"SER CRISTÃO É TER MENTE E CORAÇÃO DE CRISTO".



sexta-feira, 22 de março de 2024

“QUEM MORREU ESTÁ JUSTIFICADO DO PECADO”


QUEM MORREU ESTÁ JUSTIFICADO DO PECADO”

“Porquanto quem morreu está justificado do pecado” (Rm 6.7).

Este é um argumento derivado da natureza inerente ou efeito da morte. Se a morte destrói todas as ações da vida, então nós, que já morremos para o pecado, devemos cessar com aquelas ações que o pecado exerce durante a trajetória de sua existência [terrena]. O termo justificados, aqui, significa libertados ou recuperados da escravidão. Assim como o prisioneiro que é absolvido da sentença do juiz, se vê livre do vínculo de sua acusação, também a morte, livrando-nos desta presente vida, nos faz livres de todas as nossas responsabilidades.

Além do mais, embora este seja um exemplo que não pode ser encontrado em parte alguma entre os homens, contudo não há razão para considerar esta afirmação como uma especulação fútil, nem razão para desespero por não nos acharmos no número daqueles que crucificaram completamente sua carne. Essa obra divina não se completou no momento em que teve início em nós, mas se desenvolve gradualmente, e diariamente avança um pouco mais até chegar à sua plena consolidação. Podemos sumariar este ensino do apóstolo Paulo da seguinte forma: “Se porventura és cristão, então deves revelar em ti mesmo pelo menos um sinal de tua comunhão na morte de Cristo; e o fruto disto consiste em que tua carne será crucificada juntamente com todos os desejos dela. Não deves presumir, contudo, que esta comunhão não é real só porque ainda encontras em ti traços de carnalidade em plena atividade. Mas é forçoso que continuamente encontres também traços de crescimento em tua comunhão na morte de Cristo e alcances o alvo final”. Já é suficiente que o crente sinta que sua carne está sendo continuamente mortificada, e ela não avança mais enquanto o Espírito Santo tem sob seu controle o miserável reinado exercido por ela [carne]. Há ainda outra comunhão na morte de Cristo, da qual o apóstolo fala com frequência, como em 2 Coríntios 4.10-18, a saber: o suportar a cruz, ação seguida de nossa participação na vida eterna.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

*Visite a Igreja Presbiteriana Silva Jardim - Curitiba(PR).
Av. Silva Jardim, 4155 – Seminário. 

quarta-feira, 20 de março de 2024

“FOI CRUCIFICADO COM ELE O NOSSO VELHO HOMEM”


FOI CRUCIFICADO COM ELE O NOSSO VELHO HOMEM”

“Sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm 6.6).

O “velho” homem é assim chamado à semelhança do “Velho” Testamento que é também assim chamado em relação ao “Novo” Testamento. Ele começa a ser “velho” quando sua regeneração tem início, e sua velha natureza é gradualmente destruída. O apóstolo Paulo está referindo-se a toda a nossa natureza, a qual trazemos do ventre materno, e a qual é tão incapaz de receber o reino de Deus, que precisa morrer na mesma proporção que somos renovados para a verdadeira vida. Este “velho homem”, diz ele, é pregado na cruz com Cristo, porque, pelo seu poder, ele jaz morto. Paulo faz referência à cruz a fim de mostrar mais distintamente que a única fonte de nossa mortificação é nossa participação na morte de Cristo. Não concordo com aqueles intérpretes que explicam que Paulo usou o termo crucificado, em vez de morto, porque nosso velho homem está ainda vivo, e em certa medida ainda cheio de vigor. A interpretação está plenamente certa, mas dificilmente se faz relevante para o nosso presente texto. O corpo do pecado, ao qual faz menção um pouco depois, não significa carne e ossos, e, sim, toda a massa de pecado, pois o homem, quando abandonado à sua própria natureza, não passa de uma massa de pecado. A expressão, e não sirvamos o pecado como escravos, realça o propósito de sua destruição. Segue-se que até onde somos filhos de Adão, e nada mais além de homens, somos tão completamente escravos do pecado que nada mais podemos fazer senão pecar. Mas quando somos enxertados em Cristo, somos libertados desta miserável compulsão, não porque cessamos definitivamente de pecar, mas para que finalmente sejamos vitoriosos no conflito.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SEMELHANTES NA MORTE E NA RESSURREIÇÃO”


“SEMELHANTES NA MORTE E NA RESSURREIÇÃO”

“Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6.5).

