“QUERO, POIS, LEMBRAR-VOS, EMBORA JÁ ESTEJAIS CIENTES DE TUDO”
“Quero, pois, lembrar-vos, embora já estejais cientes de tudo uma vez
por todas, que o Senhor, tendo libertado um povo, tirando-o da terra do Egito,
destruiu, depois, os que não creram” (Jd 1.5).
Judas, ou
modestamente se desculpa, para que não parecesse ensinar, como que a
ignorantes, coisas desconhecidas a eles; ou, de fato (com o que estou mais de
acordo), declara abertamente, de um modo enfático, que não apresentava nada
novo ou inaudito antes, a fim de que aquilo que ia dizer pudesse ter mais
crédito e autoridade. “Apenas torno a chamar à vossa mente”, diz ele, “aquilo
que já aprendestes”. Uma vez que lhes atribui conhecimento, ele diz que
precisavam de advertências, para que não pensassem que o trabalho que teve com
eles fosse supérfluo. Ele usa a palavra de Deus não apenas para ensinar o que
não poderíamos ter conhecido de outro modo, mas também para nos despertar para
uma séria meditação das coisas que já entendemos, e para não permitirmos que
nos tornemos apáticos num conhecimento frio.
Ora, o sentido
é que, após termos sido chamados por Deus, não devemos nos gloriar
negligentemente na sua graça, e sim, pelo contrário, andar atentamente no seu
temor. Pois, se alguém brinca com Deus assim, o menosprezo pela sua graça não
ficará impune. E isto ele prova por três exemplos. Primeiro, ele se refere à
vingança que Deus executou sobre aqueles incrédulos que ele havia escolhido
como seu povo e libertado pelo seu poder. Praticamente a mesma referência é
feita por Paulo em 1Co 10.1-13. O significado do que ele diz é que aqueles que
Deus havia honrado com as maiores bênçãos, que ele havia exaltado ao mesmo grau
de honra de que desfrutamos hoje, puniu depois severamente. Então futilmente se
orgulhavam da graça de Deus todos aqueles que não viviam de uma maneira
conveniente com o seu chamado.
A palavra povo
é empregada por honra em lugar de nação santa e eleita, como se ele tivesse
dito que de nada lhes servira que, por um favor singular, tivessem entrado no
concerto. Chamando-os de incrédulos, ele denota a fonte de todos os
males. Pois todos os pecados deles, mencionados por Moisés, deviam-se a isto -
que eles se recusaram a ser governados pela palavra de Deus. Onde existe a
sujeição da fé, aí a obediência para com Deus necessariamente se mostra em
todos os deveres da vida.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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