“PRESERVA A MINHA ALMA, POIS EU SOU PIEDOSO”
“Preserva a
minha alma, pois eu sou piedoso; tu, ó Deus meu, salva o teu servo que em ti
confia” (Sl 86.2).
Aqui o salmista
associa outros dois argumentos por meio dos quais insiste com Deus que lhe
conceda socorro - sua própria amabilidade para com seus vizinhos e a confiança
que depositava em Deus. Na primeira sentença, à primeira vista poderia parecer
estar fazendo algumas pretensões à dignidade pessoal; todavia claramente mostra
que sua intenção longe estava de insinuar que foi por méritos próprios que
punha Deus em obrigação de preservá-lo. Mas a menção particular que ele faz de sua
clemência e mansidão tende a exibir à plena luz quão odiosa era a perversidade
de seus inimigos, os quais trataram com tanta ignomínia e com tanta
desumanidade a um homem contra quem não podiam, solidamente fundamentados,
tornar culpado, e alguém que, com tanto esforço, tudo fazia para ser-lhes agradável.
Visto, pois, que Deus declarou ser o defensor das boas causas daqueles que
seguem após a justiça, Davi, não sem boa razão, testifica que tinha se
esforçado por exercer bondade e amabilidade; à luz deste fato pode parecer que
ele fora vilmente retribuído por seus inimigos, quando gratuitamente agiram
cruelmente contra um homem compassivo. Mas como não seria suficiente que suas
vidas fossem caracterizadas pela bondade e justiça, junta-se uma qualificação
adicional: o descanso ou confiança em Deus, sendo esta a mãe de toda verdadeira
religião. Estamos cientes de que alguns têm sido dotados com um grau bem
elevado de integridade, ao ponto de granjearem entre os homens o louvor de
serem perfeitamente justos. Mas, como esses homens, com todas suas excelências
e virtudes, eram ou dominados pela ambição, ou inflados pela soberba, que os
levam a confiar mais em si do que em Deus, não surpreende encontrá-los sofrendo
o castigo de sua vaidade. Ao lermos histórias profanas, nos sentimos perplexos
como é possível que Deus tenha abandonado os honestos, os sérios e os
temperados às paixões tempestivas de uma multidão perversa; mas não há razão
para espanto diante disso, quando ponderamos que tais pessoas, confiando em sua
própria força e virtude, desprezaram a graça de Deus com toda a arrogância da
impiedade. Fazendo de sua própria virtude um ídolo, desdenhosamente se
recusaram a erguer seus olhos para ele. Portanto, embora possamos ter o
testemunho de uma consciência aprovadora, e embora ele seja a melhor testemunha
de nossa inocência, todavia, se estamos desejosos de obter sua assistência, é
necessário que lhe confiemos nossas esperanças e ansiedades. Se alguém contesta
dizendo que nesse caminho o portão está fechado para os pecadores, respondo que
quando Deus convida a si os que são inocentes e retos em sua conduta, isso não
significa que ele imediatamente repila todos os que são castigados por conta de
seus pecados; porque eles têm uma oportunidade que lhes foi dada, caso a
aproveitem para a oração e o reconhecimento de sua culpa.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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