O apóstolo Paulo confirma o argumento que previamente apresentara, fazendo uso de expressões mais claras. A comparação que introduz remove toda e qualquer ambiguidade, visto que o nosso enxerto significa não só nossa conformidade com o exemplo de Cristo, mas também com a união secreta, por meio da qual crescemos unidos a ele, de tal forma que nos revitaliza pela instrumentalidade de seu Espírito e transfere para nós o seu poder. Portanto, assim como o elemento exertante tem a mesma vida ou morte do ramo no qual é enxertado, também é razoável que sejamos plenamente participantes tanto da vida quanto da morte de Cristo. Se formos enxertados na semelhança da morte de Cristo, visto que sua morte é inseparável de sua ressurreição, então à nossa morte seguirá a nossa ressurreição.

Crisóstomo (407d.C) sustenta que, pela expressão “em semelhança de homem” [Fp 2.7) ele quer dizer “sendo feito homem. Parece-me, contudo, que existe na expressão mais importância do que simplesmente isto. Além de referir-se à ressurreição, parece achar-se implícita a ideia de que não passaremos pela morte natural à semelhança de Cristo, mas que existe esta similitude entre a nossa morte e a dele - assim como Cristo morreu na carne que recebera de nós, também morremos em nós mesmos, a fim de que possamos viver nele. Nossa morte, pois, não é a mesma [morte] de Cristo, senão que é semelhante à dele, pois devemos notar a analogia entre a morte nesta presente vida e a nossa renovação espiritual.

“Fomos unidos”. Esta palavra [unidos ou exertados] leva grande ênfase, e revela que Paulo não nos está exortando, e, sim, ensinando acerca do benefício que derivamos de Cristo. Ele desejava simplesmente realçar a eficácia da morte de Cristo, a qual minifestou-se na destruição de nossa carne, e também a eficácia de sua ressureição que nos renova interiormente segundo a natureza superior do Espírito.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“SEPULTADOS COM CRISTO NA MORTE PELO BATISMO”


“SEPULTADOS COM CRISTO NA MORTE PELO BATISMO”

“Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4).

O apóstolo Paulo então começa mostrar o que está compreendido em nosso batismo na morte de Cristo, embora não nos apresente ainda uma explicação satisfatória. O batismo significa que, ao sermos mortos para nós mesmos, nos tornamos novas criaturas. Paulo corretamente passa da comunhão na morte de Cristo para a participação de sua vida. Visto que estas duas se acham inseparavelmente entrelaçadas, o nosso velho homem é destruído pela morte de Cristo, a fim de que sua ressurreição venha a restaurar nossa justiça e nos transforme em novas criaturas. E visto que Cristo nos foi dado para a vida, por que devemos morrer com ele, senão que ressuscitemos para uma vida melhor? Cristo, pois, expõe à morte o que é mortal em nós, a fim de verdadeiramente restaurar-nos à vida.

Notemos além do mais, que o apóstolo, aqui, não nos exorta simplesmente a imitar a Cristo, como se nos quisesse dizer que a morte de Cristo é um exemplo apropriado para que todos os cristãos o sigam. Indubitavelmente, ele tem em mente algo muito mais elevado. Na verdade, Paulo está propondo uma doutrina que mais tarde usará como base exortativa. Sua doutrina, como podemos claramente ver, consiste em que a morte de Cristo é eficaz para destruir e subjugar a depravação de nossa carne; e sua ressurreição, para renovar em nós uma natureza muito superior. Também afirma que, por meio do batismo, somos admitidos à participação da sua graça. Tendo lançado esta proposição básica, Paulo pode mui apropriadamente exortar os cristãos a envidarem todo esforço para que vivam de uma forma que corresponda ao seu chamamento. É irrelevante argumentar se este poder não se evidencia em todos os que são batizados, porquanto, Paulo, visto estar falando a crentes, conecta a realidade e o efeito com o sinal externo, segundo sua maneira usual de argumentar. Pois sabemos que pela fé é confirmado e ratificado neles tudo quanto o Senhor oferece por meio do símbolo visível. Em resumo, ele nos ensina em que consiste a verdade do batismo quando corretamente recebido. Assim testifica que todos os gálatas, os quais haviam sido batizados em Cristo, haviam se revestido dele (Gl 3.27). Devemos usar sempre estes termos, pois jamais possuímos símbolos nus e vazios, exceto quando nossa ingratidão e impiedade obstruem a operação da divina munificência.

