“SEPULTADOS COM CRISTO NA MORTE PELO BATISMO”
“Fomos, pois,
sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi
ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em
novidade de vida” (Rm 6.4).
O apóstolo Paulo
então começa mostrar o que está compreendido em nosso batismo na morte de
Cristo, embora não nos apresente ainda uma explicação satisfatória. O batismo
significa que, ao sermos mortos para nós mesmos, nos tornamos novas criaturas. Paulo
corretamente passa da comunhão na morte de Cristo para a participação de sua
vida. Visto que estas duas se acham inseparavelmente entrelaçadas, o nosso
velho homem é destruído pela morte de Cristo, a fim de que sua ressurreição
venha a restaurar nossa justiça e nos transforme em novas criaturas. E visto
que Cristo nos foi dado para a vida, por que devemos morrer com ele, senão que
ressuscitemos para uma vida melhor? Cristo, pois, expõe à morte o que é mortal
em nós, a fim de verdadeiramente restaurar-nos à vida.
Notemos além
do mais, que o apóstolo, aqui, não nos exorta simplesmente a imitar a Cristo,
como se nos quisesse dizer que a morte de Cristo é um exemplo apropriado para
que todos os cristãos o sigam. Indubitavelmente, ele tem em mente algo muito
mais elevado. Na verdade, Paulo está propondo uma doutrina que mais tarde usará
como base exortativa. Sua doutrina, como podemos claramente ver, consiste em
que a morte de Cristo é eficaz para destruir e subjugar a depravação de nossa
carne; e sua ressurreição, para renovar em nós uma natureza muito superior.
Também afirma que, por meio do batismo, somos admitidos à participação da sua graça.
Tendo lançado esta proposição básica, Paulo pode mui apropriadamente exortar os
cristãos a envidarem todo esforço para que vivam de uma forma que corresponda
ao seu chamamento. É irrelevante argumentar se este poder não se evidencia em
todos os que são batizados, porquanto, Paulo, visto estar falando a crentes,
conecta a realidade e o efeito com o sinal externo, segundo sua maneira usual
de argumentar. Pois sabemos que pela fé é confirmado e ratificado neles tudo
quanto o Senhor oferece por meio do símbolo visível. Em resumo, ele nos ensina
em que consiste a verdade do batismo quando corretamente recebido. Assim testifica
que todos os gálatas, os quais haviam sido batizados em Cristo, haviam se revestido
dele (Gl 3.27). Devemos usar sempre estes termos, pois jamais possuímos símbolos
nus e vazios, exceto quando nossa ingratidão e impiedade obstruem a operação da
divina munificência.
“Pela glória do Pai”. Ou seja:
pelo esplêndido poder por meio do qual ele declarou-se verdadeiramente glorioso
e exibiu a magnificência de sua glória. Por isso, o poder de Deus, na
Escritura, que se fez ativo na ressurreição de Cristo, é às vezes apresentado
em termos de muita sublimidade, e com sobejas razões. É de grande importância
que enalteçamos a Deus, fazendo menção explícita de seu incomparável poder, não
apenas por nossa fé na ressurreição final, a qual excede a toda e qualquer
percepção da carne, mas pelos demais benefícios que recebemos da ressurreição
de Cristo
Deus nos abençoe!
João Calvino
(1509-1564).
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