"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



terça-feira, 25 de novembro de 2025

“DESDE A MINHA MOCIDADE, ME ANGUSTIARAM”


“DESDE A MINHA MOCIDADE, ME ANGUSTIARAM”

“Desde a minha mocidade, me angustiaram, todavia, não prevaleceram contra mim” (Sl 129.2).

O termo mocidade denota os primórdios do povo, referindo-se não só ao tempo em que Deus tirou o povo do Egito, mas também ao tempo em que ele usou Abraão e os patriarcas durante quase toda a sua vida, mantendo-os numa condição de luta árdua. Se esses patriarcas tiveram de andar como estrangeiros na terra de Canaã, a sorte de seus descendentes foi ainda pior durante o tempo de sua permanência no Egito, quando foram oprimidos como escravos e afligidos por toda sorte de opróbrio e ignomínia. Em sua partida daquela terra, sabemos quantas dificuldades tiveram de enfrentar.

Se, ao considerarmos a história deles desde aquele período, nos depararmos com ocasiões em que se lhes tributou algum respeito, observaremos que eles nunca viveram num estado de tranquilidade, por qualquer extensão de tempo, até ao reinado de Davi. E, embora durante o reinado de Davi eles aparentassem viver numa condição próspera, logo surgiam tribulações e derrotas, as quais ameaçavam o povo de Deus com total destruição. No cativeiro babilônico, sendo toda esperança quase extinta, pareciam como que ocultos no túmulo e antecipando o processo de putrefação. Após o seu regresso, foi com dificuldade que obtiveram alguma breve intermissão, para tomarem fôlego. Por certo, às vezes eles eram entregues à espada, até que sua raça era quase totalmente destruída. A fim de evitar que alguém presuma que eles haviam recebido apenas algumas leves feridas, o salmista diz que foram afligidos com razão, como se os colocasse quase mortos diante de nossos olhos, por causa do tratamento de seus inimigos, os quais, vendo-os prostrados sob a planta de seus pés, os esmagavam sem escrúpulo. Se olharmos para nós mesmos, é oportuno acrescentar as terríveis perseguições pelas quais a Igreja teria sido consumida milhares de vezes, se Deus não a houvesse preservado, por meios ocultos e misteriosos, ressuscitando-a, por assim dizer, dentre os mortos. A menos que nos tornemos estúpidos, quando afligidos por nossas calamidades, as circunstâncias aflitivas desta era desditosa nos compelirão a meditar sobre essa mesma doutrina.

Quando o profeta diz, por duas vezes, eles me têm angustiado, a repetição não é supérflua. A intenção é ensinar-nos que o povo de Deus enfrentou conflitos não somente uma vez ou duas e que sua paciência foi testada por disciplinas contínuas. O salmista dissera que esse conflito começara desde a juventude, sugerindo que estavam habituados ao conflito desde a mais tenra origem, a fim de que se acostumassem a carregar a cruz. Então, ele acrescenta que, ao se sujeitarem a este rigoroso treinamento, não o fizeram sem uma boa razão, visto que Deus não cessara de fazer uso das calamidades para submetê-los a Si mesmo. Se as disciplinas da Igreja, durante seu período de infância, eram tão severas, nossa debilidade será realmente vergonhosa, se nos dias atuais, quando a Igreja, por meio da vinda de Cristo, alcançou a era da maturidade, formos achados sem firmeza para suportar as provações. Fonte de consolação é a última sentença, que nos informa que os inimigos de Israel, após haverem tentado todos os métodos, nunca tiveram êxito em concretizar seus desejos, visto que Deus sempre frustrou as esperanças dos inimigos e abafou suas tentativas.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

Nenhum comentário:

Postar um comentário