“CRIA EM MIM,
Ó DEUS, UM CORAÇÃO PURO!”
“Cria em mim, ó
Deus, um coração puro, e renova em meu íntimo um espírito reto” (Sl 51.10).
Na parte prévia
do Salmo, Davi orou por perdão. Ele agora solicita que a graça do Espírito, a
qual havia perdido, ou merecera haver perdido, fosse restaurada nele. As duas
solicitações são completamente distintas, ainda que às vezes confundidas mesmo
pelos homens de erudição. Ele passa do tema da remissão gratuita do pecado para
o da santificação. E para isso ele naturalmente foi impulsionado por ardente
ansiedade, ante a consciência de haver merecido a perda de todos os dons do Espírito,
e de os haver ele realmente, em grande medida, perdido. Ao empregar o termo, cria,
ele expressa sua persuasão de que nada menos que um milagre poderia efetuar sua
restauração, e enfaticamente declara que o arrependimento é um dom de Deus. Os
sofistas admitem a necessidade dos auxílios do Espírito, e concordam que a graça
assistente deve tanto vir antes quanto vir depois; mas ao designar um lugar
central para o livre-arbítrio humano, roubam a Deus grande parte de sua glória.
Davi, pelo termo que aqui usa, descreve a obra de Deus em renovar o coração de
uma maneira própria à sua extraordinária natureza, representando-o como a formação
de uma nova criatura.
Como Davi já
havia sido revestido com o Espírito, agora ora, na última parte do versículo,
para que Deus renovasse dentro dele um espírito reto. Pelo termo cria, porém, o qual
previamente empregou, ele reconhece que somos totalmente devedores à graça de Deus,
tanto por nossa primeira regeneração quanto, no ato de nossa queda, pela subsequente
restauração. Ele não assevera simplesmente que seu coração e espírito eram débeis,
demandando a assistência divina, mas que permaneceriam destituídos de toda pureza
e retidão até que estas fossem comunicadas do alto. Com isso se evidencia que
nossa natureza é inteiramente corrupta; pois possuísse a mesma alguma retidão
ou pureza, Davi não teria, como o fez neste versículo, chamado a um, um dom do
Espírito, e ao outro, uma criação.
Deus nos abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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