“SALVAI ALGUNS, ARREBATANDO-OS DO FOGO”
“E apiedai-vos
de alguns que estão duvidosos; e salvai alguns, arrebatando-os do fogo; tende
deles misericórdia com temor, aborrecendo até a roupa manchada da carne” (Jd 1.22,23).
Judas acrescenta
outra exortação, explicando como os fiéis deveriam agir ao reprovar os irmãos a
fim de restaurá-los ao Senhor. Ele os lembra de que os tais deveriam ser
tratados de diferentes maneiras, cada um de acordo com a sua disposição. Com os
mansos e ensináveis devemos usar de bondade; mas outros, que são duros e
perversos, devem ser subjugados pelo terror. Este é o discernimento que
ele menciona.
O sentido
então é de que, se desejamos ter em consideração o bem-estar daqueles que se
desviam, devemos considerar o caráter e a disposição de cada um, de modo que aqueles
que são mansos e tratáveis sejam restaurados ao caminho reto de um modo gentil,
como sendo objetos de piedade. Mas, se algum for perverso, deve ser corrigido
com mais severidade. E, como a aspereza é por pouco detestável, ele a desculpa
com base na necessidade, pois, de outro modo, aqueles que não seguem bons
conselhos prontamente não podem ser salvos.
Além disso,
ele emprega uma metáfora surpreendente. Quando há perigo de fogo, não hesitamos
em arrebatar violentamente aqueles que desejamos salvar, pois não seria
suficiente apontar com o dedo, ou estender gentilmente a mão. Assim também
deveria ser tratada a salvação de alguns, porque eles só virão a Deus se puxados
rudemente. A palavra salvar é transferida para os homens, não porque
sejam os autores, mas os ministros da salvação.
“Aborrecendo
até a roupa manchada da carne”. Judas
queria que os fiéis não apenas se guardassem do contato com os vícios,
mas, para que nenhum contágio os alcançasse, ele os lembra de que tudo o que
faz limite com os vícios e está próximo deles deve ser evitado. Assim como,
quando falamos da lascívia, dizemos que todos os incitamentos aos prazeres
deveriam ser removidos. Esta passagem se tornará mais clara quando toda a
sentença estiver completa - isto é, que devemos odiar não apenas a carne, mas
também a túnica, que, pelo contato com aquela, é infectada. Assim sendo, ele não
admite que o mal seja nutrido através da indulgência, de modo que manda que
todos os preparativos e todos os acessórios, como dizem, sejam cortados.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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