"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



segunda-feira, 11 de novembro de 2024

“NÃO RECEBESTES O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO”

“NÃO RECEBESTES O ESPÍRITO DE ESCRAVIDÃO”

“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15).

O apóstolo Paulo agora confirma a certeza daquela confiança na qual ele recentemente ordena aos crentes que descansassem em segurança. Ele procede assim ao mencionar o efeito especial produzido pelo Espírito. Esse não foi dado para molestar-nos com o medo ou atormentar-nos com a ansiedade, mas ao contrário, para acalmar nossa intranquilidade, para trazer nossas mentes a um estado de paz e incitar-nos a clamar a Deus com confiança e liberdade. O apóstolo, pois, não só prossegue o argumento no qual tocara de leve, mas também insiste mais sobre a outra causa que, ao mesmo tempo, conectara com esta, ou seja: aquela que trata da complacência paternal de Deus, pela qual ele perdoa em seu povo as enfermidades da carne e os pecados sob os quais eles ainda labutam. Nossa confiança nessa clemência divina, ensina-nos Paulo, se converte naquela certeza de que o Espírito de adoção opera em nós, o qual não nos obrigaria a viver em oração sem antes selar-nos com o perdão gracioso. Para que este ponto fosse ainda mais evidente, o apóstolo afirma que há dois espíritos. A um ele chama de espírito de escravidão, o qual podemos receber da lei; e o outro, o espírito de adoção, o qual procede do evangelho. O primeiro, afirma ele, foi outrora concedido pra produzir temor; o segundo é agora concedido para proporcionar segurança. A certeza de nossa salvação, a qual ele deseja confirmar, desponta, como podemos ver, com grande nitidez daquela comparação de opostos. A mesma comparação é usada pelo autor da Epístola aos Hebreus, ao dizer que não temos que aproximar-nos do Monte Sinal, onde tudo é por demais terrível, e onde o povo, assombrado como que diante de uma declaração de morte, implorou que a palavra não lhes fosse proferida, e quando o próprio Moisés confessou que se sentia dominado pelo terror, “senão que nos acheguemos ao monte Sião, e à cidade do Deus vivente, e à Jerusalém celestial... e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança” [Hb 12.18-24].

À luz do advérbio novamente, ou outra vez, aprendemos que o apóstolo Paulo, aqui, está comparando a lei com o evangelho. Este é aquele inestimável benefício que o Filho de Deus nos trouxe através de seu advento, a saber: que não mais precisamos nos prender à condição servil da lei. Não devemos, contudo, inferir daqui, ou que ninguém foi dotado com o Espírito de adoção antes da vinda de Cristo, ou que todos quantos receberam a lei eram escravos, e não filhos. Paulo compara o ministério da lei com a dispensação do evangelho, e não pessoas com pessoas. Admito que os crentes são aqui advertidos sobre quão mais liberalmente Deus os trata agora do que antigamente tratou os pais sobe o Velho Testamento. Levo em conta, contudo, a dispensação externa, e só neste aspecto é que os sobrepujamos, pois a fé de Abraão, de Moisés e de Davi era mais excelente que a nossa. Não obstante, até ao ponto em que Deus os conservou sujeitos a “tutores”, não alcançaram aquela liberdade que a nos foi concretizada.

Entretanto, devemos ao mesmo tempo observar que o apóstolo faz aqui, por causa dos falsos apóstolos, um deliberado contraste entre discípulos liberais da lei e crenes, a quem Cristo, seu Mestre celestial, não só se lhes dirige com as palavras de seus próprios lábios, mas também os instrui interior e eficazmente pela instrumentalidade de seu Espírito.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário.  

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