hb 11.27).
Pela fé, Moises abandonou o Egito, bravamente
desconsiderou a violenta ira do rei, e de tal maneira armou-se com o poder do
Espírito de Deus, que persistentemente afrontou a esse furor bestial.
Moisés havia visto Deus no meio da sarça ardente, “como quem vê aquele que é invisível”. Indubitavelmente, admito que Moisés se encontrava fortalecido com essa visão de Deus antes de iniciar sua extraordinária tarefa de libertar o povo, todavia não creio que foi tal visão que o deixara fora de si e transportado para além dos perigos deste mundo. Naquela ocasião, Deus lhe mostrara apenas um tênue sinal de sua presença, e esteve longe de vê-lo como ele é.
Em síntese, Deus apareceu a Moisés de uma forma tal,
como para deixar ainda lugar para a fé, e Moisés, sendo assediado de todos os
lados por numerosos terrores, volveu a Deus toda a sua atenção. Certamente que
foi auxiliado a agir assim pela visão que teve, mas ele viu em Deus mais do que
o sinal visível continha. Ele compreendera o poder divino, fato esse que
dissipou todos os seus temores e todos os riscos. E ao descansar na promessa divina,
ele se assegurou de que o povo, embora ainda oprimido pela tirania dos
egípcios, era já senhor da terra prometida. Desse fato concluímos que,
primeiro, a verdadeira natureza da fé consiste em ter Deus sempre diante dos
olhos; segundo, que a fé vê coisas mais elevadas e ocultas em Deus do que os
nossos sentidos podem perceber; e terceiro, que nos é suficiente apenas uma
visão de Deus para que nossas debilidades sejam corrigidas, e assim nos
tornemos mais fortes que as rochas contra todas as investidas de Satanás.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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