"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 21 de outubro de 2025

“PRESERVA A MINHA ALMA, POIS EU SOU PIEDOSO”


“PRESERVA A MINHA ALMA, POIS EU SOU PIEDOSO”

“Preserva a minha alma, pois eu sou piedoso; tu, ó Deus meu, salva o teu servo que em ti confia” (Sl 86.2).

Aqui o salmista associa outros dois argumentos por meio dos quais insiste com Deus que lhe conceda socorro - sua própria amabilidade para com seus vizinhos e a confiança que depositava em Deus. Na primeira sentença, à primeira vista poderia parecer estar fazendo algumas pretensões à dignidade pessoal; todavia claramente mostra que sua intenção longe estava de insinuar que foi por méritos próprios que punha Deus em obrigação de preservá-lo. Mas a menção particular que ele faz de sua clemência e mansidão tende a exibir à plena luz quão odiosa era a perversidade de seus inimigos, os quais trataram com tanta ignomínia e com tanta desumanidade a um homem contra quem não podiam, solidamente fundamentados, tornar culpado, e alguém que, com tanto esforço, tudo fazia para ser-lhes agradável. Visto, pois, que Deus declarou ser o defensor das boas causas daqueles que seguem após a justiça, Davi, não sem boa razão, testifica que tinha se esforçado por exercer bondade e amabilidade; à luz deste fato pode parecer que ele fora vilmente retribuído por seus inimigos, quando gratuitamente agiram cruelmente contra um homem compassivo. Mas como não seria suficiente que suas vidas fossem caracterizadas pela bondade e justiça, junta-se uma qualificação adicional: o descanso ou confiança em Deus, sendo esta a mãe de toda verdadeira religião. Estamos cientes de que alguns têm sido dotados com um grau bem elevado de integridade, ao ponto de granjearem entre os homens o louvor de serem perfeitamente justos. Mas, como esses homens, com todas suas excelências e virtudes, eram ou dominados pela ambição, ou inflados pela soberba, que os levam a confiar mais em si do que em Deus, não surpreende encontrá-los sofrendo o castigo de sua vaidade. Ao lermos histórias profanas, nos sentimos perplexos como é possível que Deus tenha abandonado os honestos, os sérios e os temperados às paixões tempestivas de uma multidão perversa; mas não há razão para espanto diante disso, quando ponderamos que tais pessoas, confiando em sua própria força e virtude, desprezaram a graça de Deus com toda a arrogância da impiedade. Fazendo de sua própria virtude um ídolo, desdenhosamente se recusaram a erguer seus olhos para ele. Portanto, embora possamos ter o testemunho de uma consciência aprovadora, e embora ele seja a melhor testemunha de nossa inocência, todavia, se estamos desejosos de obter sua assistência, é necessário que lhe confiemos nossas esperanças e ansiedades. Se alguém contesta dizendo que nesse caminho o portão está fechado para os pecadores, respondo que quando Deus convida a si os que são inocentes e retos em sua conduta, isso não significa que ele imediatamente repila todos os que são castigados por conta de seus pecados; porque eles têm uma oportunidade que lhes foi dada, caso a aproveitem para a oração e o reconhecimento de sua culpa.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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