“AMARÁS O TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO”
Aquele que ama
concederá a cada pessoa o que lhe é de direito, não injuriará nem fará dano a
quem quer que seja, e, quanto lhe for possível, fará bem a todos. Haverá algo
mais para se cumprir na segunda tábua? Esse é também o argumento que o
apóstolo Paulo usa em Romanos. A palavra próximo inclui todas as pessoas
vivas. Pois estamos todos unidos por uma natureza comum, segundo nos lembra o
profeta Isaías: “que não desprezes o fulgor da tua carne” [Is 58.7]. A imagem
de Deus deve ser um vínculo de união especialmente sagrado. Por isso, aqui não
se faz qualquer distinção entre amigo e inimigo, pois os perversos não podem anular
o direito natural.
A frase, como
a ti mesmo, significa que, como cada pessoa é movida a amar a si
própria em obediência ao impulso da carne, assim o amor por nosso próximo nos é
imposto por Deus. Pois há os que subvertem e não interpretam as palavras do
Senhor, os quais inferem delas que o amor devido a nós mesmos é sempre o
primeiro quanto à ordem, porque quem é governado é inferior ao que governa.
Pois se o amor por nós mesmos fosse o governante, logicamente seria justo e
santo e aprovado por Deus. Mas jamais amaremos o nosso próximo sinceramente e
em consonância com o critério do Senhor enquanto não tivermos corrigido o amor
por nós mesmos. Os dois afetos são opostos e contraditórios; pois o amor [amor] por nós mesmos gera negligência e menosprezo pelos outros,
gera crueldade, é a fonte de avareza, de violência, de falsidade e de todos os
vícios afins, nos compele à impaciência e nos arma com o desejo de vingança. O
Senhor, portanto, requer que ele seja mudado para caridade.
Deus nos
abençoe!
João Calvino (1509-1564).
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