“Pela glória do Pai”. Ou seja: pelo esplêndido poder por meio do qual ele declarou-se verdadeiramente glorioso e exibiu a magnificência de sua glória. Por isso, o poder de Deus, na Escritura, que se fez ativo na ressurreição de Cristo, é às vezes apresentado em termos de muita sublimidade, e com sobejas razões. É de grande importância que enalteçamos a Deus, fazendo menção explícita de seu incomparável poder, não apenas por nossa fé na ressurreição final, a qual excede a toda e qualquer percepção da carne, mas pelos demais benefícios que recebemos da ressurreição de Cristo

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“EM CRISTO JESUS FOMOS BATIZADOS NA SUA MORTE”


“EM CRISTO JESUS FOMOS BATIZADOS NA SUA MORTE”

“Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?” (Rm 6.3).

O apóstolo Paulo prova a sua tese anterior de que Cristo destrói o pecado em seu povo a partir do efeito do batismo, por meio do qual somos iniciados na fé nele [em Cristo]. É além de questão que nos vestimos de Cristo, no batismo, e que somos batizados com base neste princípio, a saber: verdadeiramente crescemos no corpo de Cristo somente quando sua morte produz em nós frutos. Ele, deveras, nos ensina que esta comunhão em sua morte é o ponto central do batismo. Ele não pressupõe uma simples lavagem, mas, sobretudo a mortificação e despimento do velho homem, os quais são ali estabelecidos. É evidente que a eficácia da morte de Cristo só se manifesta no momento em que somos recebidos em sua graça.

“Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17)..

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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terça-feira, 19 de março de 2024

“COMO VIVEREMOS AINDA NO PECADO?”


“COMO VIVEREMOS AINDA NO PECADO?”

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” (Rm 6.1,2).

“De modo nenhum!” [Que Deus nos livre!]. Certos intérpretes defendem a tese de que o único desejo do apóstolo Paulo era reprovar com indignação uma atitude tão irracional e fútil. Contudo, outras passagens provam quão frequentemente ele mostra ao longo de seu argumento quão corriqueira era tal atitude. Aqui também contesta, com muito tato e de forma breve, a calúnia contra sua doutrina da graça. Em primeiro lugar, contudo, Paulo rejeita tal calúnia com uma negativa saturada de indignação, com o fim de advertir seus leitores que não há maior contradição do que nutrirmos nossos vícios a pretexto da graça de Cristo, visto que ela é o único meio de restaurar nossa justiça.

“Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?” Agora, o seu argumento é extraído da posição contrária. Porquanto, quem peca, vive para o pecado. No entanto, pela graça de Cristo estamos mortos para o pecado. Portanto, é falso sustentar que aquilo que abole o pecado lhes injeta maior força. A verdade, ao contrário disto, reside no fato de que os crentes nunca são reconciliados com Deus sem que recebam antes o dom da regeneração. Deveras, somos justificados para este mesmo propósito, a saber: que em seguida adoremos a Deus em pureza de vida. Cristo nos lava com seu sangue e faz Deus propício para conosco através de sua expiação, fazendo-nos partícipes de seu Espírito, o qual nos renova para um viver santo. Portanto, seria a mais absurda inversão da obra divina caso o pecado recebesse força por meio da graça que nos é oferecida em Cristo. A medicina não tem por alvo tornar a doença ainda mais grave, quando sua meta é destruí-la. É bom que tenhamos bem firmado em nossa mente o que já referi anteriormente, ou seja: que Paulo não está aqui tratando do estado em que Deus nos encontra ao chamar-nos a comunhão de seu Filho, e, sim, o estado em que nos achávamos quando ele nos revelou sua misericórdia e graciosamente nos adotou. Ao fazer uso de um advérbio que denota futuro, Paulo mostra o gênero de transformação que deve seguir a justificação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“PERMANECEREMOS NO PECADO?”


“PERMANECEREMOS NO PECADO?”

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante? De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?”  (Rm 6.1,2).

