“CONSIDERA OS MEUS
INIMIGOS”
“Considera os
meus inimigos, pois são muitos e me abominam com ódio cruel. Guarda-me a alma e
livra-me; não seja eu envergonhado, pois em ti me refugio” (Sl 25.19,20).
Aqui, Davi se queixa do número e da crueldade de seus inimigos, porque, quanto mais o
povo de Deus é oprimido, mais Deus se inclina a socorrê-lo; e na proporção da
magnitude do perigo pelo qual se veem cercados, ele os assiste ainda mais
poderosamente. As palavras, odiado com violência, devem, aqui, ser subentendidas
no sentido de ódio cruel e sanguinário. Ora, visto que o furor dos inimigos de
Davi era tão profundo, que nada senão sua morte os deixaria satisfeitos, ele
invoca a Deus para que fosse o guardião e protetor de sua vida; e desse fato
pode inferir-se, segundo já afirmei, que ele estava agora exposto a um perigo
extremo. A cláusula que imediatamente se segue - não seja eu envergonhado - pode ser subentendida de duas formas. Alguns retêm o tempo
futuro — eu não serei envergonhado —, como se Davi se sentisse seguro de que já
havia sido ouvido por Deus, e como se o galardão de sua esperança lhe assegurasse
uma graciosa resposta às suas orações. Sinto-me, antes, inclinado à opinião
contrária que considera essas palavras como que formando ainda parte de sua
oração. Portanto, o equivalente do que é aqui afirmado consiste nisto: visto
que ele confia em Deus, então ora para que a esperança de salvação, que se
havia formado nele, não fosse desapontada. Não há nada mais adequado para
comunicar santo ardor às nossas orações do que quando somos capazes de
testificar com sinceridade de coração que confiamos em Deus. E por isso nos
convém pedir com muito maior solicitude que ele faça nossa esperança crescer,
quando ela é pequena; despertá-la, quando é dormente; confirmá-la, quando é
oscilante; revigorá-la, quando é frágil; e que ele até mesmo a ressuscite,
quando está como que destruída.
Deus nos abençoe!
João
Calvino (1509-1564).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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