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terça-feira, 25 de novembro de 2025

“MUITAS VEZES ME ANGUSTIARAM”


“MUITAS VEZES ME ANGUSTIARAM”

“Muitas vezes me angustiaram desde a minha mocidade, Israel que o diga” (Sl 129.1).

É bem provável que este Salmo tenha sido escrito numa ocasião em que a Igreja de Deus, reduzida a um estado de angústia extrema, ou desfalecida em face de um grande perigo, ou oprimida com tirania, se via à beira de destruição total. É como se o profeta quisesse dizer: Quando os fiéis de Deus se encontram em meio às dificuldades que os abatem sob o fardo das provações, esse é um tempo oportuno de refletirem sobre a maneira como Deus tem exercitado seu povo desde o princípio, de geração em geração. Tão logo Ele solte as rédeas de nossos inimigos, para que façam o que bem lhes agrade, somos perturbados com tristezas, e nossos pensamentos, totalmente absorvidos pelos males que ora nos embaraçam. Disso procede o desespero, pois não lembramos que a paciência dos pais foi subjugada a uma provação semelhante e que não nos sucede nada que eles não experimentaram. É um exercício eminentemente apropriado ao conforto dos verdadeiros crentes o volverem seu olhar aos conflitos da Igreja nos dias de outrora, para que, por meio disso, saibam que ela sempre labutou sob a cruz e tem sido severamente afligida pela violência injusta de seus inimigos.

A conjectura mais provável que me ocorre é que este Salmo foi escrito depois que os judeus regressaram do cativeiro babilônico, quando, tendo sofrido muitos agravos e injúrias cruéis nas mãos de seus vizinhos, quase desfaleceram sob a tirania de Antíoco Epifãnio. Nesse estado de trevas e tribulações, o profeta encoraja os fiéis a serem fortes, não se dirigindo apenas a uns poucos, mas a todo o corpo, sem exceções. E, a fim de que fossem sustentados em assaltos tão ferozes, ele desejava que demonstrassem em oposição a tais assaltos uma esperança inspirada pela encorajadora consideração de que a Igreja, por meio de tolerância paciente, tem se mostrado invariavelmente vitoriosa.

Quase cada palavra contém ênfase. Israel que o diga, ou seja, que ele considere as provações da Igreja nos tempos antigos; disso se pode deduzir que o povo de Deus nunca foi isentado de levar a cruz e que as várias aflições pelas quais têm sido provados sempre tiveram um resultado feliz. Ao falar dos inimigos de Israel usando apenas o pronome eles, e não sendo mais específico, o salmista agrava a severidade da aflição, mais do que se houvesse chamado expressamente pelo nome os assírios ou os egípcios. Ao não especificar qualquer classe particular de inimigos, ele notifica por meio do silêncio que o mundo está saturado de inumeráveis bandos de inimigos, que Satanás facilmente arma para a destruição dos homens bons, sendo o objetivo dele que novas guerras surjam continuamente e de todos os lados. A história certamente dá testemunho amplo de que o povo de Deus não tem enfrentado poucos inimigos, e sim que têm sido atacado por quase todo o mundo; e, além do mais, que foram molestados não só por inimigos externos, mas também por inimigos internos, que professavam pertencer à Igreja.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana do Brasil - Curitiba(PR).

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