Ao longo deste capítulo, o apóstolo Paulo defende a tese de que aqueles que imaginam que Cristo nos comunica a sua justificação gratuita, sem comunicar igualmente a novidade de vida, dilaceram ignominiosamente a Cristo. Contudo, ele avança um pouco mais e propõe a seguinte objeção: se os homens continuam em pecado, tal coisa aparentemente põe diante de nós uma grande oportunidade, para que a graça seja ostentada. Temos a experiência de como a carne é inclinada a apresentar alguma justificativa para sua indiferença. Satanás, também, vive sempre pronto a engendrar todo gênero de calúnia com o fim de lançar ao descrédito a doutrina da graça. Não devemos deixar-nos dominar pelo espanto quando, ao ouvir acerca da justificação pela fé, a carne com frequência se choca contra diferentes obstáculos, visto que toda verdade proclamada referente a Cristo é completamente paradoxal pelo prisma do juízo humano. Entretanto, é nosso dever prosseguir em nossa rota. Cristo não deve ser suprimido só porque para muitos ele não passa de pedra de ofensa e rocha de escândalo. Ao mesmo tempo que ele prova ser destruição para os ímpios, em contrapartida ele será sempre ressurreição para os fiéis. Teremos sempre que encontrar respostas às questões transcendentais, a fim de que a doutrina cristã não seja envolvida em aparentes absurdos.

O apóstolo sai no encalço da objeção que é mais comumente assacada contra a proclamação da graça divina, ou seja: se porventura for verdade que a graça nos assistirá muito mais liberal e abundantemente à medida que nos sentimos sobrecarregados com um fardo de pecados sempre mais pesado, então nada melhor que provocarmos a ira de Deus, submergindo-nos no abismo do pecado, e perpetrando-o cada vez mais com novas ofensas, pois só assim experimentaremos a graça mais abundantemente, visto que ela se constitui no maior benefício que porventura venhamos a desejar. Veremos mais adiante como podemos refutar um conceito tão estapafúrdio e virulento.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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quinta-feira, 14 de março de 2024

“NEM ME RETIRES O TEU SANTO ESPÍRITO”


“NEM ME RETIRES O TEU SANTO ESPÍRITO”

“Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito” (Sl 51.11).

Neste versículo, Davi apresenta a mesma petição, em linguagem que implica a conexão de perdão com o desfruto da orientação do Espírito Santo. Se Deus nos reconcilia consigo gratuitamente, segue-se que ele nos guiará pelo Espírito de adoção. Somente na forma como ele nos ama e nos considerou no número de seus próprios filhos é que pode nos abençoar com a participação de seu Espírito; e Davi mostra que estava consciente desse fato quando ora pela continuação da graça da adoção como indispensável à posse contínua do Espírito. As palavras deste versículo implicam que o Espírito não havia se retirado dele completamente, por mais que seus dons houvessem sido temporariamente obscurecido. Aliás, é evidente que ele não podia ser totalmente privado de suas excelências anteriores, pois parece que ele se desincumbira de seus deveres como um rei que desfrutava de crédito, que havia observado conscientemente as ordenanças da religião e que havia- regulado sua conduta conforme a divina lei. Até certo ponto, ele caíra em profunda e terrível letargia, mas não “se entregou a uma mentalidade réproba”; e é dificilmente concebível que a repreensão de Natã, o profeta, tivesse operado tão fácil e subitamente seu despertamento, não estivesse nos recessos de sua alma alguma fagulha latente de piedade. E verdade que ele ora para que seu espírito fosse renovado, mas isso não deve ser entendido com limitação. A verdade sobre a qual ora estamos insistindo é tão importante que muitos eruditos têm inconsistentemente defendido a opinião de que os eleitos, ao caírem em pecado mortal, perdem o Espírito completamente e ficam alienados de Deus. O oposto é claramente afirmado por Pedro, o qual nos diz que a palavra por meio da qual renascemos é uma semente incorruptível [1Pe 1.23]; e João é igualmente explícito em nos informar que os eleitos são preservados de apostasia consumada [1Jo 3.9]. Por mais que por algum tempo pareçam excluídos por Deus, mais tarde se vê que a graça esteve viva em seu peito, mesmo durante aquele intervalo durante o qual ela parecia extinta. Tampouco há algum valor na objeção de que Davi fala como se temesse ser privado do Espírito. É natural que os santos, ao caírem em pecado e, portanto, ao praticarem aquilo que poderia levá-los a serem excluído da graça de Deus, se sintam ansiosos quanto a esse estado [de alma]; mas é seu dever manter firme a verdade de que a graça é a incorruptível semente divina, a qual jamais perecerá em qualquer coração onde previamente foi depositada. Esse é o espírito exibido por Davi. Ponderando sobre sua ofensa, ele é agitado com temores, e contudo repousa na certeza de que, sendo um filho de Deus, não seria finalmente privado daquilo que, de fato e com justiça, perdera.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“CRIA EM MIM, Ó DEUS, UM CORAÇÃO PURO!”

“CRIA EM MIM, Ó DEUS, UM CORAÇÃO PURO!”

Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em meu íntimo um espírito reto” (Sl 51.10).

Na parte prévia do Salmo, Davi orou por perdão. Ele agora solicita que a graça do Espírito, a qual havia perdido, ou merecera haver perdido, fosse restaurada nele. As duas solicitações são completamente distintas, ainda que às vezes confundidas mesmo pelos homens de erudição. Ele passa do tema da remissão gratuita do pecado para o da santificação. E para isso ele naturalmente foi impulsionado por ardente ansiedade, ante a consciência de haver merecido a perda de todos os dons do Espírito, e de os haver ele realmente, em grande medida, perdido. Ao empregar o termo, cria, ele expressa sua persuasão de que nada menos que um milagre poderia efetuar sua restauração, e enfaticamente declara que o arrependimento é um dom de Deus. Os sofistas admitem a necessidade dos auxílios do Espírito, e concordam que a graça assistente deve tanto vir antes quanto vir depois; mas ao designar um lugar central para o livre-arbítrio humano, roubam a Deus grande parte de sua glória. Davi, pelo termo que aqui usa, descreve a obra de Deus em renovar o coração de uma maneira própria à sua extraordinária natureza, representando-o como a formação de uma nova criatura.

Como Davi já havia sido revestido com o Espírito, agora ora, na última parte do versículo, para que Deus renovasse dentro dele um espírito reto. Pelo termo cria, porém, o qual previamente empregou, ele reconhece que somos totalmente devedores à graça de Deus, tanto por nossa primeira regeneração quanto, no ato de nossa queda, pela subsequente restauração. Ele não assevera simplesmente que seu coração e espírito eram débeis, demandando a assistência divina, mas que permaneceriam destituídos de toda pureza e retidão até que estas fossem comunicadas do alto. Com isso se evidencia que nossa natureza é inteiramente corrupta; pois possuísse a mesma alguma retidão ou pureza, Davi não teria, como o fez neste versículo, chamado a um, um dom do Espírito, e ao outro, uma criação.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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segunda-feira, 11 de março de 2024

"O SENHOR LHES SUSCITOU LIBERTADOR"

"O SENHOR LHES SUSCITOU LIBERTADOR"

“Então, a ira do SENHOR se acendeu contra Israel, e ele os entregou nas mãos de Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia; e os filhos de Israel serviram a Cusã-Risataim oito anos. Clamaram ao SENHOR os filhos de Israel, e o SENHOR lhes suscitou libertador, que os libertou: Otniel, filho de Quenaz, que era irmão de Calebe e mais novo do que ele. Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual ele prevaleceu” (Jz 3.8-10).

Vemos que Otniel era sobrinho de Calebe. Calebe foi companheiro de Josué na conquista da terra prometida. Ele acreditou no poder de Deus. Deus o abençoou com grandes conquistas e vida longa.

Quando o povo de Israel chegou à fronteira da terra prometida, Moisés enviou 12 espiões para descobrir se a terra era boa ou ruim (Nm 13.1,2). Um deles foi Calebe, filho de Jefoné, da tribo de Judá.

Depois de 40 dias, os espiões voltaram com a notícia que a terra era boa e fértil, mas os povos que moravam lá eram muito fortes. Os outros espiões desanimaram o povo, mas Calebe acreditava que Deus lhes daria a vitória (Nm 13.30). Josué e Calebe tentaram animar o povo declarando que Deus tinha poder para lhes dar aquela terra, que mana leite e mel, mas o povo se rebelou contra Deus dizendo que apedrejassem Moisés, Arão Josué e Calebe (Nm 14.6-10).

Por causa dessa rebelião, Deus os castigou. Os israelitas adultos não entraram na terra prometida, foram todos penalizados com a morte, exceto Josué e Calebe (Nm 14.32-34). Deus abençoou Calebe com a promessa de herança aos seus descendentes (Nm 14.24).

Otniel, sobrinho de Calebe, foi personagem de uma nova geração em Israel. Deus o suscitou como libertador. Deus é quem levanta líderes, liderar é um dom de Deus. Otniel foi guerreiro de Deus, homem de fé. Ele foi cheio do Espírito do SENHOR para desempenhar poderosamente o ofício de juiz e libertador. “Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel; saiu à peleja, e o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual ele prevaleceu” (Jz 3.10). 

Deus nos abençoe!

Pr. José Rodrigues Filho

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terça-feira, 5 de março de 2024

“DEUS PROVA O SEU PRÓPRIO AMOR PARA CONOSCO”


“DEUS PROVA O SEU PRÓPRIO AMOR PARA CONOSCO”

“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).

“Deus prova o seu próprio amor”. O significado do verbo mais adequado aqui é o que indica confirmação. Não é o propósito do apóstolo Paulo despertar-nos para ações de graças, e, sim, estabelecer a confiança e a segurança de nossas almas. Deus, pois, confirma, ou seja, declara que o seu amor para conosco é muitíssimo sólido e verdadeiro, visto que não poupou a Cristo, seu próprio Filho, por amor aos ímpios. Nisto se manifestou o seu amor, ou seja, sem ser influenciado pelo nosso amor, ele nos amou mesmo antes de usar seu próprio beneplácito em nosso favor, como o apóstolo João mesmo nos diz [Jo 3.16]. O termo pecadores (como em muitas outras passagens) significa aqueles que são completamente corruptos e entregues ao pecado - veja-se João 9.31: (“Deus não ouve a pecadores”, ou seja: o ímpio e o culpado. A “mulher pecadora” significa uma mulher que vivia vida vergonhosa [Lc 8.37]. Isto surge mais claro ainda a partir do contraste que se segue imediatamente, ou seja. Muito mais agora, sendo justificados por seu sangue. Visto que Paulo contrasta estes dois elementos, e faz referência àqueles que são libertados da culpa de seu pecado, como sendo justificados, segue-se necessariamente que o termo pecadores significa aqueles que são condenados por suas ações perversas.

A súmula de tudo consiste em que, se Cristo obteve justiça para os pecadores, pela instrumentalidade de sua morte, então, agora, os protegerá muito mais da destruição assim que são justificados. Não teria sido suficiente que Cristo houvesse uma vez por todas granjeado a salvação para nós, se porventura não a mantivesse ilesa e segura até ao fim. Isto é o que o apóstolo agora assevera, declarando que não temos razão para temer que Cristo não conclua a concessão de sua graça destinada a nós antes que tenhamos chegado ao nosso predeterminado fim. Tal é a nossa condição, visto que ele nos reconciliou com o Pai, ou seja: que ele propôs estender sua graça a nós de forma mais eficaz e fazê-la aumentar dia a dia.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“QUANDO NÓS AINDA ÉRAMOS FRACOS”


“QUANDO NÓS AINDA ÉRAMOS FRACOS”

“Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5.6).

“Se Cristo teve misericórdia do ímpio; se reconciliou seus inimigos com o Pai; se realizou isto pela virtude de sua morte, então agora, muito mais facilmente, os salvará quando forem justificados, e guardará em sua graça àqueles a quem restaurou à graça, especialmente pelo fato de que a eficácia de sua vida é agora acrescentada à sua morte”. Há intérpretes que defendem a tese de que o tempo de fraqueza significa aquele período em que Cristo começou a manifestar-se ao mundo; e consideram aqueles que eram ainda fracos como aqueles que em sua infância [espiritual], viviam sob a tutela da lei. A expressão, contudo, sustento eu, se refere ao próprio cristão crente, e o tempo referido é o período que precede a reconciliação de cada um com Deus. Todos nós nascemos filhos da ira, e somos mantidos sob esta maldição até que nos tornemos partícipes de Cristo. Pela expressão, aqueles que são fracos, o apóstolo Paulo quer dizer aqueles que não possuem nada em si mesmos senão pecado, pois imediatamente a seguir ele os chama de ímpios. Não há nada fora do comum considerar fraqueza nesse sentido, visto que em 1Coríntios 12.22 ele chama as partes menos nobres do corpo de frágeis; e em 2Coríntios 10.10, ele chama sua própria presença física de fraca, visto não possuir qualquer dignidade. Quando, pois, éramos fracos, ou seja, quando éramos completamente indignos e desqualificados para merecermos a consideração divina, nesse mesmo tempo Cristo morreu em favor dos ímpios. A fé é o início da piedade, à qual eram estranhos todos aqueles por quem Cristo morreu. Isto é também válido para os antigos pais, os quais obtiveram justiça antes da morte de Cristo, pois este benefício eles o extraíram da morte do Cordeiro que ainda estava por vir.

Deus nos abençoe!

João Calvino (1509-1564).

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“VREUGDE VAN MIJN HART”

“VREUGDE VAN MIJN HART”

"Alegria do meu Coração"

Deus nos abençoe!